A reportagem de Aguirre Talento, Estelita Hass Carrazai e Bela Megale, Folha de São Paulo edição de terça-feira, focalizou com nitidez plena o abatimento do ex-ministro José Dirceu, durante o depoimento sobre sua participação no assalto à Petrobrás, que dever prestar, com base na Operação Lava-Jato, à CPI da Câmara dos Deputados. Manteve-se tristemente silencioso ao longo também dos esclarecimentos que lhe foram cobrado pela Polícia Federal. Talento, Estelita Carrazai e Bela Megale assinalaram que tal postura foi recomendada pelo advogado Roberto Podval. A meu ver um equívoco total.
O título deste artigo – claro – está inspirado na obra de Hitchcock, A Tortura do Silêncio, com o grande ator Montgomery Cliff no papel principal. O de um padre que recebe no confessionário, a revelação de um assassino, e que é conduzido à angústia de denunciá-lo, ou, pelo silêncio, permitir que um acusado inocente assumisse o crime. Esse dilema, inclusive, encontra-se colocado novamente, sessenta anos depois por Woody Allen, no filme O Homem Irracional, em cartaz esta semana nos cinemas.
Mas eu falava em tortura do silêncio, no caso de José Dirceu trata-se de autotortura. Pois manter-se em silêncio diante de evidências tão fortes e aparentes não há de ser nada fácil. Pelo contrário. O que pode significar o silêncio no caso de José Dirceu? Na verdade uma tácita confissão de culpa. Sobretudo porque se sua tese é a da inocência, natural seria que o personagem inocente teria tendência lógica de protestar inocência. Mas como fazê-lo, se ele próprio, em regime de prisão domiciliar, encontrou-se em Havana, segundo a revista Época, com o ex-presidente Lula e o empresário Marcelo Odebrecht? Esta informação foi fornecida pela Embaixada brasileira em Cuba.
É O MAIS IMPORTANTE
Dirceu não é o único dos fortemente acusados, sobretudo através de delações premiadas, a se flagelar com a autotortura do silêncio. Não é o único, mas verdadeiramente o ator mais importante da trama e do drama através do qual foram abertas as comportas para que bilhões de reais, em forma de dólares, transitassem ou saíssem do pais para depósitos em bancos internacionais. Homem fatal, na visão eterna de Nelson Rodrigues, seria presidente da República não houvesse o episódio do mensalão que levou o presidente Lula a demiti-lo da Casa Civil. Ele era o capitão do time, como Luiz Inácio da Silva o chamava.
TERIA SIDO PRESIDENTE
Não fosse o enorme erro cometido, pelo qual foi condenado pelo STF, seria ele, e não Dilma, o presidente da República. Dilma deve seus dois mandatos a um lance do destino. Lance que levou Lula a mudar de foco e de candidato. Mas esta é outra questão. O fato agora em tela é a teia que aprisiona José Dirceu. Dificilmente dela poderá sair em liberdade. Os depoimentos contra ele se avolumam, as explicações que forneceu para o recebimento de cerca de 34 milhões de reais por consultorias prestadas a empreiteiras agravam sua situação. Que consultorias foram essas? Quais as equipes que constituiu para tais tarefas? Quais os conteúdos que produziu? Qual a resposta para as acusações que recebeu de parte do empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC e chefe do Clube VIP das empresas que obtinham contratos na Petrobrás?
As respostas encontram-se na autotortura a que se submeteu. A autotortura de se manter calado diante da onda de indignação popular que o submerge no mar das contradições e das ações da lei e da Justiça. O personagem de Hitchcock escolheu o caminho da verdade.
03 de setembro de 2015
Pedro do Coutto
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