Não passa deste mês a decisão da Câmara dos Deputados de autorizar ou não a abertura do processo de afastamento da presidente Dilma do palácio do Planalto. Autorizado o impeachment, caberá ao Senado a palavra final, sendo que nos 180 dias entre a manifestação dos deputados e a dos senadores, sob a direção do presidente do Supremo Tribunal Federal, Madame reassumirá ou estará definitivamente afastada do cargo.
Hoje, ninguém, em sã consciência, será capaz de prever o resultado. Num, dia parece certa a defenestração. No outro, não se duvida da permanência.
Por esse vai-e-vem, conclui-se não ser coisa séria o debate sobre o futuro do país. No fundo situa-se o jogo de interesses rasteiros e espúrios a respeito do controle do poder. Os mesmos de sempre digladiam-se em torno do controle das nomeações, das propinas e da ocupação dos ministérios e penduricalhos. Ficando Dilma, haverá uma varredura em seus adversários, com as óbvias consequências relativas ao aproveitamento da coisa pública. Assumindo o vice Michel Temer, será a mesma coisa, só que ao contrário.
Enquanto isso, senão parou antes, o Brasil encontra-se parado. Ignoram-se os rumos do governo. Fazer o quê diante do desemprego em massa? Do aumento de impostos, taxas e tarifas? Do custo de vida? Da paralisação da atividade econômica e das atenções à educação e à saúde pública? Da segurança da população entregue à bandidagem, não se fala. Muito menos do combate à corrupção, que deixou faz muito de constituir-se em problema do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal. Recompor a Federação, com a salvação dos Estados e Municípios, tornou-se sonho de noite de verão.
NÃO SOBRA NADA
Resta o vazio como solução para o embate entre Dilma, Lula, os sindicalistas, o PT e adjacências, de um lado, e Michel, o PMDB, os tucanos e o empresariado, de outro. A verdade é que dando estes por aqueles, não sobra nada. Não há necessidade de volta, assiste-se a uma refrega entre os seis e o meia-dúzia.
Uma nação dividida como hoje, raras vezes se viu. Há quem fale na necessidade de usar o apagador e começar tudo de novo. Eleições gerais, amplas e irrestritas? Pouco adiantaria, porque as duas correntes permaneceriam as mesmas.
Não dá para imaginar que as definições previstas para este mês, no Congresso, resolverão alguma coisa. Qualquer que seja o resultado entre a presidente Dilma, se puder manter-se, ou o vice Temer, se conseguir assumir, revelará o mesmo racha. Aliás, menos ideológico do que fisiológico.
A ESTRADA PARA LISBOA
Vale repetir história já apresentada. Um turista brasileiro alugou um automóvel em Portugal, para deliciar-se com as belezas do interior luso. Acabou perdendo-se, quando estacionou perto de um camponês. Indagou se aquela estrada ia para Lisboa. Diante da negativa, seguiu adiante, mas logo depois deparou-se com imensa placa: “Lisboa: quinze quilômetros”. Irritado, deu marcha-a-ré e cobrou do patrício a péssima informação. Resposta: “Quem vai para Lisboa é o senhor. A estrada fica aqui…”
05 de abril de 2016
Carlos Chagas
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