Além das fronteiras – O mau momento econômico por que passa boa parte da Europa chamou a atenção de investidores brasileiros.
A crise desencadeada em alguns países do bloco serviu de sinal para que eles apostassem na compra de imóveis do outro lado do Atlântico como uma opção de negócio rentável.
Entre os locais mais procurados estão Portugal e Espanha, que enfrentam dificuldades econômicas e sofrem com o desaquecimento do mercado interno.
De acordo com o Banco Central, o número de imóveis no exterior aumentou nos últimos anos. O patrimônio imobiliário de brasileiros em outros países era de US$ 3,6 bilhões em dezembro de 2011 e saltou para US$ 4,6 bilhões no término de 2012 – crescimento de 28%. A expectativa é que o montante seja ainda maior ao fim deste ano. O BC não possui as dados compilados por país, apesar da obrigatoriedade de declaração.
“Os brasileiros passaram a ver os imóveis na Europa como uma oportunidade de investimento. Eles compram e, posteriormente, alugam para os próprios moradores, que, por conta da crise, só têm dinheiro para o aluguel. Ou também para estudantes”, confirma Rodrigo Gomes, diretor da imobiliária Century 21 Max, do Rio de Janeiro. “É possível tirar o investimento só com o valor do aluguel”, acrescenta.
A imobiliária passou a ofertar imóveis no mercado europeu há apenas quatro meses, depois de uma análise da concorrência local. Apesar de a decisão ser recente, os resultados já são considerados satisfatórios, diz o diretor. “No Rio de Janeiro há uma ausência de empresas que trabalhem com o mercado europeu, e identificamos que havia procura. Em quatro meses de atuação fechamos quatro negócios”, ressalta Gomes.
O perfil do investidor brasileiro interessado na aquisição de imóveis no bloco europeu é o mesmo daquele que invadiu os Estados Unidos em 2008, auge da crise que arrasou o mercado imobiliário local. Na época, a desvalorização vivenciada pelos americanos fez com que os imóveis ficassem entre 30% e 40% mais baratos do que as ofertas no Brasil.
Agora, o mesmo efeito se dá no mercado dos países em crise na Europa. Na Espanha e Portugal, por exemplo, a desvalorização foi, em média, de 10%. Hoje é possível comprar um apartamento com dois dormitórios na região central de Lisboa, próximo da faculdade, por 70 mil euros.
“O primeiro grupo que apostou nos Estados Unidos era formado por empreendedores mais arrojados. Agora há uma segunda onda de investidores comuns, que estão indo para lá sabendo que vão ter rentabilidade. As pessoas do primeiro grupo estão em processo de migração para os mercados em crise da Europa. Essa é a percepção do setor”, afirma Jean Michel Galiano, diretor da rede de imobiliárias Apolar.
Ainda segundo Galiano, o assunto é debatido em todos os encontros da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário (ABMI), que reúne 25 grandes imobiliárias brasileiras.
Apesar do evidente aumento na procura por imóveis em países da Europa, as localizações no exterior mais procuradas pelos investidores brasileiros continuam sendo Miami e Orlando, no estado da Flórida, nos Estados Unidos.
Segundo Gomes, da Century 21 Max, apesar da recuperação parcial do setor após a crise de 2008, ainda se consegue, com a mesma quantidade de dinheiro, comprar nos Estados Unidos um imóvel com padrão superior ao oferecido no mercado nacional.
“Com US$ 96 mil é possível fechar negócio para adquirir uma casa de três dormitórios em condomínio fechado no bairro Kissimmee, a dez minutos dos parques da Disney em Orlando. Com esse valor, você não compra um imóvel nas mesmas características e tamanho no Brasil”, diz Gomes.
Diante do aumento da procura e para acompanhar a dinâmica do segmento, algumas construtoras americanas passaram a desenvolver projetos específicos para o público brasileiro. Muitas vezes, uma versão do evento de lançamento é realizada no Brasil, para um público formador de opinião, e os catálogos dos imóveis são traduzidos para o português.
O processo de compra de um imóvel no exterior é relativamente simples. Feita a escolha, o interessado precisa abrir uma conta no país onde fica o imóvel, para poder fazer a remessa do dinheiro e a conversão para moeda local. Depois é necessário assinar um contrato de compra e venda e declarar todas as informações para a Receita Federal.
Economistas são cautelosos, porém, na hora de avaliar a perspectiva de ganhos financeiros com a aquisição de imóveis no exterior, mesmo que haja vários exemplos de investidores que tiveram um bom retorno.
O economista Luciano D’Agostini enumera uma lista de aspectos que não podem ser deixados de lado pelo investidor. “As leis são diferentes em cada país. É preciso entendê-las bem para ter segurança jurídica. Além disso, o câmbio tem variado muito e pode gerar ganhos e perdas. Por último, o ‘risco Brasil’ pode gerar incertezas nos investidores”, enumera.
Rumores no mercado dão conta de que as agências de classificação de risco podem reduzir as notas do Brasil no próximo ano, o que tornaria mais difícil obter empréstimos no exterior e elevaria a taxa de juros desses empréstimos.
Em relação ao mercado imobiliário europeu, D’Agostini é taxativo ao afirmar que, ao contrário do que muitos pensam, o momento não é propício para investimentos. “Os países em crise na Europa vão renegociar suas dívidas e novos momentos difíceis podem ocorrer entre 2014 e 2016. Ou seja, pode demorar anos para a recuperação dos preços dos imóveis”, alerta. “Quem decidir investir precisa saber que o retorno não será rápido.” (DW)
27 de novembro de 2013
ucho.info
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