A política brasileira se caracteriza por feudos, guetos e rincões. A família Machado dominava um deles, em Crateús, importante município do Ceará, na fronteira com o Piauí. O cacique da região era Expedito Machado, eleito deputado estadual pelo PSD em 1954 e depois deputado federal em 1958 e 1962. Foi ministro da Viação e Obras Públicas no governo de Jango. Cassado pelo Ato Institucional nº 1, exilou-se em Paris, onde permaneceu por 11 meses, depois voltou ao Brasil.
Com a anistia em 1979, o lado de Tancredo Neves, Expedito Machado participou da fundação do Partido Popular (PP), que em 1982 se incorporou ao PMDB. Em 1986 foi eleito para a Constituinte e se tornou um dos líderes do folclórico bloco Centrão, formado por 178 parlamentares conservadores e do chamado baixo clero.
Por serviços prestados, Expedito ganhou do presidente José Sarney as concessões de uma rádio e uma televisão no Ceará, que colocou em nome do filho Sérgio Machado, para burlar a legislação.
NA CAMPANHA DE TASSO
Quando o pai disputou a eleição para a Câmara, Sérgio Machado já estava filiado ao PMDB e atuou na coordenação da vitoriosa campanha de Tasso Jereissati a governador em 1986. Foi então nomeado secretário estadual de Governo e se tornou coordenador da campanha que elegeu Ciro Gomes à prefeitura de Fortaleza em 1988.
Em 1990, já no PSDB, foi eleito deputado federal com a ajuda do pai, que estava se afastando da política. No embalo, Sérgio Machado conseguiu se eleger senador em 1994. Retornou ao PMDB em 2001 para se candidatar ao governo do Ceará, mas ficou em terceiro lugar.
Com a eleição de Lula, em junho de 2003 Sérgio Machado foi nomeado presidente da Transpetro por indicação de Renan Calheiros, presidente do Senado à época. E somente saiu no ano passado, atropelado pelo escândalo da Lava Jato.
GRAVANDO OS AMIGOS
Sergio Machado alegou inocência, contratou advogados e a presidente Dilma deixou-o no cargo. Mas as acusações se avolumaram, não havia mais como negar, Machado então pediu licença da presidência da Transpetro e acabou sendo demitindo.
Agora, sem possibilidade de escapar do juiz Sérgio Moro, Machado busca conseguir uma delação premiada, mas a força-tarefa não se interessa, porque ele não revela nenhuma novidade. No desespero, resolveu imitar o filho de Nestor Cerveró e começou a gravar as conversas com os parlamentares amigos.
Como ele sabe muito sobre a corrupção no esquema da Petrobras, os caciques do PMDB tentam acalmá-lo, por julgar que a delação premiada dele possa ser aceita. Nas conversas gravadas, Machado vai insistindo, insistindo, e eles acabam falando demais.
JUCÁ, RENAN, LOBÃO E SARNEY
Nessas conversas de bastidores, Sérgio Amaral já conseguiu pegar Romero Jucá, Renan Calheiros, Edison Lobão e José Sarney. O senador Jader Barbalho escapou porque estava doente, internado num hospital. O efeito político dessas gravações é devastador e vai ajudar a incriminar no Supremo os três senadores da ativa. Quanto a Sarney, ainda não há envolvimento direto na Lava Jato, mas o futuro a Deus pertence.
Jucá caiu na armadilha de Machado. Para acalmá-lo e evitar que fizesse a delação premiada, chegou a falar num fantasioso esquema envolvendo o Supremo, mas não citou nomes, só o de Teori Zavascki, para alegar previamente que havia dificuldades.
Ainda não se sabe o que Renan, Lobão e Sarney falaram, mas devem ter seguido na mesma onda, procurando acalmar Sérgio Machado, que está prestando um belo serviço à Lava Jato, mas infelizmente não deverá ser agraciado com a delação premiada, porque esse tipo de prova induzida não é aceito pela Justiça brasileira, embora sempre haja controvérsias, como dizia Francisco Milani, um ator que amava a política e em 1992 chegou a ser eleito vereador no Rio pelo Partido Comunista Brasileiro, o antigo Partidão.
24 de maio de 2016
Carlos Newton
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