As empresas (pessoas jurídicas) e as pessoas físicas estão devendo nada menos que 3 trilhões de reais aos bancos do país, especialmente aos dois maiores, Itaú e Bradesco. É o que revela a excelente reportagem de Martha Beck e Ronaldo d’Ercole, O Globo de 25 de abril, com base em informações do chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel. Do total de 3 trilhões, 1 trilhão e 600 bilhões pertencem a empresas, e 1 trilhão e 400 bilhões a pessoas físicas. Sobre o montante total incidem juros diferentes.
Taxa media de 54% ao ano para as pessoas físicas e índice médio de 26% a cada doze meses para as pessoas jurídicas. Pode-se dizer assim que os juros por ano no Brasil, no plano geral, oscilam em torno de 1 trilhão e 200 bilhões de reais.
Esse índice nas operações comuns, porque os juros sobre os cheques especiais alcançam o absurdo de 220% a/a. Mais absurdo ainda os juros cobrados pelos cartões de credito nas compras parceladas que vão para a estratosfera de 345% anuais.
Voltando a atmosfera vemos que 40% sobre 3 trilhões representam uma remuneração anual de 1 trilhão e 200 bilhões. Um pouco mais do que a metade da divida interna do governo que é, em números redondos, de 2 trilhões.
EFEITOS SOCIAIS
Gostaria que Flávio José Bortolotto e Wagner Pires, companheiros deste site, opinassem a respeito do tema. Não apenas em função da rentabilidade que os endividamentos fornecem ao sistema bancário, nele incluído o Banco do Brasil, mas sobre os efeitos sociais contidos em tal universo financeiro. Isso porque os salários pagos no Brasil são praticamente de 40% do Produto Interno Bruto, ou seja, 2,2 trilhões, enquanto o endividamento dos trabalhadores e trabalhadoras eleva-se a 1 trilhão e 400 bilhões. Esta parcela corresponde a praticamente 70% de sua remuneração anual, e pessoalmente tenho a impressão de que a tendência e subir, uma vez que o crescimento das dívidas vem se elevando nos últimos anos.
Isso de um lado. De outro verificamos que os juros pagos pelas dividas existentes, tanto a das empresas quanto as dos assalariados, atingem um total muitas vezes superior aos dos investimentos realizados, sejam eles pelo poder publico, sejam eles pelo setor privado.
O processo confirma, portanto, a tese do economista Thomas Piketty, autor do livro O Capital no Século XXI, no qual, após profundas pesquisas, constatou que no cenário mundial a remuneração das aplicações financeiras, que utilizam muito menos mão de obra, superam por larga margem a remuneração do trabalho humano. E superam também o volume dos investimentos efetuados, com reflexo na retração do mercado de emprego.
DESEMPREGO E REEMPREGO
Por falar em mercado de emprego, é preciso se analisar com atenção a matéria, escapando-se do raciocínio simplista apenas baseado no numero da mão de obra. Há desempregos e reemprego, mas a pergunta definitiva é se nos reempregos os salários pagos foram mantidos quando se deram as demissões. Se tudo e relativo no universo, segundo Einstein, tal relatividade tem que levar em conta tanto os empregos no mercado de trabalho quanto os salários pagos aos que trabalham. O IBGE nas suas estatísticas não focaliza esse ponto também chave da questão, simultaneamente.
Outro aspecto, este sim, destacado pelo IBGE, reportagem de Isabel Versiani e Gustavo Patu, Folha de São Paulo de ontem, domingo, refere-se ao aumento da população de mais de 65 anos e a queda da população de até 14 anos de idade. Isso significa a necessidade de um aproveitamento maior dos mais velhos no mercado de trabalho, pois e sabido que as aposentadorias pagas pelo INSS são baixas, como recentemente revelou o Ministério da Previdência Social, informando que os vencimentos médios dos 30 milhões de aposentados e pensionistas oscila em torno de 1.300 reais por mês.
São desafios assim expostos as ações do governo Dilma Rousseff, infinitamente mais importantes do que o corte de 50% nas pensões deixadas por morte pelos segurados. Principalmente, a contração dos investimentos, como o caso da Petrobras, porque este fenômeno reduz ainda mais a oferta de empregos e, portanto, a de salários, pois está claro que quanto maior for a demanda e menor a oferta de emprego, será também menor a remuneração oferecida ao trabalho humano. Esse problema é de urgência absoluta, não só para o Planalto, mas para o Brasil.
27 de abril de 2015
Pedro do Coutto
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