"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

LEI DO RETORNO

Uma amiga querida me levou hoje à uma cidadezinha no interior onde tem um médium famoso. Fui na curiosidade. Me haviam sido dito que o médium, de 85 anos, fazia lá uma linda obra social. Cheguei na hora em que, numa sala grande e aberta para o jardim, revezavam-se pessoas que falavam coisas relativas ao espiritismo. Um desfile de platitudes, clichês sobre a necessidade de mais amor no mundo etc. Então resolvi ficar lá fora, num banco de madeira, “tomando ar”.

Pedaços de frases esparsas chegavam até mim, sem nexo. Uma mulher esfarrapada, com ar abandonado, levando uma criancinha no colo e arrastando outra pela mão chegou então em mim e perguntou algo sobre “um passe”. Ficou ali, implorante. Era uma pessoa realmente pobre. Notei o boné sujo, a sandália havaiana meio estropiada, roupas uma em cima da outra. E fazia muito calor, naquelas proximidades do meio dia. Meio irritado, disse para ela falar com outra pessoa, que eu não sabia nada de “passe”. Pensei na hora que fosse distribuição de passes grátis para ônibus, sei lá. E entrei na sala da discurseira para me livrar dela.

Pois acredita? A mulher também entrou, por outra porta. As crianças, chorando. Daí eu sai, outra vez. Mal havia sentado no banco e a infeliz saiu junto. Era uma perseguição, parecia. O jeito foi me render e ouvir o que o sujeito lá dentro falava: era sobre a Lei do Retorno. Ele disse que os políticos que roubavam do povo, tirando comida do pobre, até de merenda escolar, iriam todos sofrer as consequências desse descaso com a vida humana. Pensei: discurso anti-PT, será?

Mas não, o que ele explicava é que essa gente má podia ter esta vida ceifada por doenças. Bom, pensei, o Maluf está vivo. Mas o Quércia morreu. Dúvidas. Talvez, na doutrina espírita o retorno em castigo seria numa outra encarnação, podia ser. Mas o fulano insistia que o castigo dos políticos corruptos (gente como o Lula) seria aqui mesmo. No Sírio, com câncer? Será que ele acreditava mesmo nisso, nesse karma à vista, sem parcelamentos como na Casa Bahia?

Era isso. Interessante, vou ler um pouco sobre espiritismo, de que não sei nada. Mas gostei dessa Lei do Retorno. Você faz aqui, paga aqui - de um jeito ou de outro. Me senti mais esperançado, os caras do Mensalão, do Lava Jato, do Postalis e de outros escândalos (muitos) finalmente iriam se danar, sem a ajudinha do Moro.

Mas meu alívio durou pouco. Me lembrei da pobre mulher, aquela que eu fugi dela, ao invés de tentar ajudá-la. Só quis me afastar da coitada, não me ocorreu chamá-la de lado, respeitosamente e lhe dar uma grana. Enfim, pequei ou por falta de caridade ou porque não encostava em alguém tão necessitado , fazia muito tempo.

Notei quando ela entrou na fila do passe, quando as prédicas acabaram. Melhor assim. Mas fiquei me perguntando qual será meu Retorno por essa falta de caridade involuntária?

Lição de hoje: preciso aprender a lidar com o sofrimento alheio.

27 de agosto de 2015
Enio Mainardi

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