Indicadores positivos da economia tendem a se multiplicar, mas não se pode esperar que a retomada será consistente, sem a mudança do regime fiscal
A derrota do governo Temer — e do país — em não conseguir viabilizar a minirreforma da Previdência tende a ser contrabalançada por uma safra de indicadores econômicos alvissareiros. Que na verdade já vêm sendo colhidos. À medida que a recuperação esboçada há meses se firma, a retomada fica mais visível nas estatísticas.
Enquanto a aprovação da reforma se tornava inviável, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), referente ao último trimestre do ano passado, era divulgado fechando quatro períodos consecutivos (12 meses) em alta, e com tendência ascendente. Os dados apontam para a possibilidade de o PIB do ano passado, calculado pelo IBGE, vir no início de março apontando para um crescimento acima de 1%. Estará sendo preparado o terreno para uma expansão na faixa de 3% este ano. Sem pressões inflacionárias — inflação esperada, próxima de 4% —, e portanto ainda juros baixos, para a realidade brasileira (6,5%).
Firmam-se, então, em tese, condições clássicas para a recuperação do crescimento em bases benignas. Mas a não realização da reforma previdenciária, mesmo modesta em comparação com o projeto inicial, impede que o crescimento ganhe velocidade de cruzeiro. Porque as expectativas sobre as contas públicas são negativas. Mesmo com a retomada do recolhimento de impostos, impulsionado pela volta da expansão do PIB.
Há muita capacidade ociosa a ser preenchida e, hoje, um colchão de ainda 12 milhões de desempregados para conter qualquer pressão nos preços via salários. Mas, sem a reforma da Previdência, seus gastos continuarão aumentando sem controle, dificultando o reequilíbrio das contas públicas.
Segundo o pesquisador da Fipe/USP Paulo Tafner, citado pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, sem a reforma deixarão de ser economizados de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões no ano que vem. Portanto, se em 2018 parece garantido o objetivo de, com receitas extraordinárias, não se ultrapassar o teto dos gastos e cumprir a regra de ouro — o Estado não pode se endividar, também por imposição constitucional, como no caso do teto, para financiar gastos de custeio —, para o ano que vem, nada está garantido.
E logo no começo do próximo governo. Parecem, então, previsíveis, no segundo semestre, oscilações nos mercados em função de pesquisas eleitorais. Porque é certo que, seja qual for o próximo presidente, o regime fiscal da Nova República, de governos tucanos e petistas, preponderantemente, chegou ao fim, e já há algum tempo. Crescimento constante dos gastos, com o correspondente aumento do peso da carga tributária — a mais elevada entre as economias emergentes, de cerca de 35% do PIB —, é uma política que se esgotou a partir do Lula II.
O sinal da percepção da impossibilidade de serem feitas a tempo a reforma da Previdência e outras será a volta da inflação elevada e, em decorrência, a elevação dos juros. Marcarão o fim da ilusão de que a volta do crescimento, por si, acertará todas as contas. Já poderá acontecer este ano, ou não. Vai depender da política.
27 de fevereiro de 2018
Editorial O Globo
A derrota do governo Temer — e do país — em não conseguir viabilizar a minirreforma da Previdência tende a ser contrabalançada por uma safra de indicadores econômicos alvissareiros. Que na verdade já vêm sendo colhidos. À medida que a recuperação esboçada há meses se firma, a retomada fica mais visível nas estatísticas.
Enquanto a aprovação da reforma se tornava inviável, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), referente ao último trimestre do ano passado, era divulgado fechando quatro períodos consecutivos (12 meses) em alta, e com tendência ascendente. Os dados apontam para a possibilidade de o PIB do ano passado, calculado pelo IBGE, vir no início de março apontando para um crescimento acima de 1%. Estará sendo preparado o terreno para uma expansão na faixa de 3% este ano. Sem pressões inflacionárias — inflação esperada, próxima de 4% —, e portanto ainda juros baixos, para a realidade brasileira (6,5%).
Firmam-se, então, em tese, condições clássicas para a recuperação do crescimento em bases benignas. Mas a não realização da reforma previdenciária, mesmo modesta em comparação com o projeto inicial, impede que o crescimento ganhe velocidade de cruzeiro. Porque as expectativas sobre as contas públicas são negativas. Mesmo com a retomada do recolhimento de impostos, impulsionado pela volta da expansão do PIB.
Há muita capacidade ociosa a ser preenchida e, hoje, um colchão de ainda 12 milhões de desempregados para conter qualquer pressão nos preços via salários. Mas, sem a reforma da Previdência, seus gastos continuarão aumentando sem controle, dificultando o reequilíbrio das contas públicas.
Segundo o pesquisador da Fipe/USP Paulo Tafner, citado pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, sem a reforma deixarão de ser economizados de R$ 12 bilhões a R$ 15 bilhões no ano que vem. Portanto, se em 2018 parece garantido o objetivo de, com receitas extraordinárias, não se ultrapassar o teto dos gastos e cumprir a regra de ouro — o Estado não pode se endividar, também por imposição constitucional, como no caso do teto, para financiar gastos de custeio —, para o ano que vem, nada está garantido.
E logo no começo do próximo governo. Parecem, então, previsíveis, no segundo semestre, oscilações nos mercados em função de pesquisas eleitorais. Porque é certo que, seja qual for o próximo presidente, o regime fiscal da Nova República, de governos tucanos e petistas, preponderantemente, chegou ao fim, e já há algum tempo. Crescimento constante dos gastos, com o correspondente aumento do peso da carga tributária — a mais elevada entre as economias emergentes, de cerca de 35% do PIB —, é uma política que se esgotou a partir do Lula II.
O sinal da percepção da impossibilidade de serem feitas a tempo a reforma da Previdência e outras será a volta da inflação elevada e, em decorrência, a elevação dos juros. Marcarão o fim da ilusão de que a volta do crescimento, por si, acertará todas as contas. Já poderá acontecer este ano, ou não. Vai depender da política.
27 de fevereiro de 2018
Editorial O Globo
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