O PT vive um momento de perplexidade com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. É um sentimento que não se circunscreve à cúpula nacional do partido, temerosa dos efeitos que o atoleiro de popularidade do petista pode ter sobre as campanhas de Dilma Rousseff e Alexandre Padilha.
A preocupação se espraia pela Câmara Municipal e deságua no próprio secretariado de Haddad. É como se faltasse aos companheiros de partido um manual de instruções para entender o estilo do prefeito.
Vereadores e secretários se exasperam com o que chamam de profunda desconexão entre o prefeito e o dia a dia da cidade. A praxe política dita que governantes em baixa com a população frequentem espaços públicos e festas de comunidades ou temáticas nos fins de semana e prestigiem eventos políticos de aliados.
Haddad não faz nada disso. Não esconde o aborrecimento com esse rame-rame da política municipal, na qual entrou pela mão de Lula um ano antes de ser eleito para comandar a mais complexa cidade do Brasil.
Os fins de semana e as noites são reservados à família, costuma dizer Haddad. Muito compreensível para um acadêmico da USP de classe média alta. Mas para o partido, que depende da recuperação da imagem do prefeito para girar uma complicada engrenagem eleitoral, essa delimitação de espaço soa a blasfêmia.
O Bilhete Único Mensal foi uma das mais importantes bandeiras de campanha do petista. O transporte público, como se sabe, foi o estopim que acendeu as revoltas de junho. O PT esperava um lançamento do cartão com estardalhaço. Veio um anúncio acanhado, protocolar.
Haddad costuma dizer que faz "o que tem de ser feito" na cidade, ainda que os efeitos colaterais lhe custem a reeleição, e que seu governo será reconhecido no futuro.
O PT, que já viu esse filme com Luiza Erundina, ainda espera uma intervenção divina (lulista) para que alguma reação comece a vir antes.
05 de dezembro de 2013
Vera Magalhães, Folha de São Paulo
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