"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

FINANCIAL TIMES DUVIDA DO SUCESSO FUTURO DOS BRICS



Os BRICS (o acrônimo que representa Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) chegaram ao fim. Esta é ao menos a decisão de um dos seus fervorosos apoiadores, o banco americano Goldman Sachs, que durante mais de uma década promoveu os investimentos no grupo de emergentes. Depois de anos de perdas, a instituição se afastou discretamente do conceito, fundindo o seu fundo especializado nos Brics a um mais amplo abarcando todos os mercados emergentes.
Os ativos sob administração do Goldman Sachs haviam caído a apenas US$ 100 milhões (um grupo que em abril incluía papéis de empresas brasileiras como Ambev e BB Seguridade), de um pico de mais de US$ 800 milhões no fim de 2010.
Ao fechar o fundo, o banco de Wall Street sinalizou o fim da era na qual as quatro economias em desenvolvimento – a África do Sul foi incluída posteriormente nas reuniões de cúpula do grupo, mas não integrava o fundo do Goldman Sachs– pareciam estar dando forma a uma nova ordem mundial.
BONS TEMPOS
O acrônimo foi cunhado em 2001 por Jim O’Neill, secretário do Tesouro britânico e antigo economista-chefe do Goldman Sachs, que apontou que o crescimento do PIB real do quarteto havia ultrapassado o das economias maduras do G7 (que reúne sete das maiores economias globais).
O fundo BRIC do Goldman Sachs nasceu cinco anos depois e investia ao menos 80% de seus ativos líquidos em ações dos países do grupo.
Mas os mercados de ações se mantiveram muito voláteis, especialmente a partir de 2008, com a crise global e seu impacto no preço das commodities, e a tão alardeada transferência de poder econômico e político ainda não se materializou.
O acrônimo gerou uma série de conferências de cúpula (incluindo os sul-africanos, que se tornaram o quinto integrante a partir de 2010), um banco de desenvolvimento e um fundo de resgate de US$ 100 bilhões, mas continua travando uma disputa para ter maior representatividade em órgãos como FMI e Banco Mundial, que permanecem com o modelo dos anos 40, sendo comandados respectivamente por europeus e americanos.
BRASIL E RÚSSIA
A economia brasileira deve encolher em 3% neste ano, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), enquanto a Rússia – que enfrenta um colapso nos preços dos recursos naturais e o efeito das sanções internacionais devido ao conflito com a Ucrânia – deve sofrer contração de 3,8%.
Ambos os países perderam neste ano o grau de investimento (selo de bom pagador) concedido pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s e que foi uma das conquistas das duas nações no período de ascensão dos BRICS.
CHINA E ÍNDIA
Enquanto isso, embora a China continue a divulgar números econômicos fortes, muita gente duvida dos indicadores, imaginando como é que uma economia que viu redução de quase 20% nas importações nos últimos dois meses pode realmente estar crescendo em ritmo anualizado de 7%.
E a Índia continua a ser um relativo porto seguro, a caminho de um crescimento semelhante aos 7,3% de 2014, mas também viveu período de turbulência recente, com inflação alta e expansão do PIB perto dos 5% – fraco para o padrão da última década.
FORÇA POLÍTICA
O grupo de países continua determinado a se impor como força geopolítica distinta. Em 2012, na quarta conferência de cúpula dos BRICS, na Índia, o grupo revelou planos para estabelecer um banco de desenvolvimento que rivalizaria com o Banco Mundial e o FMI, dominados pela Europa e Estados Unidos, e no ano passado, em conferência de cúpula no Brasil, defendeu a ideia de um fundo de reserva para aliviar as pressões sobre a balança de pagamentos.
Mas no estudo “Os BRICS ainda importam?”, publicado no ano passado, estudiosos do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais argumentam que os “conflitos de interesses” e “diferenças políticas, sociais e culturais indisputáveis” dos membros provavelmente impediriam que o bloco traduzisse seu peso econômico em forma de poder político coletivo no cenário mundial.
A participação dos grupos no PIB (Produto Interno Bruto) mundial, que era de 8,5% em 2001, quase triplicou a sua fatia, que deve chegar a 23% neste ano, de acordo com estimativa do FMI.
“O grupo continua a ser primariamente retórico, e não concreto”, escreveu Carl Meacham, diretor do programa das Américas no centro de estudos, sediado em Washington. “E a falta de realizações tangíveis é um mau presságio para a sobrevivência do grupo em longo prazo.”
(Tradução de Paulo Migliacci, da Folha)

17 de novembro de 2015
Deu no Financial Times

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