É um mistério denso e insondável como a floresta amazônica: como Marina Silva pode ter 26% das intenções de votos para presidente, sem sequer ser candidata, e não conseguir para a sua Rede Sustentabilidade as 500 mil assinaturas que legalizaram partidos como o Pátria Livre, o Renovador Trabalhista Brasileiro, o da Causa Operária, ou o Ecológico Nacional?
Ninguém os conhece, mas eles existem e recebem fundos partidários (o PCO levou R$ 629 mil, e o PEN, R$ 343 mil, em 2012) e valioso tempo na televisão (R$ 850 milhões, pagos pelo contribuinte e divididos entre os 32 partidos), que podem vender para quem pagar mais.
Das duas, uma: ou o comitê organizador da Rede é tão desorganizado, até como despachante incapaz de recolher simples assinaturas, que desqualificaria seu candidato a qualquer cargo; ou uma conjunção de interesses escusos conspira em diversos níveis para inviabilizar o partido e a candidatura de Marina, pelo estrago que pode fazer em candidaturas do governo e da oposição.
Não que o partido e a própria Marina representem grandes expectativas de modernidade e inovação, por enquanto significam apenas que os outros são muito piores, e sem esperanças de melhorar.
Na Rede, o ambiente voluntarista também será propício a grandes incompetências, burrices e atrasos (sempre com a melhor das intenções… rsrs), mas que dão tanto ou mais prejuízo ao país do que a ladroagem.
Na oposição, as perspectivas não são animadoras: Carlos Lupi insinua o apoio do PDT à candidatura de Eduardo Campos e Paulinho da Força oferece o seu novo partido Solidariedade a Aécio Neves.
Assim como elogios vindos de certas pessoas soam como ofensas, como imaginar que apoios como esses possam contribuir para as mudanças que as candidaturas têm que oferecer?
Entre eles e a base dilmista de Sarney, Renan, Maluf e companhia, só mudam as moscas.
No Rio de Janeiro, a população se prepara para uma escolha pior que a de Sofia, entre Garotinho, Lindinho Farias e Marcelo Crivella, que lideram as pesquisas para governador. Num bar do Leblon, um velho e cínico carioca advertia: vocês vão ter saudades do Cabral…
27 de setembro de 2013
Nelson Motta, O Globo
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