Na última terça-feira, “viajei” para Ouro Preto. Não à Ouro Preto de agora, mas à do fim do século XVIII.
Por algumas horas, me detive na leitura de trechos dos 11 volumes dos “Autos de Devassa da Inconfidência Mineira”, editados pela Impressa Oficial de Minas Gerais nas décadas de 1970 e 1980, e, desde a última sexta-feira (em uma ótima iniciativa), disponíveis gratuitamente em versão digital – com ferramentas de busca, indicações de teses de estudo e leituras complementares.
Por algumas horas, me detive na leitura de trechos dos 11 volumes dos “Autos de Devassa da Inconfidência Mineira”, editados pela Impressa Oficial de Minas Gerais nas décadas de 1970 e 1980, e, desde a última sexta-feira (em uma ótima iniciativa), disponíveis gratuitamente em versão digital – com ferramentas de busca, indicações de teses de estudo e leituras complementares.
Em tempos de judicialização da política e de acirramento de ideologias, o acesso a todo o processo – inquérito, oitivas, acusação, sentença etc. – se torna ainda mais rico e necessário, além de o próprio valor histórico e atemporal dos documentos para a história do país ser um atrativo por si só.
O registro das investigações até o julgamento pela Coroa Portuguesa, passando pela prisão do alferes Joaquim José da Silva Xavier e dos demais inconfidentes, como o desembargador Tomás Antônio Gonzaga e o advogado Cláudio Manuel da Costa, permite um contato direto, sem intermediários, não só com uma época, mas também com os ideais do movimento liderado por Tiradentes.
OS DELATORES
Em alguns dos depoimentos presentes nas mais de 5.500 páginas, os delatores – boa parte deles colega de farda do alferes – relatam terem tido conhecimento de viagens e conversas entre os rebeldes mineiros e líderes de movimentos por liberdade de outros países, como “Tomás Jefferson”, citado como ministro da América Inglesa (Estados Unidos) e anos mais tarde presidente daquele país.
Estão lá também, nos volumes I e IV, a carta-denúncia do coronel Joaquim Silvério dos Reis, datada de 1789, uma das diversas delações responsáveis por embasar a acusação contra todos os presos pela Conjuração Mineira, listados no volume VII.
MANDADO DE EXECUÇÃO
Já o mandado de execução para a pena de morte expedida contra Tiradentes, de 21 de abril de 1792 (volume VII), impressiona pela riqueza de detalhes.
Ele foi executado no Rio de Janeiro.
“Justiça que a Rainha Nossa Senhora manda fazer a este infame réu Joaquim José da Silva Xavier, pelo horroroso crime de rebelião e alta traição de que se constitui chefe… Manda que, com baraço (corda para enforcamento) e pregão, seja levado pelas ruas públicas desta cidade ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre, e que separada a cabeça do corpo seja levada a Vila Rica (Ouro Preto), onde será conservada em poste junto ao lugar da sua habitação, até que o tempo a consuma; que seu corpo seja dividido em quartos, e pregados em iguais postes pela entrada de Minas, nos lugares públicos”, assina o conselheiro Sebastião Xavier de Vasconcellos Coutinho, cumprindo ordem régia.
Ele foi executado no Rio de Janeiro.
“Justiça que a Rainha Nossa Senhora manda fazer a este infame réu Joaquim José da Silva Xavier, pelo horroroso crime de rebelião e alta traição de que se constitui chefe… Manda que, com baraço (corda para enforcamento) e pregão, seja levado pelas ruas públicas desta cidade ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre, e que separada a cabeça do corpo seja levada a Vila Rica (Ouro Preto), onde será conservada em poste junto ao lugar da sua habitação, até que o tempo a consuma; que seu corpo seja dividido em quartos, e pregados em iguais postes pela entrada de Minas, nos lugares públicos”, assina o conselheiro Sebastião Xavier de Vasconcellos Coutinho, cumprindo ordem régia.
A leitura dos “Autos da Devassa” também faz lembrar como a história é contada pelos vencedores. O celebrado herói nacional foi julgado à época por Portugal, com apoio de uma elite bajuladora e em formação no Brasil, como um terrível contraventor da legislação vigente.
Só muitos anos mais tarde se tornaria um símbolo pela luta de independência no país.
Só muitos anos mais tarde se tornaria um símbolo pela luta de independência no país.
24 de abril de 2015
Murilo Rocha
O Tempo
Murilo Rocha
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