'NYT' VÊ CRESCER O PODER DE CUNHA E RENAN, APESAR DAS ACUSAÇÕES
NO 'NYT', CIENTISTA COMPARA CHEFES DO CONGRESSO À SÉRIE DE TV SOBRE MAU CARATISMO NA POLÍTICA
O "NEW YORK TIMES" OBSERVA QUE EM OUTROS PAÍSES ACUSAÇÕES SEMELHANTES TERIAM BANIDO FIGURAS COMO CUNHA E CALHEIROS DA VIDA PÚBLICA. (FOTO: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO) |
O "NEW YORK TIMES" OBSERVA QUE EM OUTROS PAÍSES ACUSAÇÕES SEMELHANTES TERIAM BANIDO FIGURAS COMO CUNHA E CALHEIROS DA VIDA PÚBLICA. (FOTO: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO)
Os dois homens que dividem o poder num Congresso Nacional atormentado por denúncias de corrupção estão, na verdade, aumentando seu poder sobre a presidente atormentada por denúncias de corrupção. Dilma Rousseff, na avaliação jornal New York Times, em reportagem assinada por Simon Romero, em sua edição desta segunda-feira (27).
O jornal lembra que chefe do Senado, Renan Calheiros, foi acusado de evasão fiscal, de usado um jato do governo para visitar um cirurgião que aliviou sua calvície com implantes de cabelo e permitiu que o lobista de uma empresa de construção civil pagasse a pensão alimentícia para a filha de um caso extraconjugal com uma jornalista de televisão. Já Eduardo Cunha, presidente conservador da Câmara dos Deputados, também tem enfrentado - e lutou com sucesso - uma lista de acusações de corrupção, de desvio de fundos para viver em um apartamento pago por um concessionário dinheiro no mercado negro.
Em outros países democráticos, políticos nessa situação são banidos da vida pública, mesmo que nunca foram condenados, mas não no Brasil, onde os homens que comandam o Congresso aumentam seu poder sobre Dilma, diz o NYT.
O movimento reflete numa das mais profundas mudanças no poder político no país em décadas, na sequência de um caso de suborno envolvendo a Petrobras.
"Este é o 'House of Cards", estilo brasileiro, com os chefes no Congresso apreendem um momento em que o presidente é muito fraco", disse David Fleischer, professor emérito de ciência política na Universidade de Brasília. "Eles estão colocando em marcha uma estratégia de simplesmente deixar Dilma balançar com o vento", acrescentou.
A estratégia parece estar funcionando, segundo o jornal, a mais importante publicação dos Estados Unidos. Embora tanto Cunha quanto Calheiros estejam na lista de dezenas de figuras políticas sob investigação no escândalo de suborno, eles parecem estar desviando a atenção dos problemas se voltando contra Dilma, cuja aprovação pública classificação situa-se em sombrios 13 por cento.
Ao fazer isso, eles conseguiram proteger grande parte do Congresso brasileiro de culpa, segundo a reportagem. O seu próprio índice de aprovação sombrio subiu para 11 por cento em abril, de 9 por cento em março, de acordo com o Datafolha. A pesquisa, realizada por meio de entrevistas com 2.834 pessoas, tem uma margem de erro de mais ou menos dois pontos percentuais.
Dilma, reeleita em outubro, enfrenta enormes protestos que pedem seu impeachment. Ela foi presidente do conselho de administração da gigante petrolífera estatal 2003-2010, grosso modo, ao período em que o esquema foi iniciado. O escândalo envolveu executivos da Petrobras aceitar grandes quantidades de subornos, enriquecendo-se ao mesmo tempo que a canalização de fundos para figuras políticas e esquerdista Partido dos Trabalhadores de Dilma, de acordo com depoimento de ex-executivos.
Nenhum testemunho surgiu indicando que Dilma pessoalmente lucrado com o esquema. Mas, ao mesmo tempo, Dilma foi colocado na defensiva, insistindo que o suborno não foi canalizado para sua campanha eleitoral. O escândalo se aproximou da presidente após a detenção do tesoureiro de seu partido, João Vaccari Neto.
Como seu partido enrolado no escândalo, Dilma enfrentando uma rebelião do centrista PMDB, que ancorou sua coalizão e controla ambas as casas do Congresso. Tanto Calheiros, o presidente do Senado, e o Cunha, o presidente da Câmara, são membros do partido se rebelando. O próprio vice de Dilma, Michel Temer, é o presidente do PMDB, e aumentou seu poder depois que a presidente recorreu a ele para aliviar as tensões com o Congresso.
