DERROTANDO A SI MESMA, DILMA PERDEU NO VOTO PARA MICHEL TEMER
Michel Temer realizou uma articulação política muito mais eficiente, para alcançar seu objetivo, do que as movimentações e manobras efetuadas pela presidente da República para assegurar sua permanência no Planalto.
Claro que a admissibilidade do impeachment vai depender da aprovação final por 2/3 do Senado. Entretanto é preciso considerar que numa primeira etapa será quase impossível o Senado recusar-se a efetuar o julgamento respectivo.
SENADO CONFIRMARÁ
O Senado pode desfazer a decisão da Câmara, porém tal atitude geraria um escândalo a ser rejeitado pela opinião pública, como rejeitada foi a corrupção desencadeada na Petrobrás. Aliás, foi a corrupção da Petrobrás que veio à tona, envolvendo grandes empresas administradores públicos e políticos, e fez desabar em grande parte a credibilidade surpreendente de um governo reeleito.
A reação das ruas à presidente Dilma Rousseff criou a atmosfera que tornou possível a votação que transcorreu no domingo. Os erros da presidente da República foram se acumulando a partir do instante em que a chefe do Executivo entrou em conflito com a candidata a reeleição. Ela na campanha prometeu uma coisa e no governo começou a tentar fazer o oposto. Foi um choque que a abalou junto as suas próprias bases eleitorais, que foram atingidas por uma sensação de desânimo e de impossibilidade de permanecerem apoiando-a com entusiasmo.
REJEIÇÃO DO PT
O PT passou a rejeitá-la parcialmente e ela a rejeitar parcialmente o PT, na medida em que ficou chocada mas omissa em relação ao envolvimento de tantas figuras do partido na onda de assaltos desencadeada contra a Petrobrás. Foi se enfraquecendo gradativamente. E começou a ser acossada pelo próprio Lula.
O mesmo Lula que, de acusado pela Operação Lava-Jato, transformar-se-ia no primeiro ministro de fato do governo, não fosse a liminar do STF, despachada pelo ministro Gilmar Mendes, suspendendo sua investidura.
PODER NÃO SE DIVIDE
Como o poder não se divide, procurar dividi-lo significa tacitamente uma confissão de fraqueza que a levaria ao desastre. Aliás levou ao desastre que culminou com o espetáculo de sua rejeição pela grande maioria da Câmara dos Deputados.
O episódio foi absolutamente desastroso, não importando a possibilidade remotíssima de reversão de seu impeachment no Senado Federal, por maioria absoluta.
A simples aceitação da tarefa de julgá-la representa automaticamente seu afastamento do Palácio do Planalto por um período de até seis meses. Sem desejar fazer previsões, arrisco dizer que, pelas circunstâncias, ela dificilmente retornará ao poder. Pois se Michel Temer teve capacidade de, fora do poder, articulara queda da presidente, no poder então vai encontrar melhores condições para impedir seu retorno.
ELEIÇÕES DIRETAS
A proposta de eleições diretas, à primeira vista, parece um sonho. A menos que o Tribunal Superior Eleitoral venha, o que não é fácil, a anular o pleito de 2014.
Neste lance destaca-se uma divergência entre as três principais figuras do PSDB, Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin. Aécio deseja que as eleições sejam anuladas, pois assim ele poderia candidatar-se ainda este ano. José Serra, praticamente ministro de Michel Temer, busca candidatar-se novamente em 2018. Neste ponto seu projeto colide com o de Aécio. Geraldo Alckmin diverge dos dois desejando disputar a convenção Tucana em 2018. Sua lógica é simples. Ele conclui seu mandato de governador de São Paulo daqui a dois anos.
QUADRO ATUAL
Este é o quadro que se desenha no momento. Mas falta alguém no panorama. Esse alguém é o ex-presidente Lula, que não conseguiu assumir a chefia da Casa Civil, perspectiva que não existe mais para ele.
O próximo capítulo será a aceitação pelo Senado do julgamento de Dilma, que nesta altura da ópera parece se tornar fato consumado.
18 de abril de 2016
Pedro do Coutto
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