"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A CONTA-GOTAS, A REFORMA POLÍTICA NÃO PASSA




Começou mal a vigésima tentativa de votação da reforma política. Esta semana o Senado decidiu fatiar o exame dos projetos já em tramitação, açodadamente. Colocou para um plenário meio vazio a proposta que cria o prazo de seis meses de desincompatibilização para presidentes da República, governadores e prefeitos candidatos à reeleição. A matéria foi rejeitada depois de o senador Aloísio Nunes Ferreira haver questionado a falta de método: se a grande maioria do Congresso inclina-se pela extinção da reeleição, como mudar a Constituição para regulá-la? Não seria melhor uma análise em bloco de todas as principais reformas, evitando-se o bate-cabeça entre diversas emendas e projetos?

Também na terça-feira reuniu-se com Michel Temer a alta direção do PMDB, entregando-lhe o que seria a ansiada consolidação da reforma política na visão do partido. Uma bela iniciativa, mas envolta num mistério: nem o vice-presidente nem os luminares peemedebistas tiveram coragem de divulgar o elenco de sugestões. Até ontem à noite continuavam em segredo, uma evidência de não haver consenso.

Em meio a tantas indefinições, descobriu-se manobra matreira do PT: seus senadores insistem em votar a proibição das doações empresariais para as campanhas eleitorais, mas embutem na proposta a votação para deputado federal em listas partidárias. Em suma, pretendem dar mais poder aos caciques, que iriam elaborar essas listas. Proibindo o voto em candidatos isolados, prejudicariam a renovação de seus quadros, pois ninguém duvida de que os dirigentes se colocarão nos primeiros lugares, junto com seus afilhados.

FINANCIAMENTO PÚBLICO

Outra dúvida do financiamento público, ou seja, com dinheiro do contribuinte, reside em cálculos feitos a partir dos votos obtidos nas recentes eleições para a Câmara. O governo precisaria destinar um bilhão e 180 milhões de reais para financiar as eleições proporcionais, recursos que seriam entregues aos partidos, ou seja, a seus caciques. Isso à margem do Fundo Partidário que já destina um bilhão às legendas existentes. Quando faltam meios para a educação, a saúde e a segurança públicas, sobrariam para os políticos?

Vai ficando óbvia a impossibilidade de votação da reforma política em sistema de conta-gotas, mas não será precisamente o que desejam seus adversários, sob o artifício da pressa, demolindo uma a uma as sugestões? Mil outros conflitos de projetos poderiam ser referidos, levando à conclusão de tornar-se muito difícil a renovação das instituições políticas e eleitorais. O que não dá é ficar enganando os trouxas…

PODE FICAR PIOR

Os números da pesquisa da Datafolha, divulgados ontem, colocam a presidente Dilma nos mais baixos patamares de aprovação popular. Um desastre, para ela. Mesmo parecendo uma impossibilidade política, voltam-se as atenções para a nova etapa da Operação Lava-Jato. Tanta sujeira vem sendo revelada que um dia qualquer surgirá a conclusão de que tanto o Lula quanto a Dilma, mesmo não metendo a mão nos recursos públicos, sabiam de muita coisa. Ou de quase tudo. Nessa hora, como se dizia no passado, será bom comprar galochas, porque vai chover…

19 de março de 2015
Carlos Chagas

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