"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

PUBLICIDADE COMERCIAL NÃO MUDA OPINIÃO PÚBLICA NEM FUNCIONA NO CAMPO POLÍTICO

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Charge do Angeli (Folha)
A publicidade tradicional não muda opinião pública e nem é capaz de influir em nada no campo político e na esfera da administração pública. Ela funciona extraordinariamente no plano comercial, através de axiomas que utiliza, mas no plano político as mensagens de comunicação exigem teoremas. O axioma não necessita comprovação. O teorema, ao contrário baseia-se totalmente na força real de seu conteúdo. Nada como a prática para confirmar teorias. E agora mesmo o governo Michel Temer constatou que não conseguirá aprovar a reforma da Previdência Social este ano, embora tenha despendido um bilhão e seiscentos milhões de reais em contas publicitárias, 90% concentradas nas emissoras de televisão.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi quem alertou Michel Temer da impossibilidade, alerta que se estende também ao ministro Henrique Meirelles, autor da iniciativa, e que sai enfraquecido do episódio. Não conseguiu o governo sensibilizar a população.
REPERCUSSÃO – A decisão de retardar a reforma da Previdência foi manchete principal dos quatro jornais mais importantes do país: O Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e o Valor. Destaque, a meu ver, para a reportagem de Geralda Doca, Martha Beck, Manoel Ventura e Gustavo Schmitt, em O Globo desta sexta-feira.
O desenrolar do episódio leva inevitavelmente a uma reflexão, através da qual se pode diferenciar concretamente os campos da publicidade e do jornalismo. A publicidade transmite um apelo direto ao consumo, mas ao consumo de produtos adquiridos nas lojas. Nada tem a ver com a realidade em que se baseia a opinião pública. Os dois quadros são complexos e guardam limites entre si. Lendo a obra principal de McLuhan, “Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem”, verifica-se que entre seus mil acertos, cometeu um equívoco: o meio é a mensagem, porém depende, na esfera política pública, do conteúdo que pode apresentar no rumo do interesse coletivo. Nada tem a ver também com a venda de aparelhos de TV, geladeiras ou smartphones.
MEIO E MENSAGEM – Por falar no meio e na mensagem, esse livro foi objeto de uma brilhante análise do jornalista José Lino Grunewald, separando as mensagens com base na sua direção. Ele incluiu um comentário à quase homofonia, em inglês, das palavras mensagem e massagem, no sentido de um estímulo para a vontade. Mas essa é outra questão.
A publicidade comercial é um fato importantíssimo para a vida humana, suas pretensões, seus apelos seus desejos. Ontem, por exemplo, o Banco Itaú desfechou uma publicidade maciça ocupando duas páginas das edições dos quatro principais jornais que citei há pouco. Investiu na imagem. Perfeito.
Mas no plano político e da opinião pública, é preciso que a mensagem leve consigo um conteúdo positivo, através de uma proposta também positiva.  Eu sempre digo, e repito agora, que o jornalismo é fortíssimo quando se projeta no sentido das ondas que chegam à praia. Mas não tem a mesma força, nem de longe, para inverter a rota, para citar Ari Barroso, das espumas que se desmancham na areia.
GOEBBELS MENTIU – Finalmente um ponto a acrescentar: Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, afirmou certa vez, falsamente, que uma mentira repetida por vezes transforma-se em verdade. Mentiu para o covil dos abutres que dominava a Alemanha e mentiu para o povo alemão.
A opinião pública sempre haverá de distinguir entre um conteúdo falso e um conteédo verdadeiro. Porque se alguém está comprando espaço na mídia , evidentemente não poderá usá-lo contra si mesmo.
Principio universal de direito: ninguém pode ser ao mesmo tempo juiz e parte.

04 de dezembro de 2017
Pedro do Coutto

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