Artigos - Cultura
Estes bens seriam, em ordem crescente, a saciedade e a integridade física, o prazer, a liberdade e o conhecimento da Verdade. São bens fundamentais, não porque o escrevinhador destas linhas assim o quer. O são porque todo ser humano se pudesse tê-los numa porção imensurável não faria nenhuma objeção. Saúde plena e corpo sarado, gozo indescritível, liberdade sem tramelas e compreensão fácil e rápida de todo e qualquer assunto são bens que, todo ser humano, em sã consciência, considera desejáveis.
Entretanto, não podemos ter todos esses bens ao mesmo tempo e o tempo todo por razões óbvias. Aliás, tendemos a centrar nosso coração num destes bens tornando-o, inevitavelmente, o centro ordenador de nossa pessoa. Por isso, em nome dum bem, sacrificamos os outros.
Ao realizarmos essa escolha limitamos, queiramos ou não, o campo de nossa ação. E isso ocorre porque o objeto de nosso desejo torna-se o limite da realização de nossa humanidade. E é aí que a porca torce o rabo.
Quanto mais ascendemos nesta escala, mais amplo é o nosso círculo de possibilidades. Quanto mais restringimos nossa existência a primeira e a segunda esfera, mais nos tornamos fragilizados.
Resumindo: um indivíduo que tem como centro de sua personalidade o terceiro e quarto bem, não é objeto passivo das forças externas que o circundam. Já um indivíduo que tem como pedra angular de sua vida o primeiro e o segundo, inevitavelmente, torna-se um sujeito de fácil manipulação e controle.
A razão disso é muito simples. Uma pessoa que faz de sua integridade física o centro pulsante de sua personalidade é uma criatura que vive, em maior ou menor medida, assustada com a possibilidade de perder o seu tesouro, dispondo-se, tranquilamente, a sacrificar o seu prazer, liberdade e o conhecimento da verdade para preservá-lo. Exemplo: as loucuras que certas pessoas fazem para manter seu corpinho, as sandices que realizam para ter uma imagem jovial prolongada. Tudo, tudinho, em nome do primeiro bem. Quanto à segunda esfera, deixemos para outra ocasião.
Por fim, não há dúvidas que uma vida imersa numa esfera como essa possui uma compreensão ínfima da realidade, por isso, de fácil manipulação. Não é por acaso que a sociedade contemporânea cultua tanto esse bem. Não é por menos que temos tantas publicações e programas televisivos que exaltam o bem-estar físico e a boniteza superficial. Não é à toa que a sociedade brasileira está cada vez mais assemelhada a uma mistura híbrida, e patética, das ovelhinhas da fazenda animal da fábula de George Orwell com os pacatos cidadãos da distopia de Aldous Huxley.
19 de dezembro de 2013
Dartagnan da Silva Zanela
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