Dilma Rousseff (PT) chegou às portas de um inferno político que o Brasil acreditava terem sido cerradas com o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992. A presidente, que teve a abertura do pedido de impedimento aceita neste domingo (17) pela Câmara, costumava colecionar culpados pela debacle de seu governo.
Ora ela culpava a imprensa, ora a oposição. Mais recentemente, seu alvo era o vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), a quem acusava abertamente de ser golpista, já que vinha articulando a formação de um eventual governo caso Dilma fosse impedida.
Se adversários se aproveitaram de suas falhas, isso é da dinâmica da política, mas Dilma e o PT de Lula construíram aos poucos os erros que levaram à ruína política sobre a qual se debatem agora.
PECADOS CAPITAIS
A tradição católica estabeleceu, quando o papa Gregório 1º organizou em 590 uma lista do monge grego Evágrio do Ponto (345-399), sete pecados capitais que levam a humanidade à danação. Santo Tomás de Aquino e o escritor Dante Alighieri popularizaram o conceito.
A Folha elencou sete aspectos que levaram o governo petista à lona, correlacionados com os pecados mortais dos quais mais se aproximam.
Acima de todos eles está a soberba, que permeia os demais. O temperamento difícil e a falta de urbanidade política de Dilma cobraram um preço alto ao fim.
COLECIONANDO DESAFETOS
Enquanto ela era a “faxineira” da corrupção e a “gerentona” no seu primeiro mandato, imagem que bem ou mal durou até a eleição de 2014, ela colecionou desafetos. Sua inapetência para a política congressual é notória. O troco veio agora.
O fator estrutural mais importante, contudo, é a ruína econômica. Dificilmente teria sido aceitado o impeachment se o país estivesse bem das pernas. Não está, muito por causa do pecado da preguiça do governo em não aceitar a realidade.
Em vez de ouvir alertas, o Planalto acelerou uma política iniciada por Lula em 2010 de populismo econômico.
MATRIZ ECONÔMICA
Erros se sucederam. A “Nova Matriz Econômica” com suas desonerações, juros artificiais e irresponsabilidade fiscal, as pedaladas que geraram o fato frio do impeachment, a política de preços do setor elétrico e a gestão ruinosa da Petrobras – mais que a corrupção, foram ordens erradas que ajudaram a quase quebrar a petroleira e sua enorme cadeia econômica.
O ano de 2015 foi perdido com a tentativa malfadada de ajuste fiscal capitaneada por Joaquim Levy. Acabou com o pagamento do “papagaio” das pedaladas, quase uma admissão de culpa. O aumento do desemprego coroou a queda final junto aos poderosos da economia.
OUTROS PECADOS
Outros pecados são identificáveis: a gula da corrupção identificada pela Operação Lava Jato, a avareza ao se apegar a conceitos antigos em vez de tentar entender o recado das ruas nos protestos de 2013, a luxuriante propaganda eleitoral de 2014.
Por fim, o ex-aliado PMDB está em dois erros mortais. Primeiro, estabelecer uma relação de ira com Eduardo Cunha, o colérico e enrolado presidente da Câmara. Segundo, a inveja final de ver Michel Temer emergir da condição de “vice decorativo” para a de potencial herdeiro do reino petista.
18 de abril de 2016
Igor Gielow
Folha
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