Punir escalações irregulares com a perda de três pontos além dos conquistados é rigor exclusivo do Brasil
É provável que a queda da Portuguesa no STJD não fique como está. É de se imaginar guerra de liminares na Justiça Comum. Mais gols de advogados num assunto que deveria ser definido por centroavantes.
Mesmo quem tentou fazer valer a ideia de que só há uma verdade no caso Flu x Portuguesa sabe que é legítimo ter interpretações diferentes.
Se o Estatuto do Torcedor é soberano ou se o CBJD prevalece é tão discutível que houve posições dos dois tipos nas duas últimas semanas. De jornalistas, advogados, promotores, auditores...
Não pode ser assim.
É indispensável parar de punir os campeonatos. Se um torcedor fere, o próximo jogo acontecerá a 100 km de distância ou com portões fechados. E terá confusão de novo.
Punir escalações irregulares com a perda de três pontos além dos conquistados em campo é rigor exclusivo do Brasil. Que se percam os pontos ganhos no jogo irregular. Só!
A decisão pró-Fluminense é discutível, mas não é arbitrária. A Lusa vacilou. Ser rebaixada porque escalou Héverton é rigor excessivo e pode até ter sido sacanagem! Mas se Héverton não jogasse não haveria chance de mudar o resultado.
Para o Brasileiro, qualquer decisão agora é derrota. É preciso mudar o código. Chega de punir o campeonato por erros de clubes. Ou a cada dia haverá mais brasileiros torcedores do Barcelona e menos do Flamengo.
PRECISA-SE DE REFORÇOS
Lembro até hoje do meu velho avô Alexandrino relatar a agonia de sua juventude na entressafra do futebol. Contava que a saudade doía a partir de maio, quando o Campeonato Português terminava, até agosto, início da temporada seguinte.
Já no Brasil, quando seu neto de 13 anos disputava os jornais da casa para saber das contratações de dezembro, o velho Alexandrino fazia questão de diminuir a expectativa: "Daqui a umas semanas, vão estar todos a dizer que precisam de reforços."
Lembro disso no verão de 1983. São Paulo e Palmeiras disputavam Careca, do Guarani, o Santos comprava Chulapa, do São Paulo, e Paulo Isidoro, do Grêmio, o Atlético-MG contratava Everton, ex-São Paulo.
O velho Alexandrino parece premonitório quando se olha o mercado atual. Fala-se sobre reforços o ano inteiro e, diferente do futebol europeu, que contrata no verão e conserta o elenco no inverno, aqui há sempre um álibi para um novo nome.
O mercado de dezembro foi miúdo por isso e porque não há quem contratar. A novidade são os estrangeiros, até cinco por clube. Lembramos do sucesso de Tévez e Lugano, mas houve Gioino no Palmeiras, Henao no Santos, Acosta no Corinthians. O risco é diminuir o espaço para jovens brasileiros sem aumentar a qualidade dos sul-americanos.
Se você ouvir em março que seu clube precisa de reforços, lembre do trabalho mal feito no fim de dezembro. Eu vou me lembrar de meu avô.
É provável que a queda da Portuguesa no STJD não fique como está. É de se imaginar guerra de liminares na Justiça Comum. Mais gols de advogados num assunto que deveria ser definido por centroavantes.
Mesmo quem tentou fazer valer a ideia de que só há uma verdade no caso Flu x Portuguesa sabe que é legítimo ter interpretações diferentes.
Se o Estatuto do Torcedor é soberano ou se o CBJD prevalece é tão discutível que houve posições dos dois tipos nas duas últimas semanas. De jornalistas, advogados, promotores, auditores...
Não pode ser assim.
É indispensável parar de punir os campeonatos. Se um torcedor fere, o próximo jogo acontecerá a 100 km de distância ou com portões fechados. E terá confusão de novo.
Punir escalações irregulares com a perda de três pontos além dos conquistados em campo é rigor exclusivo do Brasil. Que se percam os pontos ganhos no jogo irregular. Só!
A decisão pró-Fluminense é discutível, mas não é arbitrária. A Lusa vacilou. Ser rebaixada porque escalou Héverton é rigor excessivo e pode até ter sido sacanagem! Mas se Héverton não jogasse não haveria chance de mudar o resultado.
Para o Brasileiro, qualquer decisão agora é derrota. É preciso mudar o código. Chega de punir o campeonato por erros de clubes. Ou a cada dia haverá mais brasileiros torcedores do Barcelona e menos do Flamengo.
PRECISA-SE DE REFORÇOS
Lembro até hoje do meu velho avô Alexandrino relatar a agonia de sua juventude na entressafra do futebol. Contava que a saudade doía a partir de maio, quando o Campeonato Português terminava, até agosto, início da temporada seguinte.
Já no Brasil, quando seu neto de 13 anos disputava os jornais da casa para saber das contratações de dezembro, o velho Alexandrino fazia questão de diminuir a expectativa: "Daqui a umas semanas, vão estar todos a dizer que precisam de reforços."
Lembro disso no verão de 1983. São Paulo e Palmeiras disputavam Careca, do Guarani, o Santos comprava Chulapa, do São Paulo, e Paulo Isidoro, do Grêmio, o Atlético-MG contratava Everton, ex-São Paulo.
O velho Alexandrino parece premonitório quando se olha o mercado atual. Fala-se sobre reforços o ano inteiro e, diferente do futebol europeu, que contrata no verão e conserta o elenco no inverno, aqui há sempre um álibi para um novo nome.
O mercado de dezembro foi miúdo por isso e porque não há quem contratar. A novidade são os estrangeiros, até cinco por clube. Lembramos do sucesso de Tévez e Lugano, mas houve Gioino no Palmeiras, Henao no Santos, Acosta no Corinthians. O risco é diminuir o espaço para jovens brasileiros sem aumentar a qualidade dos sul-americanos.
Se você ouvir em março que seu clube precisa de reforços, lembre do trabalho mal feito no fim de dezembro. Eu vou me lembrar de meu avô.
29 de dezembro de 2013
Paulo Vinicius Coelho, Folha de SP
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