Numa entrevista de página inteira a Fabrício de Castro, Fernando Nakagawa e Irany Tereza, em O Estado de São Paulo desta segunda-feira, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que, apesar da incerteza ter aumentado, o que me interessa são as reformas e o ajuste fiscal. Com tal declaração, o presidente do BACEN praticamente separou o destino político do presidente Michel Temer do objetivo contido nas reformas trabalhista e previdenciária, distinguindo também o desfecho do ajuste fiscal proposto pela equipe econômica.
O presidente do Banco Central deve ter expressado também o posicionamento do ministro Henrique Meirelles, já que não faria sentido destacar um pensamento diverso do pensamento do titular da Fazenda. No texto, assinalou que “a incerteza nas últimas semanas aumentou. Mas podemos ter as reformas e o ajuste avançando. E é só isso que me interessa, sob o ponto de vista do BC.”
SEPARAÇÃO – As declarações de Goldfajn, presume-se, devem ter desagradado o presidente Michel Temer na manhã de sua viagem à Rússia. Pois dão a entender que o projeto econômico de seu governo nada tem a ver com a permanência ou não do presidente no Palácio do Planalto. Com a entrevista o presidente do BC, sem dúvida, dirigiu uma mensagem ao mercado financeiro, acentuando que o apoio às reformas independe do Palácio do Planalto. Depende, isso sim, da ação da Fazenda na Esplanada de Brasília. Separou o Planalto da visão geral da planície.
Goldfajn afirmou: “Trabalhamos no BC sempre com as questões econômicas e técnica. Desde o primeiro dia da crise, me perguntaram o que vocês (no plural) vão fazer? Vamos fazer a questão técnica. Tenho avaliado a consequência dos últimos eventos e as reformas e ajustes. São diferenças importantes. Podemos ter as reformas e os ajustes avançando, e é só isso que me interessa.”
MENOS INCERTEZA – O presidente do BC reconhece que apesar de a incerteza ter aumentado nas últimas semanas, é possível que venha a diminuir. A reforma trabalhista está avançando, vamos ter que observar como anda a reforma da Previdência, disse.
Como se constata, Ilan Goldfajn considera que o essencial na área econômica pode não ser o essencial na área política. Suas declarações são claras nesse sentido. Pode ter fortalecido a corrente de Henrique Meirelles, na qual navega ele próprio, mas enfraqueceu ainda mais o governo Temer.
Em síntese: a economia está bem, não importando que o projeto político esteja mal. Quis dizer: se o governo cair, a equipe econômica continua. Seu destino ultrapassa o destino do Palácio do Planalto.
20 de junho de 2017
Pedro do Coutto
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