O BC (Banco Central do Brasil) reduziu na semana passada a Selic (juros básicos da economia) de 11,25% para 10,25 ao ano (1 ponto porcentual), sendo que esta foi a sexta queda consecutiva mas a segunda neste patamar, por unanimidade do colegiado e, sem viés, tornando-se dessa forma, a menor taxa desde novembro de 2013, apesar do ceticismo que os brasileiros estão depositando no futuro do governo Temer. Com isso, o Brasil assumiu a vice-liderança mundial dos juros reais de 4,30%, atrás da Rússia com 4,57% e seguido pela Turquia com 3,63%.
Na realidade, o mercado financeiro já vinha enxergando pouco espaço para uma redução mais acentuada, em função da incontrolável crise política aprofundada pela delação dos irmãos Batista. Só que, além de se mostrar cauteloso agora, no atual cenário político, o BC já sinalizou que é bem provável que venha a promover um corte menor de juros na próxima reunião agendada do Copom (Comitê de Política Monetária) para 26 de julho, quando o ambiente político poderá ter mudado dramaticamente.
Grandes dúvidas levantadas foram estrategicamente discutidas neste último encontro sendo que, a maioria delas está relacionada aos principais fatores de risco com o aumento considerável das incertezas, ocupando todos os espaços das camadas sociais, a velocidade das reformas estruturais e os ajustes importantes na economia. Destaques para as reformas da Previdência e a trabalhista que já se encontram tramitando no Congresso em vários estágios, devido à importância que o equilíbrio macroeconômico exige a partir dos perigos inerentes a uma total desarticulação da base aliada no Congresso e da efetiva permanência de Temer no comando da Nação. Estas foram essencialmente as premissas básicas que nortearam a decisão, talvez uma das mais conservadoras já adotadas pelo BC.
Parece-me que a hegemonia dentro desse conservadorismo não se encontra bem apoiada nos dados conjunturais econômicos que conhecemos, a começar pelo nítido declínio inflacionário que mantém a inflação sem ameaças, muito bem situada abaixo do centro da sua meta; a atividade econômica que não sinaliza uma sólida recuperação mesmo com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1% no primeiro trimestre deste ano, após oito trimestres seguidos de retração, puxado basicamente pelo setor agrícola e não garantindo, dessa forma, nossa saída da recessão; o desemprego em nível recorde, próximo a 14% com 14 milhões de desocupados e uma esteira de dramas pessoais; o alto endividamento das pessoas e das empresas mergulhadas em dívidas; uma capacidade ociosa generalizada; a abundante liquidez internacional e o cenário externo razoavelmente favorável ao Brasil que deveriam conceitualmente proporcionar uma maior aceleração no corte dos juros básicos da economia brasileira.
Na verdade, a expectativa maior para o mercado financeiro não era o resultado da reunião, mas o comunicado que foi divulgado logo em seguida. Economistas, empresários e analistas econômicos aguardaram ansiosamente a avaliação feita para a crise política em busca de um rumo nos negócios a partir desse mês.
O BC foi extremamente transparente quanto às incertezas no andamento das reformas, alimentando dúvidas, particularmente, com relação a até quando o Copom pode se estender na sua flexibilização monetária mesmo porque, se não forem realizados os ajustes indispensáveis, a “taxa estrutural” também denominada de “taxa neutra” da economia (ponto de equilíbrio quando a inflação não sofre estímulos nem tão pouco acelera) poderá deixar de ser também uma estratégia da atual equipe econômica. Deverá ser dada uma especial atenção aos efeitos da crise na retomada do crescimento e suas conseqüências na inflação. Tudo porque ela invalidou as projeções realizadas pela autarquia.
Isso aconteceu em função de existir probabilidades de termos cenários que venham a travar esse processo, pela complexidade existente na avaliação dos efeitos provenientes deles sobre os determinantes da inflação.
