As duas grandes tentações, quando se escreve um último artigo do ano sobre economia, são a do balanço e a da previsão.
Um balanço realmente útil não é, porém, o dos números e desempenhos, e, sim, o dos erros e acertos. Quanto à previsão, é geralmente tão inútil quanto equivocada, como as que têm vitimado nosso ministro Mantega quando cai na armadilha. Não vamos entrar nela. Nem na outra, a do balanço dos números ou dos acertos e erros.
Mas o que se pode dizer sobre a economia, nacional e mundial, quando se está na boca de um túnel pouco iluminado? Dá para enxergar alguma coisa nos primeiros metros, mas praticamente nada além da metade. E menos ainda como termina.
Um dos fatos relevantes que se veem com nitidez, mesmo sem vislumbrar seus desdobramentos, é a eleição presidencial na segunda metade do túnel de 2014. Isso no front interno. No front externo, o fato mais próximo - pode estar nos jornais de hoje - é o desmonte da lassidão monetária que o banco central americano implementa há algum tempo.
Essas duas coisas terão influência, de várias formas, em nossa economia ao longo do ano que entra.
E o que é que a economia brasileira precisa pedir ao Papai Noel neste Natal?
Uma boa aceleração do seu crescimento, impulsionado não mais pela euforia do consumo, e, sim, pela euforia dos investimentos. Sim, porque daqui por diante não se trata mais de aumentar empregos e renda mediante aumento das vendas do comércio. Isso já está se esgotando, se é que não se esgotou. O que o País precisa agora é do aumento do emprego e da renda na área da produção, principalmente industrial, e dos serviços. É isso que cria, de fato, o desenvolvimento sustentável, e não apenas uma sensação de bem-estar.
O governo Lula foi um período de bem-estar temporário. Favorecido pela economia internacional, pôde promover aumentos de salários, de empréstimos, de renda, etc., por meio de leis ou medidas administrativas simplesmente.
Outra coisa, bem mais difícil, é convencer os investidores, estrangeiros e nacionais, a investir pesadamente para promover a mesma coisa de forma mais permanente e estável: aumento do emprego, da folha de salários, da produção, da renda, dos recolhimentos para o INSS e o FGTS, para o Imposto de Renda, etc. Esse é o desafio ao longo do túnel do ano de 2014.
Nossa presidente Dilma entra em 2014 carregando um triênio de baixo crescimento da economia. Provavelmente, uma das médias mais baixas de um período de três anos. Por conseguinte, tem de tentar aumentar bastante o PIB em 2014 para melhorar a média do seu primeiro mandato. E não só para isso.
Como ela faz questão de ser reeleita, para reforçar o famoso projeto de poder do seu aguerrido partido, significa que terá de terminar bem melhor o primeiro mandato, em todos os aspectos, para poder entrar com o pé direito no segundo. Aí, sim, poderá reformar a casa da economia pelos alicerces, e não pelas lantejoulas e lustres de cristais. Lula criou uma classe média que pôde comprar geladeiras, máquinas de lavar, carros e até casas. Agora essa nova classe média está querendo mais e melhores empregos, mais e melhor ensino, mais segurança, melhor futuro para os filhos e para o País. Isso, só com empregos de melhor qualidade, mais estáveis e de mais futuro.
Aspirações que só serão atendidas com aumento substancial da Formação Bruta de Capital Fixo (perdão pelo economês) em indústrias, tecnologias, ensino. Ou seja, depende de um grau de confiança dos investidores que Dilma não conseguiu conquistar e até insistiu em perder.
Parece que se deu conta disso e tem feito algum esforço recente para mudar o estilo. Terá um ano para provar. Ou entrará perdedora num segundo mandato, mesmo que vitoriosa nas urnas de outubro.
19 de dezembro de 2013
Marco Antônio Rocha, O Estado de S. Paulo
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