"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O DRAGÃO FERIDO E O BRASIL

A melhor avaliação da turbulência global gerada pela China é do gestor de fundos Jim Chanos, conforme a Folha reproduziu:

"Ninguém tem a menor ideia do que está acontecendo".

É natural: toda ditadura se move em um ambiente de opacidade que dificulta uma avaliação correta da realidade.

Dessa impossibilidade, surgem avaliações que vão de um extremo, apocalíptico, ao oposto, uma reação zen. Exemplo desta última está no blogue "Desmistificando a finança", inserido no "Monde":

"O mundo não está na iminência de um colapso financeiro", tranquiliza Georges Ugeux, executivo-chefe de um banco internacional de negócios de Nova York.

O cenário apocalíptico aparece no boletim "Espresso", enviado por e-mail pela revista "The Economist".

A nota põe no jogo a mãe de todas as crises, a de 1929, e escreve:

"A melhor comparação [com a situação atual] talvez seja com o 'crash' de Wall Street em 1929. Naquela época, acreditava-se que o 'crash' desencadeara a Grande Depressão, mas pesquisas modernas sugerem que a queda dos preços das ações era um sintoma de profundos problemas na economia real, não a causa. É um espelho da pergunta que se faz hoje: quão ruim é o estado da economia real chinesa?"

Parece tão ruim que ameaça até o cargo do primeiro-ministro Li Keqiang, aquele que faz apenas três meses desfilava por Brasília prometendo um pote de ouro.

"A posição de Li certamente tornou-se mais precária como resultado da presente crise", diz ao "Financial Times" Willy Lam, especialista em China da Universidade Chinesa de Hong Kong.

Há quem ache tão ruim que se permite chutar um número de crescimento assombrosamente baixo (para os padrões chineses): Patrick Artus, da consultora Natixis, afirma que o crescimento chinês está perto de 2%, muito longe, portanto, dos 7% oficialmente previstos.

Artus cita dois elementos para justificar seu pessimismo: a forte desaceleração das exportações, que caíram 8,3% em julho, em termos anualizados, e uma demanda interna que demora para pegar no breu.

Como "ninguém tem a menor ideia do que está acontecendo", prefiro me basear em alguém de dentro, no caso Zheng Xinli, um dos arquitetos do programa de reformas da China.

Em recente debate promovido pelo centro de estudos norte-americano Council on Foreign Affairs, Xinli admitiu que, nos últimos quatro anos, "vimos uma desaceleração do crescimento econômico na China. Na primeira metade deste ano, o crescimento anual foi de 7%, mas esses quatro anos consecutivos de pressão para baixo levaram a um sentimento generalizado de desaceleração".

Xinli acrescenta um segundo fator negativo, a deflação: "Nosso índice de preços ao consumidor tem decrescido nos últimos 14 meses. Isso joga água fria no entusiasmo do investidor e leva a massacrantes previsões econômicas".

É uma óbvia má notícia para o mundo, já que a China representa hoje 15% da economia mundial. Para o Brasil, que já cambaleia, é pior ainda, uma vez que quase 20% de suas exportações vão para uma economia em desaceleração e, por isso, menos compradora.



27 de agosto de 2015
Clóvis Rossi

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