"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

EMPREITEIRO EXPLICA ESQUEMA E INCRIMINA PT E ODEBRECHT


A Odebrecht nega, mas Pessoa confirma
O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, declarou na audiência em que são réus o presidente e executivos da Odebrecht que havia um ‘pacto de não agressão’ entre as empreiteiras que formaram cartel na Petrobras. Ele citou, uma a uma, as obras em refinarias que a UTC Engenharia, da qual é o presidente, ganhou na estatal – segundo Pessoa, 70% dos negócios da UTC estão na Petrobras.
“Nas obras que ganhamos sempre houve propina”, afirmou ao juiz federal Sérgio Moro.
O juiz da Lava-Jato perguntou se havia dificuldades com os contratos se não houvesse pagamento de propinas.
“Na verdade isso era automático, passou a ser um fato levando a outro. Não se discutia mais se tinha que pagar ou não. Discutia-se quanto ia pagar”, respondeu o empreiteiro.
“Alguma vez o senhor se recusou a pagar?”, indagou o juiz. “Não me recordo de ter recusado nenhum, talvez diminuído, redução (do valor)”, respondeu Pessoa.
NUMA CONTA DO PT…
Pessoa disse que seu primeiro contato na Diretoria de Serviços da Petrobrás foi Pedro Barusco, então gerente de Engenharia e braço-direito de Renato Duque. “Depois, o próprio Duque me procurou e começou a dizer que eu tinha que fazer contribuições políticas que essas contribuições teriam que ir através do Vaccari.”
O juiz Sérgio Moro perguntou “Essas contribuições eram como parte do acerto de propina?”.
“Sim, como parte, mais claro impossível”, respondeu o empreiteiro. “Eu depositava oficialmente numa conta do Partido dos Trabalhadores.”
O juiz insistiu. “Essa contribuição vinha do acerto de propinas para a Diretoria de Serviços?”
O empreiteiro respondeu. “Sim, para mim eu estava pagando a Vaccari, a mesma coisa.”
O EXEMPLO DA REPAR
Ele apontou, por exemplo, o contrato da Repar (Refinaria Getúlio Vargas do Paraná). “Um caso mais claro é o da Repar. Ficamos encarregados de pagar a Diretoria de Abastecimento e a Odebrecht ficou encarregada de resolver o problema da Diretoria de Serviços. Como um depois não falava com o outro eu não tenho como afirmar se alguém pagou. Nós pagamos o que nós combinamos de pagar. Foi tratado entre a UTC e a Odebrecht e a OAS também.”
Ao falar de propinas no âmbito do Consórcio TUC no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o empreiteiro foi taxativo. “É uma história um pouco mais longa, mas também houve pagamento de propina. Nesse caso ficamos encarregados de pagar a Diretoria de Serviços (comandada por Renato Duque, elo do PT na Petrobras), o sr. João Vaccari e ao (Pedro) Barusco. Fizemos esses pagamentos, consta do meu termo de colaboração. (Nesse caso) não ficamos com a Diretoria de Abastecimento, não ficou a nosso cargo, ficou a cargo do Márcio (Faria, executivo da Odebrecht) resolver o que fazer.”
CUSTO DO CONSÓRCIO
O juiz Sérgio Moro indagou do empreiteiro. “Essa negociação de pagamento de propinas era pactuada entre todos os participantes?”
“Sim, mesmo porque o custo era do consórcio”, respondeu Ricardo Pessoa.
O juiz da Lava-Jato quis saber com quem da Odebrecht o empreiteiro tratou sobre propinas. “Tratou com algum executivo da Odebrecht nesse contrato (Consórcio TUC no Comperj)?”
“Com Márcio Faria.”
“Com nenhum outro?”, insistiu o juiz.
“Não.”
“Minhas tratativas eram com Márcio Faria”, declarou o empreiteiro delator.
AUTONOMIA
“Márcio Faria tinha autonomia ou se reportava a algum superior?”, questionou o juiz da Lava Jato.
“Sempre teve autonomia”, respondeu Ricardo Pessoa.
O juiz quis saber se alguma vez Márcio Faria mencionou necessidade de tratar da propina com algum superior. “Não”, disse o empreiteiro.
O juiz perguntou se ele conhece o presidente da Odebrecht. “Conheço, estive com ele duas vezes, não tratei com ele esses assuntos, absolutamente.”
Desde o início das investigações, a Odebrecht tem reiterado taxativamente que não participou do esquema de propinas na Petrobras. Agora, a empreiteira tem alegado que só se manifesta nos autos do processo.

03 de setembro de 2015
Ricardo Brandt, Julia Affonso, Mateus Coutinho e Fausto Macedo
Estadão

Nenhum comentário:

Postar um comentário