Ou: O caso Siemens e o petista escondido com o petismo de fora
No Brasil, paga-se um preço pessoal a cada dia mais elevado por
a) não se alinhar com a esquerda;
b) não ser petista;
c) não integrar certa aristocracia da opinião, em que só é possível haver discordância entre os que concordam. Se você não é um deles, então tem de ser destruído, chutado. Se escolherem o cão como metáfora para designá-lo, naturalmente não será um beagle…
A “direita”, como eles dizem, rosna. Eles, que são herdeiros intelectuais de humanistas como Stálin, Mao e Fidel, bem, eles são uns fofos… Isso um dia passa? Pode ser, mas não é certo. As elites intelectuais de países podem estrar em espirais negativas e não sair nunca mais. Vejam o caso da Argentina. Entre o peronismo (e seus derivados) e gorilas assassinos, pereceu a razão. E fim de papo.
Vocês vão entender daqui a pouquinho por que faço essa introdução bastante genérica e, ao mesmo tempo, muito específica. No dia 5 de agosto, escrevi um post sobre o tal Vinicius de Carvalho, chefe do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que apura a formação de cartel na compra de trens em São Paulo. Parecia evidente que algo por lá não caminhava de forma republicana. Aquele texto trazia um vídeo sobre o dia em que tomou posse, que segue abaixo de novo.
Retomo
Escrevi, então, o que vai em azul.(…)
Notem a sua [de Vinicus] verdadeira devoção a um outro Carvalho, o Gilberto. A proximidade é de tal sorte que, rompendo com o protocolo, trata o ministro como “você”. Trata-se, mesmo, de uma relação de profunda amizade; (…)
Por que um chefe do Cade recorre a esse tom laudatório para se referir ao “engajamento” de um ministro? “O que você está querendo dizer com isso, Reinaldo?”
Nada de muito misterioso: um órgão técnico como o Cade não poderia, parece-me, estar sujeito a esse tipo de sotaque político. Não é preciso ser um gênio da raça para que se perceba a óbvia influência de Carvalho, o Gilberto — braço operante de Lula no Planalto —, na autarquia.
(…)
(…)
É evidente que o vazamento obedece a um propósito político. Sem que a investigação seja tornada pública, a coisa fica como o PT e o diabo gostam, não é mesmo? A suspeita recai genericamente sobre os “tucanos” e suas sucessivas gestões no estado.
Nestes dias em que qualquer grupinho de 20 para a Paulista, o objetivo é fornecer combustível aos protestos de rua em São Paulo. E justamente na área que está a origem das mobilizações de rua: transporte público.
A turma não brinca em serviço. E olhem que o jogo mal começou.
A turma não brinca em serviço. E olhem que o jogo mal começou.
Volto a 11 de novembro de 2013
É claro que apanhei mais do que cão sarnento — nem beagle nem rottweiler. “Está querendo ajudar os tucanos… Está defendendo não sei quem…” Não! Pedia, como sempre, cana a quem rouba dinheiro público. Só não endossava que um órgão de estado servisse a um partido político.
Depois daquele texto, descobriu-se que que Carvalho tinha sido funcionário do deputado petista Adriano Diogo, que está na raiz da denúncia (leia reportagem) e que continuava filiado ao PT. Tinha omitido tudo isso de seu currículo. Leiam, agora, o que informa Gabriel Castro, na VEJA.com. Volto para encerrar.
*
Presidente do Cade recebe advertência da Comissão de Ética Pública
A Comissão de Ética Pública da Presidência da República decidiu, nesta segunda-feira, aplicar pena de advertência a Vinicius Marques de Carvalho, presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O colegiado considerou que Carvalho agiu de forma inadequada porque, ao assumir o cargo, não se desfiliou efetivamente do PT, conforme revelou o site de VEJA. Além de ter omitido sua filiação partidária, o presidente do Cade escondeu do currículo o fato de ter assessorado o deputado federal Vicente Cândido (PT-SP).
O episódio ganhou importância quando o Cade vazou documentos sobre o cartel nas obras e licitações do metrô de São Paulo – um caso com potencial de prejuízos políticos para o PSDB. A Comissão de Ética considerou que, mesmo após ter pedido ao PT que o desfiliasse, como Carvalho alega ter feito, seria preciso assegurar que o procedimento havia sido realizado – o que não aconteceu.
“Vamos imaginar que amanhã ele [presidente do Cade] queira ou alguém o convide para ser ministro do Supremo. Sabe-se que uma das condições é ter reputação ilibada. Será que ele terá depois de uma advertência? É o que eu pergunto. Por enquanto, não respondo nada. Porque isso vai depender do tempo. É uma mancha, sem dúvida nenhuma”, disse Américo Lacombe, presidente do colegiado.
Retomo
Atenção! Se ficar comprovada safadeza na compra dos trens, que se punam os culpados, pouco importa a sua coloração partidária. Isso, no entanto, não dá ao PT o direito de transformar o Cade num braço da polícia política do partido.
Desde sempre, e é preciso insistir nesta questão, é um absurdo que as investigações sobre a atuação da Siemens se limitem a São Paulo e ao Distrito Federal (antes de ser governado pelo PT, é claro!).
Se tudo se faz em razão de um “acordo de leniência”, cabe perguntar:
a) o Cade investiga só o que a Siemens quer?;
b) o Cade investiga só o que é útil ao governo federal?;
c) as duas alternativas anteriores estão corretas?
Eis aí: até para os padrões da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, a atuação do sr. Vinicius de Carvalho pareceu imprópria. Os petralhas que encheram de ofensas a área de comentários devem agora enviá-las à comissão.
11 de novembro de 2013
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