A suspensão do recesso parlamentar de julho, sugerida pelo deputado Rodrigo Maia para apressar a votação no Legislativo da denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, conduz a duas constatações. A primeira é animadora para Temer: o presidente da Câmara não apresentaria a ideia se, na contabilidade do Planalto, a bancada governista não tivesse votos de sobra para sepultar a denúncia ─ que só será julgada pelo Supremo Tribunal Federal se aprovada por dois terços dos deputados federais.
A segunda constatação não permite que Temer durma em sossego. Tanta afobação comprova que, também aos olhos do presidente e seus aliados íntimos, a base de apoio no Congresso é perturbadoramente volátil ─ e pode derreter se a temperatura política for elevada por descobertas da Lava Jato, ou revelações decorrentes de delações premiadas, que transformem o chefe de governo em protagonista de mais histórias muito mal contadas. Vêm aí confissões de grosso calibre. E os alvos principais continuam a ser Lula, Dilma e Temer.
CRIMES OCULTOS – A pressa do presidente reforça a suspeita de que nem todos os pecados que cometeu foram desvendados. Nessa hipótese, o agravamento da crise política terá sido apenas adiado com a rejeição da denúncia. Um escândalo de bom tamanho pode levar o sempre dubitativo PSDB a redescobrir a relevância do respeito à lei, a normas éticas, à moral e aos bons costumes. Temer precisa preservar a aliança para chegar ao fim do verão perigoso. “Em setembro, a melhora dos indicadores econômicos vai inibir os que sonham com a queda do governo”, ouviu de Temer nesta quinta-feira um ministro tucano.
No Brasil com 14 milhões de desempregados, talvez o item mais perverso do legado maldito de Lula e Dilma, o governo só sobreviverá até dezembro de 2018 se a economia sair da UTI nos próximos dois meses. Tudo somado, resta a Temer convocar uma reunião do Ministério para resumir numa frase o que devem fazer tanto o presidente quanto os integrantes do primeiro escalão até a tempestade amainar:
─ Senhores ministros: oremos.
17 de junho de 2017
Augusto Nunes
Veja
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