O efeito da crise estabelece dois aspectos interessantes que são completamente antagônicos: pode elevar a recessão econômica e consequentemente favorecer o corte mais vigoroso dos juros ou aumentar a inflação, inviabilizando uma significativa retração nos juros e também a grande dúvida que passou a persistir - se as reformas continuarão a caminhar no Congresso Nacional, o que dificulta uma avaliação mais percuciente. Vemos que são dois efeitos que seguem em direções distintas e dois fatores que também se opõem. Uma nova análise deverá ser feita no final deste mês, quando o BC publicar o relatório trimestral de inflação, assim como outras disposições poderão surgir quando o CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelecer para 2019 sua meta para a alta dos preços.
Os analistas começam a apostar que o próximo corte em julho será no máximo de 0,75% ponto porcentual, embora ainda mantendo a projeção de que a Selic venha a atingir 8% no final de 2017. À luz dos elementos de hoje, acho muito difícil que seja repetido o corte de 1 ponto porcentual na próxima reunião.
Vejo com naturalidade quando o Copom começar a apresentar mais parcimônia, pois à medida que a taxa básica de juros alcance um dígito, o BC, com certeza, tenderá a fazer cortes bem menores. Ainda mais considerando a amplitude do cenário de incertezas que estamos vivendo, sobretudo no âmbito político, o que, provavelmente, poderá impactar negativamente no câmbio, sendo que uma alta mais saliente do dólar turbinará nossos preços.
Se, por acaso, não se descuidarem com o câmbio, o que julgo um pouco difícil em função do BC hoje contar com uma equipe altamente qualificada, a tendência natural é continuar “podando” os juros, dentro do possível. Infelizmente não sabemos o dia de amanhã, mas até o presente instante, pelo menos, no curto prazo, o cenário não pressupõe inflação em alta. Os números atuais traduzem tranquilamente a conveniência do corte dos juros. A inflação brasileira situa-se em 3,77% nos últimos doze meses, sem nos esquecermos de que nossa meta anual é de 4,5%.
Acontece que o BC admite que seus modelos indicam uma inflação futura um pouquinho mais alta que no passado. Partindo dos exercícios que fazem com as apostas divulgadas pelo mercado, a projeção do Copom situa-se em 4% neste exercício e 4,6% no próximo ano, sutilmente acima da meta estipulada. Dentro desse panorama, todavia pressupõe-se que os juros básicos alcancem 8,5% no final de 2017 e, talvez próximo, em 2018. É importante que se faça uma pequena ressalva: o BC não assumiu, até então, qualquer compromisso em levá-la até esse patamar.
Segundo o BC, a conduta da inflação conserva-se adequada, apresentando uma desinflação disseminada nos componentes solidários aos juros, mas ressalta que é imprescindível estarem sempre atentos aos prováveis impactos na extensão da incerteza sobre a trajetória prospectiva da inflação.
Pelo menos, quanto ao cenário externo, o Copom reconhece que, até o presente momento, ele tem se revelado favorável diante da atividade econômica global mais saudável, suavizando os possíveis efeitos nas mudanças de política econômica nos países centrais.
Evidentemente que a Selic é de extrema importância na retomada mais forte da atividade econômica brasileira. Não quero dizer com isso que reduzir a taxa de juros livrará o país dessa inesquecível recessão, porém a manutenção da política monetária atual, aliada ao arrefecimento da inflação, deverá ser um dos principais vetores para o nosso potencial crescimento econômico.
O ideal para o País atualmente seria uma solução rápida para a crise política, o que viria a facilitar a reforma da Previdência (a essa altura parece que são mínimas as chances de ser aprovada), reforma essa considerada fundamental para que o vertiginoso avanço nos gastos com funcionários públicos de Estados e municípios desacelere nos próximos três a cinco anos.
