(Livro: “A Farsa dos Espíritas” por Milton Valdameri)
Bom, eu vou dar uma de crítico literário, mas acrescento que não é a minha especialidade. Vai ser apenas uma opinião muito pessoal e sem rasgação de seda, apesar do Milton Valdameri, o autor do livro em questão, ser um grande amigo aqui da internet desde os tempos do falecido Observador Político.
*O mais importante eu esqueci, mas faço questão de colocar nesse adendo: Milton Valdameri frisa muito bem na introdução que o livro não trata da existência de espíritos, de comunicações deles com os vivos, de encarnações ou de Deus, portanto, o tema é puramente a parte documental - o que foi escrito e o que deixou de ser, em relação ao kardecismo. E sou testemunha disso pelo privilégio que tive de ler o livro antes da maioria dos mortais.
29 de dezembro de 2013
Bom, eu vou dar uma de crítico literário, mas acrescento que não é a minha especialidade. Vai ser apenas uma opinião muito pessoal e sem rasgação de seda, apesar do Milton Valdameri, o autor do livro em questão, ser um grande amigo aqui da internet desde os tempos do falecido Observador Político.
Não esperem de mim coisas como “o poeta trabalha na dobra: um conhecer que é, ao mesmo tempo, desconhecer”, como escreveu ontem o crítico José Castello ao se referir à obra de Mário Quintana, seja lá o que isso quiser dizer. Não sou chegado a firulas nem a encher linguiça.
Para começo de conversa, “A Farsa dos Espíritas” é muito específico, pois trata da vida e da obra de Allan Kardec, ou melhor, da desconstrução de ambas, mostrando uma vida e uma doutrina que foram embasadas em erros sobre erros, a começar pela ligação íntima que Kardec teria tido com Johann Heinrich Pestalozzi, o notável educador pioneiro de uma grande reforma educacional. No caso, Kardec, aliás, Hippolyte Léon Denizard Rivail, chega a ser tratado por alguns biógrafos como um geninho que teria até mesmo substituído Pestalozzi na direção de sua escola de Yverdon, na Suíça, onde Kardec estudava, coisa meio impossível, já que, segundo consta, Kardec deixou a escola em 1822, com apenas 18 anos, estabelecendo-se em Paris. Na verdade tal ligação entre ambos nunca ocorreu, como Milton comprova ao analisar várias correspondências e documentos de Pestalozzi.
O livro passa também pela fascinação à primeira vista, em 1854, de Kardec pelo “fenômeno” das mesas girantes, bastante difundido à época, como objeto de curiosidade e divertimento, em especial nos salões nobres e burgueses europeus, e virou habitué de tais convescotes. Por delírio ou esperteza (ou ambos), Kardec resolveu que aquilo era obra de espíritos, tal como a psicografia, que também havia conhecido recentemente e elaborou o Livro dos Espíritos, uma baboseira inacreditável e contraditória em si mesma, já que Kardec desce o pau na Ciência quando lhe convém e apela para ela da mesma maneira, na maior cara de pau.
E esse foi, para mim, o grande erro de Kardec: se ele tivesse se limitado a afirmar suas bobagens sem tentar explicá-las através da razão, batendo de frente com a Ciência e com a Lógica, o kardecismo (ou espiritismo) passaria impune como apenas um questão de fé e não compraria uma briga impossível de ser vencida.
Milton, nesse sentido, faz também uma análise minuciosa do aspecto doutrinário do kardecismo através das obras de Kardec, apontando suas inúmeras impossibilidades e absurdos, para, no final, relatar e comentar um processo contra os espíritas, mais precisamente os responsáveis pela divulgação e venda de fotos supostamente mediúnicas. Farsa provada, deu cana para três. Ficou barato.
Se meu interesse por alguma coisa serve como parâmetro, eu digo que um sintoma particular de que um livro é interessante é a minha velocidade de leitura - no “Inferno” do Dan Brown eu demorei duas semanas para ler cem páginas, e desisti -, e eu li as 311 páginas de “A Farsa dos Espíritas” de um fôlego só, em quatro horas. Como eu disse antes o livro é específico e eu gosto do tema, mas mesmo para quem gosta menos do assunto, é uma leitura perfeitamente palatável.
*O mais importante eu esqueci, mas faço questão de colocar nesse adendo: Milton Valdameri frisa muito bem na introdução que o livro não trata da existência de espíritos, de comunicações deles com os vivos, de encarnações ou de Deus, portanto, o tema é puramente a parte documental - o que foi escrito e o que deixou de ser, em relação ao kardecismo. E sou testemunha disso pelo privilégio que tive de ler o livro antes da maioria dos mortais.
Mas, já que nem tudo são flores, há três coisas que, embora não comprometam significativamente a obra, precisam ser registradas.
A primeira são os erros de digitação. Não, não são erros gramaticais, mas em muitos trechos há a falta ou excesso de caracteres, típicos da pressa.
A segunda é o excesso de referências a sites, o que polui o texto desnecessariamente, dados que podem perfeitamente ser mencionados nos pés das páginas ou no final dos capítulos.
E o terceiro é um certo exagero na documentação que, ao mesmo tempo que dá credibilidade à obra, pode ser um motivo para o desinteresse do leitor que não é muito afeito ao tema. Quanto a isso, eu lembro do livro do Jô Soares, “Xangô de Baker Street”, que eu deixei de lado por causa do começo, cheio de referências documentais - onde o Jô chegou ao requinte desnecessário de dar o número de pedras gastas para o calçamento de uma rua do Rio de Janeiro antigo -, até que uma amiga me recomendasse ler da página tal para frente.
No mais, meus parabéns ao Milton Valdameri pela pesquisa refinada e pela obra em si.
29 de dezembro de 2013
Ricardo Froes
P.S.: Milton, você fica devendo uma continuação com dois assuntos que eu acho que fazem parte: um é a, vamos dizer, mecânica do espiritismo, ou seja, como, quando e por quê se dão as “incorporações” dos espíritas, e o outro é sobre como o espiritismo chegou ao Brasil e por que ele sumiu da França.
Abração
29 de dezembro de 2013
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