Ulalá! Brasília, nesta semana, às vésperas do protesto do dia 16, viveu mesmo em ritmo de "vida loka". O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que chegou a devolver uma Medida Provisória ao Executivo porque Rodrigo Janot o incluíra, lá atrás, na lista de alvos de inquérito da Lava-Jato, descobriu as virtudes superiormente interessantes da governabilidade. E passou a falar com a inflexão dos estadistas que vislumbram o futuro, além de toda terra devastada.
Se, até anteontem, estudava uma maneira de retardar a recondução de Janot à PGR, mostra-se, de súbito, interessado em acelerar os trâmites. Mais do que isso: entregou ao governo uma pauta para fazer o país entrar nos eixos, o que é pura conversa mole. Ainda outro dia, o presidente do Senado achava que o peso do ajuste estava caindo todo sobre as costas dos pobres, e seu discurso fazia a CUT ficar vermelha de inveja. Agora, ele descobriu aqueles nobres sentimentos que costumam assaltar alguns políticos brasileiros quando pensam acima das paixões.
Renan passou a intuir que ou não será denunciado por Janot ou que, de tão inepta, não há chance de a peça ser acatada pelo Supremo, e isso parece lhe ter aberto os horizontes.
Diz-se em Brasília que ele pode "influenciar" pelo menos três ministros do TCU. Estariam na sua cota Raimundo Carreiro, Bruno Dantas e Vital do Rêgo.
Dois outros, fora desse grupo, já seriam favas contadas. Bastam quatro dos nove. Em caso de empate, Aroldo Cedraz, o presidente, votará pela aprovação das contas de Dilma.
É a versão farsesca de que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, é um incendiário que torna verossímil, mas nunca verdadeiro, o papel de Renan como bombeiro. Muita coisa andou nesta semana. Querem ver?
No dia 30 de abril, referindo-se a Michel Temer, Renan afirmou que a coordenação política do governo não podia ser "uma articulação de RH para distribuir cargos e boquinhas". O vice até saiu um pouco do seu tom habitual. Lembrou que "respeito institucional é a essência da atividade política, assim como a ética, a moral e a lisura". Essas três últimas palavras devem ter mexido com os brios de Renan.
Do outro lado da linha, como se sabe, a ordem é não deixar o homem respirar. Todos os jornalistas isentos do governismo passaram a cobrar a execução sumária de Cunha. A coisa não se limitou às "Margaridas das Redações". A marcha das flores do mal do MST serviu, de modo escancarado, ao proselitismo do PT e do governo. Entre o discurso de Lula e o de Dilma, aquelas valentes senhoras resolveram pedir... a cabeça de Cunha! Com patrocínio da CEF, do BNDES e de Itaipu. Imaginem se a iniciativa privada promovesse um ato público em favor do impeachment da presidente... As Margaridas petaladas dos teclados gritariam "Golpe! Abaixo Pinochet!".
Desafio a margem, válido também para colunistas desta Folha: apontar uma só dificuldade presente que Dilma esteja enfrentando que tenha sido criada por Cunha. Sem o seu bárbaro de estimação, o que seria da nossa governanta? Os Amigos da Amiga falariam mal de quem, já que não dá para falar bem da Dilmãe?
O grande acordão já está costurado. Falta agora combinar com os russos das ruas, sempre considerando que os muitos milhares deste domingo serão apenas a face minimamente visível da indignação dos pacíficos, que não deve ser desafiada.
14 de agosto de 2015
Reinaldo Azevedo
É a versão farsesca de que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, é um incendiário que torna verossímil, mas nunca verdadeiro, o papel de Renan como bombeiro. Muita coisa andou nesta semana. Querem ver?
No dia 30 de abril, referindo-se a Michel Temer, Renan afirmou que a coordenação política do governo não podia ser "uma articulação de RH para distribuir cargos e boquinhas". O vice até saiu um pouco do seu tom habitual. Lembrou que "respeito institucional é a essência da atividade política, assim como a ética, a moral e a lisura". Essas três últimas palavras devem ter mexido com os brios de Renan.
Do outro lado da linha, como se sabe, a ordem é não deixar o homem respirar. Todos os jornalistas isentos do governismo passaram a cobrar a execução sumária de Cunha. A coisa não se limitou às "Margaridas das Redações". A marcha das flores do mal do MST serviu, de modo escancarado, ao proselitismo do PT e do governo. Entre o discurso de Lula e o de Dilma, aquelas valentes senhoras resolveram pedir... a cabeça de Cunha! Com patrocínio da CEF, do BNDES e de Itaipu. Imaginem se a iniciativa privada promovesse um ato público em favor do impeachment da presidente... As Margaridas petaladas dos teclados gritariam "Golpe! Abaixo Pinochet!".
Desafio a margem, válido também para colunistas desta Folha: apontar uma só dificuldade presente que Dilma esteja enfrentando que tenha sido criada por Cunha. Sem o seu bárbaro de estimação, o que seria da nossa governanta? Os Amigos da Amiga falariam mal de quem, já que não dá para falar bem da Dilmãe?
O grande acordão já está costurado. Falta agora combinar com os russos das ruas, sempre considerando que os muitos milhares deste domingo serão apenas a face minimamente visível da indignação dos pacíficos, que não deve ser desafiada.
14 de agosto de 2015
Reinaldo Azevedo
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