"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

PELO CAPITALISMO



O plano apresentado pelo Governo prevê que a metade do esforço de ajuste de R$ 66 bilhões virá de um imposto que o próprio Governo, há duas semanas, dizia descartar, por ser rejeitado pelo país. E projetos de reformas estruturais, como a da Previdência, ficam apenas como promessas de longo prazo.

Para o economista Fabio Giambiagi, que reconhece elementos positivos no ajuste, há outros caminhos que podem e devem ser trilhados, com destaque para a necessidade “de o país encarar, de uma vez por todas, o desafio previdenciário”.

No momento em que a economia está estagnada, é preciso encontrar os caminhos para aumentar produção, afirma o economista. Enquanto sociedades de países da Europa e dos EUA se destacam pela obsessão pela produtividade, o Brasil, em contraposição, está entre os 25% menos produtivos da América Latina: a produtividade do trabalho no Brasil , segundo estudo recente de Roberto Ellery, do IPEA, é de US$17.295 por trabalhador, enquanto nos EUA é de US$ 93.260 e, na Coréia do Sul, US$ 59.560.

Para Fabio Giambiagi , na moderna história política brasileira, o sistema capitalista sempre foi visto como uma extravagância. Ele decidiu colocar o dedo nesta ferida em seu mais recente livro Capitalismo – Modo de Usar (editora Campus/Elsevier), em que percorre a trajetória da história política e econômica do país para demonstrar que, mesmo após o sepultamento do socialismo no mundo e a ascensão do capitalismo como o sistema dominante em quase todo o planeta, o Brasil mantém um componente anticapitalista densamente enraizado na sociedade.

Não por acaso, a epígrafe do livro cita uma reflexão do ex-presidente FHC dirigida a Armínio Fraga, ao prepará-lo para a sabatina no Senado em 1999: “o Brasil não gosta do sistema capitalista”.

Para Giambiagi, a cultura nacional mantém viva a noção de que a solução de todos os problemas virá dos favores estatais - com uma forte presença do Estado e suposta garantia de um bem estar social amplo.“Ensina-se a ter antipatia ao capitalismo nas escolas secundárias e nas universidades”, alerta o economista.

O livro de Giambiagi vem em um momento histórico, do esgotamento de um ciclo econômico e político marcado pelo populismo e pela corrupção. Foram anos de incentivo irresponsável ao consumo, deixando em segundo plano a necessidade de ajustar as contas públicas e os necessários investimentos em infraestrutura. Sem falar nas reformas estruturais que foram abandonadas.

Ao mesmo tempo, o voto emblemático do PSDB em favor do virtual fim do fator previdenciário sugere que a cultura da generosidade estatal vai muito além da simples fronteira do petismo e dos grupos esquerdistas em geral. Ao negar o capitalismo e sua evolução natural, escolhemos o caminho do atraso, adverte Giambiagi.

Ele conduz o leitor a compreender melhor o sistema capitalista e os obstáculos existentes à sua evolução com uma linguagem leve e boas pitadas de humor e ironia. A principal conclusão é que o progresso futuro está rigorosamente atrelado às leis do capitalismo.

Para que uma economia tenha êxito, no mundo moderno, cabe aos governos um papel crucial na regulação e na coordenação de certas políticas, mas a chave do dinamismo é a competição travada no campo do setor privado. É para os EUA – país símbolo da competitividade – que devemos olhar, defende Giambiagi.

Nas palavras de Fabio Giambiagi, “o Brasil necessita, de uma vez por todas, se assumir como uma economia capitalista. Precisamos urgentemente passar por uma mudança de mentalidade” - dispara. É uma retomada do discurso com que Mario Covas assumiu sua candidatura à presidência da República pelo recém-fundado PSDB em 1989: "O Brasil precisa de um choque de capitalismo".

Mudança de mentalidade representada na atual visão do jornalista e antigo militante esquerdista Fernando Gabeira, que assina o prefácio do livro. Gabeira deixa de lado décadas de pregação socialista para reconhecer que o capitalismo é o caminho que o país deve buscar. “O confronto histórico com o socialismo realmente existente já revelou a superioridade esmagadora do capitalismo”, escreve o jornalista.

A descrença profunda no sistema capitalista e a ilusão com o ideal socialista podem ser superadas para tirarmos o Brasil do passado, é o recado que o economista Fábio Giambiagi deixa no livro.



21 de setembro de 2015
Merval Pereira é Jornalista e membro das Academias Brasileira de Letras e de Filosofia. Originalmente publicado em O Globo em 19 de setembro de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário