Uma grande parte das transações realizadas diariamente na Bolsa de Valores de São Paulo – a Bolsa do Rio está há tempos desativada – refere-se a lances seguidos de subida e descida de ações negociadas. Por exemplo, a questão da reforma da Previdência Social. Quando a iniciativa do governo Michel Temer foi anunciada, a especulação jogou valores de papeis para cima. Quando não foi votada, o movimento mudou-se para baixo. Agora, entretanto, a questão se inverteu.
Reportagem de Simone Cavalcanti e Paula Dias, O Estado de São Paulo desta quarta-feira, destaca uma forte subida da Bovespa apesar do projeto de reforma da Previdência ter saído da pauta. A Bovespa fechou com o recorde de 85,8 mil pontos e uma expansão de 1,19% em apenas um dia. O assunto também foi focalizado por Juliana Machado e Lucinda Pinto na edição do Valor.
O QUE ACONTECEU? – A reforma da Previdência, que havia provocado euforia no seu primeiro momento, contraditoriamente provocou forte subida com a sua retirada da pauta da Câmara Federal. Ao mesmo tempo, o pregão de terça-feira foi acelerado para cima com foco central no projeto de privatização da Eletrobrás. As ações da Eletrobrás avançaram em torno de 8% em 24 horas. Uma surpresa.
Não havia motivos concretos para essa arrancada, uma vez que o projeto de privatização já se encontrava no Congresso desde o final de 2017.
O governo Michel Temer relacionou um elenco de projetos para substituir a importância econômica que ele atribui à reforma previdenciária. A substituição de um tema por outro surpreendeu Rodrigo maia, presidente da Câmara Federal. O deputado reagiu mal ao lance de marketing do Planalto, classificando-o como um café frio e requentado. Maia também esfriou a privatização da Eletrobrás, que não é novidade e já se encontrava entre as mensagens do Executivo dirigidas à Câmara e por sequência, ao Senado Federal.
ESPECULADORES – O lance de dados do Planalto foi aproveitado para injetar ânimo ao mercado acionário, soprado por especuladores que evidentemente lucraram com isso. Não que os papeis da Eletrobrás não devessem ser valorizados, mas sim porque essa valorização apresenta-se como uma jogada praticada no mercado financeiro. Na verdade, não ocorreu fato algum capaz de jogar suas ações para cima na terça-feira.
Citei a Eletrobrás como exemplo emblemático, mas movimentação igual ocorre inúmeras vezes. Pesquisa interessante a ser feita será identificar os grupos ou pessoas que participaram da venda em um dia, quando as ações subiram comparando os autores da recompra quando os papeis baixaram. Essa ideia é apenas para chamar atenção para as raízes de movimentos que acontecem no reino encantado da especulação.
PROFISSIONAIS – Não que a especulação seja ilegal, mas sim para mostrar que o mercado acionário é coisa para profissionais altamente qualificados e altamente motivados para movimentar o que pode se classificar como uma montanha russa financeira.
Na verdade os grandes compradores de ações são bancos, fundos de pensão e fundos de aposentadoria complementar de empresas estatais. Inclusive os fundos de aposentadoria complementar dependem, para manterem sua liquidez, das aplicações corretas e especializadas na Bovespa.
Pois o fato é que esses fundos não estão recebendo contribuições de novos empregados, simplesmente porque o não emprego está predominando no palco da economia brasileira. O êxito dos investimentos, livres de especulações, são decisivos para cobrir os encargos normais e também aqueles originários dos planos de saúde.
22 de fevereiro de 2018
Pedro do Coutto
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