"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

O INTENTO DE RECOLONIZAR O BRASIL ASSUMIDO PELO ATUAL GOVERNO

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Charge do Duke (O Tempo)
A colonização e, especialmente, a escravidão não constituem apenas etapas passadas da história. Suas consequências perduram até hoje. A prova clara é a dominação e a marginalização das populações um dia colonizadas e escravizadas com base na dialética da superioridade-inferioridade, nas discriminações por causa da cor da pele, no desprezo e até no ódio ao pobre.
Não basta a descolonização política. A recolonização ressurge na forma do capitalismo econômico, liderado por capitalistas neoliberais nacionais, articulados com os transnacionais. A lógica que rege a recolonização é tirar o máximo proveito do extrativismo dos bens e serviços naturais e da exploração da força de trabalho, malpaga e, quando possível, pela redução de seus direitos individuais e sociais.
DESCOLONIZAÇÃO – Os primeiros a verem claro a recolonização foram Frantz Fanon, da Argélia, e Aimé Césaire, do Haiti. Propuseram um corajoso processo de descolonização para liberar a “história que foi roubada” pelos dominadores e que agora pode ser recontada e reconstruída pelo próprio povo.
No entanto, trava-se um duro embate por parte daqueles que querem prolongar a colonização e a escravidão, criando obstáculos para aqueles que buscam fazer uma história soberana baseada em seus valores culturais e suas identidades étnicas.
Césaire cunhou a palavra “negritude” para expressar duas dimensões: uma, da continuada opressão contra os negros, e outra, da resistência persistente e da luta obstinada contra todo tipo de discriminação. A “negritude” é a palavra-força que inspira a luta pelo resgate da própria identidade e pelo direito às diferenças. Césaire criticou duramente a civilização europeia por sua cobiça, invadindo, ocupando e roubando as riquezas dos outros países, atitude espiritualmente indefensável por ter difundido a discriminação e o ódio raciais.
COLONIALIDADE – Paralelamente ao conceito de “negritude”, criou-se o de “colonialidade” pelo cientista social peruano Anibal Quitano (1992). Por ela quer-se expressar os padrões que os países centrais e o próprio capitalismo globalizado impõem aos países periféricos: o mesmo tipo de relação predatória da natureza, as formas de acumulação e de consumo, os estilos de vida e os mesmos imaginários produzidos pela máquina midiática. Dessa forma, continuam a lógica do encobrimento do outro, o roubo de sua história e a destruição das bases para a criação de um processo nacional soberano. O Norte global está impondo a colonialidade em todos os países.
O neoliberalismo radical que está imperando na América Latina e de forma cruel no Brasil é a concretização da colonialidade. O poder mundial, seja dos Estados hegemônicos, seja das grandes corporações, quer reconduzir a América Latina à situação de colônia. É a recolonização como projeto da nova geopolítica mundial.
ENTREGUISMO – O golpe que foi dado no Brasil em 2016 se situa exatamente nesse contexto: trata-se de solapar um caminho autônomo e entregar a riqueza social e natural às grandes corporações. Isso se faz pelas privatizações de nossos bens. Freia-se o processo de industrialização para dependermos das tecnologias vindas de fora. A função que nos é imposta é a de sermos grandes exportadores de commodities.
Nomes notáveis da ecologia nos alertam que o sistema Terra chegou a seu limite e não suporta um projeto com tal nível de agressão social e ecológica. Ora, esse modelo, para nossa desgraça, é assumido pelo atual governo, corrupto e totalmente descolado do povo, praticante de um neoliberalismo radical que implica o desmonte da nação. Daí o dever cívico e patriótico de derrotarmos as elites do atraso, antipovo e antinacionais. Tudo tem limites. Há de surgir uma consciência patriótica na forma de uma generalizada rejeição social.

04 de dezembro de 2017
Leonardo Boff
O Tempo

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