As já saudosas manifestações eclodidas durante o mês de junho, fugaz esperança frustrada de repaginar o país, questionaram seriamente a questão da representatividade e da real utilidade dos partidos políticos como instrumentos de aprimoramento da democracia. Em alguns casos, verificaram-se até rejeições à participação das agremiações nos movimentos.
Com o amortecimento dos protestos, a questão não foi desde então seriamente discutida nos foros apropriados, por não ser conveniente aos propósitos dos donos do poder.
Por outro lado, qual não foi a surpresa da sociedade, ao ver aprovada recentemente pelo TSE, a legalização de mais dois partidos, o que eleva para 32 o total.
Este número absurdo coloca em cheque o próprio conceito correspondente, configurado pela essência de reunir grupos de pessoas que possuem e defendem ideias semelhantes e buscam alcançar o poder, visando ao interesse público.
Tal diluição permite concluir que, no Brasil, a questão fundamental não se refere ao "para que serve" mas sim ao "a quem serve".
Nossos partidos são, cada vez mais, meros escritórios onde se negociam conchavos, transferências e fidelidades, para atender interesses de poucos, sem o menor vínculo com o amadurecimento político do povo.
E os pobres eleitores, material descartável mas essencial à materialização desses objetivos mesquinhos, são obrigados a engolir, através de propagandas supostamente gratuitas, a verborragia barata de candidatos que, longe de representá-los, constituem mais uma sobrecarga para os mesmos eleitores, enquanto contribuintes, principais doadores involuntários de recursos para o misterioso fundo partidário.
É lamentável assistir a mais essa decisão equivocada da justiça, dessa vez a eleitoral. E, pior, ao que tudo indica, a sopa de letrinhas vai encorpar e a sociedade, impotente, terá, mais uma vez, que entubar.
27 de setembro de 2013Paulo Roberto Gotaç é Capitão-de-Mar-e-Guerra, Reformado.
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