"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de março de 2015

O PRÉ-SAL E O MARKETING DA MENTIRA




“Recentemente descobrimos o pré-sal”, é o que diz campanha publicitária veiculada nas televisões e rádios do Brasil. Atribuir ao governo “o descobrimento” da camada do pré-sal é falácia do mais baixo nível. A nova fronteira exploratória do petróleo brasileiro é fruto do investimento de mais de quatro décadas e da competência técnica da Petrobrás, reconhecida mundialmente. Nas décadas de 80 e 90, foram perfurados mais de 150 poços no pré-sal brasileiro, com sucesso variável entre 25% e 30%. A fantasia criada por um marketing político, engajado na mistificação, atropela a verdade histórica, como demonstraremos. Em um país de memória rala é fundamental desmistificar os assaltantes de feitos que tiveram outros autores.

A descoberta de petróleo no mar, na Bacia de Campos, tem um único responsável: o geólogo Carlos Walter Marinho Campos. Foi sua coragem e determinação que gerou a descoberta da maior província petrolífera do Brasil. Em 1973, demonstrou que havia existência de petróleo na parte submersa do poço 1-3-R-157, na área de Macaé. Diretor da área de exploração aprofundou as pesquisas em parte rasas da costa oceânica, com investimentos limitados. Na época, o presidente da estatal, o general Ernesto Geisel, determinou o cancelamento do projeto pela inviabilidade da existência de óleo na área. Corajosamente ele enfrentou a resistência de Geisel, argumentando que havia sinais indicativos de petróleo na formação geológica batizada de “calcário de Macaé”. No ano seguinte, em 1974, era descoberto o poço de Garoupa, na Bacia de Campos. Ali se mudava a história do petróleo no Brasil.

A exploração “off-shore” (no mar), onde antes predominava a exploração “on-shore” (em terra), surgiu há 40 anos e teve em Carlos Walter Marinho Campos, o seu autor e desbravador. Morto em 2000, o grande técnico brasileiro é ignorado e desprezado pelas direções da Petrobrás, aparelhadas nos últimos anos. Pioneiramente alertava que as rochas onde o petróleo se armazenava eram compostas de carbonato de cálcio de enorme obstáculo à penetração das brocas perfuratrizes. Era preciso desenvolver tecnologia pioneira sobre as rochas carbonáticas, caracterizadas por porosidade e permeabilidade diferenciadas. Sendo viscoso pode se desprender para dentro do poço de petróleo, se a penetração da sonda não for adequada, fechando o veio de extração do óleo.

A memória geológica de Carlos Walter Marinho Campos era notável. Aperfeiçoada nas viagens de observação que fazia ao Oriente Médio, fundamentariam a sua obsessão na descoberta do petróleo no mar brasileiro. No Irã e no Iraque constatara que a existência de “rocha de calcário” no mar produz grandes quantidades de petróleo. Foi muito importante a associação da estatal brasileira com a estatal petrolífera do Iraque, na descoberta da província de “Majnoon” que se transformaria em uma das áreas mais produtivas de petróleo no país de Sadam Hussein. Fato pouco conhecido pelos brasileiros. No final das décadas de 70 e 80, quando da crise e preços astronômicos do petróleo mundial, o Brasil teve no Iraque um parceiro privilegiado no abastecimento interno do petróleo, em situação vantajosa.

Paralelamente, o mercado interno iraquiano, foi aberto e garantido para empresas brasileiras, como Volkswagen, vendendo o carro Passat na escala de milhão; Engesa, que fornecia armamentos desde os tanques cascavel a armamentos sofisticados, inclusive foguetes de mediano alcance; a construtora Mendes Junior, foi a executora do asfaltamento da rodovia de Bagdá a Basra, no sul do país. Igualmente na execução de serviços ferroviários na região norte, na área de Mossul. Outras empresas brasileiras forneceram bens e serviços ao governo iraquiano. Posso testemunhar a existência dessa realidade porque na época estive no Iraque.

A exploração petrolífera brasileira no mar, inicialmente com a camada do “pós-sal” na Bacia de Campos e agora no “pré-sal”, não foi fruto de “milagre marqueteiro”, nem bandeira de exploração política, como os governos Lula da Silva e Dilma Rousseff vêm fazendo, usando e abusando da boa fé dos brasileiros. Atestada na propaganda falsária que vem sendo veiculada nas rádios e televisões nacionais. Enfatizar a descoberta do “pré-sal” como êxito governamental é mentir deliberadamente de maneira criminosa.

Hoje, após superar a crise ética, financeira e econômica em que o conluio de políticos, empresários poderosos, diretores delinquentes e um governo que fez vistas grossas à corrupção nos últimos anos, a Petrobrás terá no “pré-sal” a certeza de que voltará a ser uma empresa que orgulhará os brasileiros. A notável figura humana e incansável pioneirismo do saudoso geólogo Carlos Walter Marinho Campos, será sempre lembrada pelos brasileiros que tem memória. E acreditam no futuro.


19 de março de 2015
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.

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