Numa época em que os governos, inclusive o nosso, não fazem outra coisa exceto se espionar --e em que cada e-mail, telefonema ou mensagem pode ser gravado, lido, cheirado, ouvido e bisbilhotado--, a Polícia Federal levou quatro meses para rastrear 130 "black blocs", suspeitos de incitar a violência, desafiar a polícia e promover a destruição de bens públicos e privados.
Não que, desde o começo, os "black blocs" não fornecessem farto material de escuta e análise --afinal, passam o dia nas "redes sociais" tramando ações e depredações. Foram precisos muitos prédios danificados, agências bancárias invadidas, orelhões e lixeiras arrancados de seus postes e, agora, ônibus e caminhões incendiados, para que os órgãos de inteligência começassem a levantar o perfil de pessoas ligadas a tais atos.
Para alguns, uma surpresa nesse perfil será o desprezo dos "black blocs" pelos manifestantes que eles simulam apoiar --na forma de hostilidades contra sindicalistas, estudantes e jornalistas. Mas será uma surpresa?
Para os "black blocs", o objetivo é criar o máximo de tumulto em cada manifestação, contando com reações desastradas da polícia e, com isso, gerar pretextos para mais "protestos". Uma balbúrdia reprimida, por exemplo, em São Paulo, com prisões e pancadaria, será respondida no Rio, em Curitiba, Brasília ou Porto Alegre. E sabe-se agora que eles se comunicam e se instruem até internacionalmente --ou seja, já não há inocentes ou românticos em suas fileiras.
Há duas semanas, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, por precaução, cancelou uma palestra que daria num centro cultural no Leblon. Havia "black blocs" nas proximidades. O que significa: o homem que costuma pôr o tráfico para correr teve de curvar-se à ação desses inesperados --já não há outra palavra-- neonazistas.
11 de novembro de 2013
Ruy Castro, Folha de São Paulo
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