Meados do século XVI, alguém tinha que vir explorar a nova terra. Quem veio? Bandidos, estupradores, ladrões, assassinos, enfim, gente que não tinha nada a perder. Gente que não queria conquistar a dignidade senão apenas conseguir as coisas a qualquer custo.
Essa é a herança que temos dos primeiros desbravadores do continente americano. Uma associação de pessoas nada cultas, com seus conceitos únicos de ética e principalmente interesseiras sem limite.
Daí se soma a chegada de escravos que foram tirados das suas famílias, suas terras, e principalmente da sua cidadania e carregam um ódio social por todos os séculos de sofrimento que a eles lhes foi proporcionado.
O Brasil se transforma da terra da esperteza, na terra do jeitinho, na terra da sobrevivência a qualquer custo. Mentir é uma virtude, passar a perna no outro é um talento. Somos alegres não por natureza, mas porque a natureza nos faz cínicos diante dos outros.
Já no século XIX, uma crise europeia e as guerras propicia a chegada de imigrantes das mais diversas nações e culturas que passaram a descobrir formas e oportunidades nesta terra dos espertos. Uma característica fundamental dessa migração era a ressurreição da dignidade mediante o trabalho. Passamos a construir um país e constituir regras econômicas, sociais e políticas.
Então chegamos ao século XXI. E as nossas raízes fundamentais voltam a se fortalecer mostrando que somos, no geral, um povo que pensa sempre em passar a perna no outro.
Pessoas que preferem viver na mediocridade ao invés da meritocracia. É valorizada a ignorância com havaianas nos pés ao invés do intelecto descalço. A preguiça como pecado capital foi substituído por um cartão bolsa qualquer coisa. A dignidade de criar valor agregado ao próprio esforço foi colocada no lixo ao saber que quem faz menos tem mais vantagens.
Somos realmente um país de vagabundos, acomodados e espertos, ou apenas queremos aparentar isso pois nos faz sentir de alguma forma superior aos outros a fim de esbanjar a arrogância do verde amarelo?
Já fui chamado de comunista, mas na real, mal interpretado. Não gosto de definições sociais exatas, porque elas não existem de fato. Acredito que quando existe esforço ele deve ser recompensado e que não há nada mais digno do que dizer: “eu paguei com meu suor”. E nada pior em saber que vivemos numa realidade social e política em que os brindes falam mais alto.
29 de dezembro de 2013
Fabrizio Albuja é Jornalista e Professor Universitário.
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