A história é professora. Há 30 anos, quando Tancredo Neves vislumbrou a possibilidade concreta de se eleger pelo Colégio Eleitoral e com isso dar fim ao regime militar pela via da legalidade, o então candidato da oposição declarou: “O jogo agora é para profissionais.”.
Paulo Maluf, em tese um bamba na matéria, imbatível na arte de cooptar adeptos a título de quaisquer métodos _ notadamente aqueles materialmente objetivos _ perdeu de lavada a eleição no colégio eleitoral de 1985. Não propriamente por falha na metodologia, mas por ausência da percepção do momento.
Tancredo não era um esquerdista, um radical, muito menos um revolucionário. Ministro de Getúlio Vargas, primeiro ministro da tentativa parlamentarista de João Goulart, deputado eleito de 1958 a 1956, primeiro-ministro no breve período do parlamentarismo brasileiro entre setembro de 1961 e julho de 1962.
Escolhido governador de Minas Gerais na primeira eleição direta pós-ditadura, em 1982, renunciou dois anos depois para se jogar naquela que parecia uma aventura de recuperar a esperança nacional na volta da democracia, golpeada pela queda da emenda Dante de Oliveira que, não por falta de votos, mas por ausência de quorum no Congresso em 25 de abril de 1984. Isso a despeito das pesquisas indicarem apoio de 84% da população às Diretas-Já.
Ato contínuo, a oposição, na voz do então governador de São Paulo Franco Montoro deu a palavra de ordem: “Não vamos nos dispersar”. Um chamamento à continuidade da luta. No caso, em prol da retomada da democracia. Sem invocação à violência nem convocação às ruas.
Apenas o reconhecimento da responsabilidade das forças políticas na reconstrução do que havia sido destruído pelo esforço do poder autoritário. Pela via do arbítrio ou por intermédio da propaganda enganosa. Cumpre lembrar que a maioria da população brasileira já havia saudado o governo dos militares por ocasião de período bem sucedido na economia. De onde se vê que, pelo bolso, é fácil tergiversar e iludir.
Findo esse período negro, estabelecido que o valor da liberdade e do exercício da política como fator essencial para o avanço da sociedade, o País aderiu à possibilidade de sair das trevas e retomar o caminho da luz, expresso na retomada total da democracia.
Pelo visto recuperamos o estado de direito, mas não soubemos dar a ele o uso mais eficaz. Em princípio, é verdade. Olhando melhor pode ser que não seja esse o problema, partindo da premissa de Tancredo Neves de que o jogo da democracia, sobretudo quanto complicado, dispensa os amadores e requer a atuação de profissionais.
Justamente o que ocorre com o atual governo que se debate em reações erráticas frente a um adversário frio e experiente como o PMDB. O partido esperou do PT “na esquina” e, na oportunidade certa, valeu-se de seus erros. Vários e, sobretudo, primários: não levar em conta a opinião do público, apostar todas as fichas na divisão dos pemedebistas e acreditar que o velho truque de distribuir cargos seria suficiente para capturar parte da base parlamentar e, com isso, conseguir virar o jogo.
Base esta de lealdade fluida, cujos desejos, circunstâncias e apelos o PMDB conhece muito melhor que o PT, um amador na matéria. Jogador de competência que só se expressa quando as condições são completamente favoráveis. Na adversidade, não conseguem atuar de modo estrategicamente eficaz e a fábula da celebrada habilidade política cai por terra.
Isso ocorre porque os petistas são profissionais da agitação propagandística, mas completamente amadores da arte de fazer política. Tarefa em que o PMBD em geral, Michel Temer em particular, cursou especialização, pós-graduação, mestrado e doutorado até a conquista do posto de catedráticos.
18 de abril de 2016
Dora Kramer, Estadão
Paulo Maluf, em tese um bamba na matéria, imbatível na arte de cooptar adeptos a título de quaisquer métodos _ notadamente aqueles materialmente objetivos _ perdeu de lavada a eleição no colégio eleitoral de 1985. Não propriamente por falha na metodologia, mas por ausência da percepção do momento.
Tancredo não era um esquerdista, um radical, muito menos um revolucionário. Ministro de Getúlio Vargas, primeiro ministro da tentativa parlamentarista de João Goulart, deputado eleito de 1958 a 1956, primeiro-ministro no breve período do parlamentarismo brasileiro entre setembro de 1961 e julho de 1962.
Escolhido governador de Minas Gerais na primeira eleição direta pós-ditadura, em 1982, renunciou dois anos depois para se jogar naquela que parecia uma aventura de recuperar a esperança nacional na volta da democracia, golpeada pela queda da emenda Dante de Oliveira que, não por falta de votos, mas por ausência de quorum no Congresso em 25 de abril de 1984. Isso a despeito das pesquisas indicarem apoio de 84% da população às Diretas-Já.
Ato contínuo, a oposição, na voz do então governador de São Paulo Franco Montoro deu a palavra de ordem: “Não vamos nos dispersar”. Um chamamento à continuidade da luta. No caso, em prol da retomada da democracia. Sem invocação à violência nem convocação às ruas.
Apenas o reconhecimento da responsabilidade das forças políticas na reconstrução do que havia sido destruído pelo esforço do poder autoritário. Pela via do arbítrio ou por intermédio da propaganda enganosa. Cumpre lembrar que a maioria da população brasileira já havia saudado o governo dos militares por ocasião de período bem sucedido na economia. De onde se vê que, pelo bolso, é fácil tergiversar e iludir.
Findo esse período negro, estabelecido que o valor da liberdade e do exercício da política como fator essencial para o avanço da sociedade, o País aderiu à possibilidade de sair das trevas e retomar o caminho da luz, expresso na retomada total da democracia.
Pelo visto recuperamos o estado de direito, mas não soubemos dar a ele o uso mais eficaz. Em princípio, é verdade. Olhando melhor pode ser que não seja esse o problema, partindo da premissa de Tancredo Neves de que o jogo da democracia, sobretudo quanto complicado, dispensa os amadores e requer a atuação de profissionais.
Justamente o que ocorre com o atual governo que se debate em reações erráticas frente a um adversário frio e experiente como o PMDB. O partido esperou do PT “na esquina” e, na oportunidade certa, valeu-se de seus erros. Vários e, sobretudo, primários: não levar em conta a opinião do público, apostar todas as fichas na divisão dos pemedebistas e acreditar que o velho truque de distribuir cargos seria suficiente para capturar parte da base parlamentar e, com isso, conseguir virar o jogo.
Base esta de lealdade fluida, cujos desejos, circunstâncias e apelos o PMDB conhece muito melhor que o PT, um amador na matéria. Jogador de competência que só se expressa quando as condições são completamente favoráveis. Na adversidade, não conseguem atuar de modo estrategicamente eficaz e a fábula da celebrada habilidade política cai por terra.
Isso ocorre porque os petistas são profissionais da agitação propagandística, mas completamente amadores da arte de fazer política. Tarefa em que o PMBD em geral, Michel Temer em particular, cursou especialização, pós-graduação, mestrado e doutorado até a conquista do posto de catedráticos.
18 de abril de 2016
Dora Kramer, Estadão
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