Os problemas de desenvolvimento no Brasil, porém, vão muito além de ter um ano melhorzinho
FEITA A SURPRESA, a de um jornalista de economia dizer algo otimista, façamos logo a ressalva antes de continuar: 2014 pode ser melhor do que 2013, sim, e daí?
Sob um certo aspecto, até 2013 terá sido melhor que 2012. O PIB deve crescer uns 2,3%. Em 2012, cresceu 1%. Desarranjos, excessos, erros e omissões acumulados em 2013, porém, serão purgados ainda por alguns anos.
Para não estragar toda a surpresa, no entanto, voltemos antes a passear pelo lado mais agradável das probabilidades.
Suponha-se que o governo passe a limpo algumas das bobagens que vinha fazendo, como parece ter prometido. Suponha-se que a mudança na política econômica americana não seja sobressaltada.
Caso o governo seja um bom menino, haverá menos incerteza, com o que as empresas ficam menos inseguras de investir.
O câmbio está mais desvalorizado (está mais caro importar). O efeito positivo da desvalorização leva um tempo para aparecer. Pelos calendários astrais da econometria, o dólar mais caro ajudaria a indústria nacional em 2014.
A transição na economia americana pode ser acidentada, mas é transição apenas porque, em tese, a economia deles vai crescer mais. O mundo inteiro, parece, vai consumir um pouco mais no ano que vem, o que dá um alento para nossos preços e produtos.
Depois de anos de tropeços, acidentes e atrasos, parece que a produção da Petrobras enfim vai começar a aumentar. Alguns investimentos em obras de infraestrutura vão começar, pouca coisa em 2014, é verdade, mas alguma coisa.
A estimativa média de crescimento é de 2% em 2014. Por ora, parece a mais razoável. Se vierem besteira do governo e acidentes na finança do mundo, podemos crescer 1%. Se tudo der certo, podemos ir a uns 3%.
Porém, esse não é o debate principal. Fizemos besteira grave e perdemos muito tempo nos últimos cinco anos. O conserto vai levar ao menos outros dois. Ainda assim, vamos ter de trocar o "modelo" da carruagem.
Primeiro, sendo o Brasil ainda pobrinho e de desigualdade exorbitante e repulsiva, a economia precisa crescer pelo menos a uns 4% por ano para que a gente não tenha de esperar até as calendas do infinito para ver menos pobreza e sofrimento.
Segundo, crescer 3% em 2014, além de pouco, não é indicativo de retomada. A gente dá atenção demais ao curto prazo, a como apertar tal ou qual botão para fazer a economia dar uma aceleradinha, sintonia fina que de resto é difícil de acertar.
Terceiro, a economia tem limitações evidentes: escassez de recursos (trabalho e investimento em capital), produtividade baixa. Melhorias sociais e de infraestrutura devem ajudar a elevar a eficiência nos anos por vir. Mas pouco. A gente precisa mexer em muita coisa, fazer "reformas" (que não são apenas a da receita "liberal"), a fim de acelerar o crescimento de modo duradouro. Isso não é apenas lenga-lenga, apesar da chatice cediça.
Isto posto, com ou sem reformas, crescer 3% é, bidu, melhor que 2%. A não ser que o governo e nós assim passemos a achar que "o pior já passou". O pior está sempre à espreita, para dar o bote.
Não é uma mensagem perfeita de Ano Bom. Mas é o que dá para fazer.
29 de dezembro de 2013
Vinicius Torres Freire, Folha de São Paulo
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