O macro contexto é que nos massacra, trazendo mais risco para a atividade econômica, compromete igualmente o processo de corte de juros. Além disso, lamentavelmente, a “desesperança” começa a nascer no horizonte dos brasileiros e, da maneira como as coisas vêm se configurando, dificilmente a sociedade brasileira, tão cedo, poderá celebrar o crepúsculo de um ciclo inegavelmente inconseqüente.
07 de junho de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
Na realidade, o mercado financeiro já vinha enxergando pouco espaço para uma redução mais acentuada, em função da incontrolável crise política aprofundada pela delação dos irmãos Batista. Só que, além de se mostrar cauteloso agora, no atual cenário político, o BC já sinalizou que é bem provável que venha a promover um corte menor de juros na próxima reunião agendada do Copom (Comitê de Política Monetária) para 26 de julho, quando o ambiente político poderá ter mudado dramaticamente.
Grandes dúvidas levantadas foram estrategicamente discutidas neste último encontro sendo que, a maioria delas está relacionada aos principais fatores de risco com o aumento considerável das incertezas, ocupando todos os espaços das camadas sociais, a velocidade das reformas estruturais e os ajustes importantes na economia. Destaques para as reformas da Previdência e a trabalhista que já se encontram tramitando no Congresso em vários estágios, devido à importância que o equilíbrio macroeconômico exige a partir dos perigos inerentes a uma total desarticulação da base aliada no Congresso e da efetiva permanência de Temer no comando da Nação. Estas foram essencialmente as premissas básicas que nortearam a decisão, talvez uma das mais conservadoras já adotadas pelo BC.
Parece-me que a hegemonia dentro desse conservadorismo não se encontra bem apoiada nos dados conjunturais econômicos que conhecemos, a começar pelo nítido declínio inflacionário que mantém a inflação sem ameaças, muito bem situada abaixo do centro da sua meta; a atividade econômica que não sinaliza uma sólida recuperação mesmo com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 1% no primeiro trimestre deste ano, após oito trimestres seguidos de retração, puxado basicamente pelo setor agrícola e não garantindo, dessa forma, nossa saída da recessão; o desemprego em nível recorde, próximo a 14% com 14 milhões de desocupados e uma esteira de dramas pessoais; o alto endividamento das pessoas e das empresas mergulhadas em dívidas; uma capacidade ociosa generalizada; a abundante liquidez internacional e o cenário externo razoavelmente favorável ao Brasil que deveriam conceitualmente proporcionar uma maior aceleração no corte dos juros básicos da economia brasileira.
Na verdade, a expectativa maior para o mercado financeiro não era o resultado da reunião, mas o comunicado que foi divulgado logo em seguida. Economistas, empresários e analistas econômicos aguardaram ansiosamente a avaliação feita para a crise política em busca de um rumo nos negócios a partir desse mês.
O BC foi extremamente transparente quanto às incertezas no andamento das reformas, alimentando dúvidas, particularmente, com relação a até quando o Copom pode se estender na sua flexibilização monetária mesmo porque, se não forem realizados os ajustes indispensáveis, a “taxa estrutural” também denominada de “taxa neutra” da economia (ponto de equilíbrio quando a inflação não sofre estímulos nem tão pouco acelera) poderá deixar de ser também uma estratégia da atual equipe econômica. Deverá ser dada uma especial atenção aos efeitos da crise na retomada do crescimento e suas conseqüências na inflação. Tudo porque ela invalidou as projeções realizadas pela autarquia.
Isso aconteceu em função de existir probabilidades de termos cenários que venham a travar esse processo, pela complexidade existente na avaliação dos efeitos provenientes deles sobre os determinantes da inflação.