Em cada virada no escândalo de corrupção, os chefes do PMDB ter movido a corroer o poder do esquerdista Dilma, parando algumas das medidas de austeridade propostas pelo seu ministro das finanças; frustrando candidatos do presidente de seu gabinete; e avançando medidas socialmente conservadoras objetivo de enfraquecer as leis de controle de armas e que revoga a legislação mantendo adolescentes sejam julgados como adultos.
Embora estejam adotando posturas conflitantes com Dilma, Calheiros e Cunha assumem posições diferentes, por exemplo, em um projeto de lei com o objetivo de tornar mais fácil para as empresas a terceirizar alguns operações.
Cristovam Buarque (PDT-DF), senador respeitado na esquerda, que votou contra Dilma na reeleição, disse que a crescente influência sobre o presidente pela troika formada pelos chefes do Congresso e do vice-presidente equivalia a um "golpe de Estado".
"Em vez de um general, um brigadeiro e um almirante agindo com o apoio das forças armadas, nós temos o vice-presidente da República e os chefes do Congresso de manobra com o apoio das tropas do PMDB", disse Buarque.
A crescente resistência do Congresso representa um ponto de virada para uma instituição que tem sido amplamente desprezado no Brasil para a sua propensão para premiar-se com aumentos salariais quando outras partes da sociedade suportar as medidas de austeridade, e por sua capacidade de proteger os seus membros a enfrentar desafios legais.
Quase 40 por cento dos legisladores federais estão sob investigação em uma série de crimes, incluindo o desmatamento ilegal, peculato e tortura. É preciso uma grande coisa para todo o membro a ser expulso do Congresso. Um exemplo: Hildebrando Pascoal, um legislador condenado por operar um esquadrão da morte cujas vítimas foram desmembrados com motosserras.
Poucos legisladores federais já enfrentaram prisão por qualquer crime. Depois de enfrentar escândalos no passado, os valores agora no comando do Congresso têm mostrado uma capacidade excepcional para suportar as acusações e ressuscitar as suas fortunas. Tanto Calheiros, o chefe do Senado, e o Cunha, o chefe da Câmara, afirmaram que eles são inocentes em relação ao esquema de suborno na Petrobras.
Calheiros, de 59 anos, não respondeu aos pedidos de comentários sobre as outras alegações de corrupção que tem enfrentado.
Uma porta-voz de Cunha, 56, disse que ele negou irregularidades em cada uma das acusações de corrupção contra ele, enfatizando que ele perseguiu uma ação legal contra as organizações de notícias que relataram em alguns dos casos, em um esforço para "restabelecer a verdade."
"Pelo que seu passado parece mostrar, Cunha pode não ser um monumento à ética", a revista Veja, disse em um perfil de outra maneira brilhante de o legislador, em que ele foi descrito na capa como "político mais poderoso do Brasil". A revista, que muitas vezes relata criticamente o governo de Dilma Rousseff, enfatizou que nenhuma das acusações contra o Sr. Cunha no sistema legal do Brasil teve quaisquer consequências.
Como as batalhas de Dilma para sua sobrevivência política, Cunha, um comentarista de rádio cristã evangélica e economista, está levantando seu perfil nacional em aparições em todo o Brasil, defendendo uma agenda socialmente conservadora e sugerindo que o PMDB, que concordou por anos para alguns dos objectivos do Partido dos Trabalhadores, está forjando suas próprias ambições políticas distintas.
"A maioria da sociedade pensa como nós pensamos", disse Cunha em uma reunião de cristãos evangélicos no Rio de Janeiro, em março, alegando que os protestos por ativistas dos direitos gays eram obra de uma "minoria".
Cunha disse ta,bém em outra ocasião que o avanço da legislação de acesso legal ao aborto no Brasil teria que ocorrer sobre o seu "cadáver." O aborto é ilegal no Brasil na maioria das circunstâncias, permitida apenas quando a mulher foi estuprada, sua vida está em perigo ou se o feto tem um defeito grave nos quais as partes do cérebro e do crânio estão ausentes.
Em razão da influência crescente do Congresso sob líderes como Cunha, alguns observadores estão advertindo a presidente para proceder com cuidado, se ela espera ressuscitar sua presidência.
"Cunha é sádico, resistente, inteligente, e ele tem carisma", Claudio Lembo, ex-governador de São Paulo, disse ao jornal Valor Econômico. "Se Dilma me procurasse um dia para o conselho, eu diria a ela, "Vá ler Maquiavel. Quando você não pode vencer o seu inimigo, junte-se a ele."
27 de abril de 2015
diário do poder
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