O efeito da crise estabelece dois aspectos interessantes que são completamente antagônicos: pode elevar a recessão econômica e consequentemente favorecer o corte mais vigoroso dos juros ou aumentar a inflação, inviabilizando uma significativa retração nos juros e também a grande dúvida que passou a persistir - se as reformas continuarão a caminhar no Congresso Nacional, o que dificulta uma avaliação mais percuciente. Vemos que são dois efeitos que seguem em direções distintas e dois fatores que também se opõem. Uma nova análise deverá ser feita no final deste mês, quando o BC publicar o relatório trimestral de inflação, assim como outras disposições poderão surgir quando o CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelecer para 2019 sua meta para a alta dos preços.
Os analistas começam a apostar que o próximo corte em julho será no máximo de 0,75% ponto porcentual, embora ainda mantendo a projeção de que a Selic venha a atingir 8% no final de 2017. À luz dos elementos de hoje, acho muito difícil que seja repetido o corte de 1 ponto porcentual na próxima reunião.
Vejo com naturalidade quando o Copom começar a apresentar mais parcimônia, pois à medida que a taxa básica de juros alcance um dígito, o BC, com certeza, tenderá a fazer cortes bem menores. Ainda mais considerando a amplitude do cenário de incertezas que estamos vivendo, sobretudo no âmbito político, o que, provavelmente, poderá impactar negativamente no câmbio, sendo que uma alta mais saliente do dólar turbinará nossos preços.
Se, por acaso, não se descuidarem com o câmbio, o que julgo um pouco difícil em função do BC hoje contar com uma equipe altamente qualificada, a tendência natural é continuar “podando” os juros, dentro do possível. Infelizmente não sabemos o dia de amanhã, mas até o presente instante, pelo menos, no curto prazo, o cenário não pressupõe inflação em alta. Os números atuais traduzem tranquilamente a conveniência do corte dos juros. A inflação brasileira situa-se em 3,77% nos últimos doze meses, sem nos esquecermos de que nossa meta anual é de 4,5%.
Acontece que o BC admite que seus modelos indicam uma inflação futura um pouquinho mais alta que no passado. Partindo dos exercícios que fazem com as apostas divulgadas pelo mercado, a projeção do Copom situa-se em 4% neste exercício e 4,6% no próximo ano, sutilmente acima da meta estipulada. Dentro desse panorama, todavia pressupõe-se que os juros básicos alcancem 8,5% no final de 2017 e, talvez próximo, em 2018. É importante que se faça uma pequena ressalva: o BC não assumiu, até então, qualquer compromisso em levá-la até esse patamar.
Segundo o BC, a conduta da inflação conserva-se adequada, apresentando uma desinflação disseminada nos componentes solidários aos juros, mas ressalta que é imprescindível estarem sempre atentos aos prováveis impactos na extensão da incerteza sobre a trajetória prospectiva da inflação.
Pelo menos, quanto ao cenário externo, o Copom reconhece que, até o presente momento, ele tem se revelado favorável diante da atividade econômica global mais saudável, suavizando os possíveis efeitos nas mudanças de política econômica nos países centrais.
Evidentemente que a Selic é de extrema importância na retomada mais forte da atividade econômica brasileira. Não quero dizer com isso que reduzir a taxa de juros livrará o país dessa inesquecível recessão, porém a manutenção da política monetária atual, aliada ao arrefecimento da inflação, deverá ser um dos principais vetores para o nosso potencial crescimento econômico.
O ideal para o País atualmente seria uma solução rápida para a crise política, o que viria a facilitar a reforma da Previdência (a essa altura parece que são mínimas as chances de ser aprovada), reforma essa considerada fundamental para que o vertiginoso avanço nos gastos com funcionários públicos de Estados e municípios desacelere nos próximos três a cinco anos.
O macro contexto é que nos massacra, trazendo mais risco para a atividade econômica, compromete igualmente o processo de corte de juros. Além disso, lamentavelmente, a “desesperança” começa a nascer no horizonte dos brasileiros e, da maneira como as coisas vêm se configurando, dificilmente a sociedade brasileira, tão cedo, poderá celebrar o crepúsculo de um ciclo inegavelmente inconseqüente.
07 de junho de 2017
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)
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