Os advogados de empresas empreiteiras que procuraram e foram recebidos pelo ministro José Eduardo Cardozo, com seus clientes figurando entre os acusados pela Operação Lava jato, cometeram um erro enorme e, no final de mais esse capítulo, abalaram seriamente a posição política do titular da Justiça. O juiz Sérgio Moro e o ministro aposentado Joaquim Barbosa condenaram tanto a iniciativa dos advogados quanto o fato de terem sido recebidos fora da agenda ministerial.
Reportagem ontem em O Globo, de Cleide Carvalho, Renato Onofre, Cristiane Jungblut e Júnia Gama representa uma peça importante que deixou muito mal, de um lado, as empresas, de outro, o ministro Eduardo Cardozo. Além do aspecto antiético contido na questão, sobrepõe-se o equívoco. Procurar o titular da Justiça para quê? Para nada. Para influir na atuação da Polícia Federal? Equívoco completo. Pois se o ministro Eduardo Cardozo possuísse alguma influência sobre a Polícia Federal, claro, as investigações não teriam chegado ao ponto que alcançaram e estão alcançando a cada dia.
Pois é óbvio que o aprofundamento do caso não é de interesse do governo. Se fosse, o discurso da presidente Dilma Rousseff teria sido revestido de um tom muito mais forte do acentuado até agora. Na verdade, de fato, o titular da Justiça não exerce comando algum quanto à PF. Os advogados não só perderam tempo, como também expuseram o ministro da Justiça a uma situação alarmante. O ex-presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, em declarações no twitter, quarta-feira, chegou a pedir a demissão de Eduardo Cardozo. Este, aliás, agiu de forma imatura, não avaliando os reflexos e a repercussão de sua atitude. Esvaziou-se, perdeu autoridade e apresentou explicações que nada explicam.
RECEBER ADVOGADOS?
Cardozo chegou ao ponto de afirmar que o cargo que ocupa inclui receber advogados que funcionam em processos relativos à sua pasta. Não é o fato. Pois se assim fosse, teria que receber, não apenas alguns, mas todos os advogados que solicitarem audiência. Nesse caso, o ministro não teria tempo para fazer coisa alguma. Basta lembrar o número de processos que aguardam anos pelo cumprimento de decisões judiciais contra o INSS, por exemplo. A oposição parlamentar vai pedir a convocação de Eduardo Cardozo para depor na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e também na CPI da Petrobrás, criada há poucos dias na Câmara dos Deputados.
O juiz Sérgio Moro foi bastante afirmativo ao dizer (O Globo de ontem) tratar-se de tentativa indevida das empreiteiras, embora mal sucedida. Perfeito. Se a situação dos empresários acusados já estava péssima, ficou ainda pior. Isso de um lado. De outro, a atitude de Cardozo recebendo os advogados fora de sua agenda pública afetou ainda mais o governo Dilma Rousseff, contribuindo para ampliar seu desgaste junto à sociedade e, portanto, no conceito da opinião pública.
DESGASTE DO GOVERNO
Se o Datafolha ou o IBOPE realizarem pesquisa neste momento, o resultado será pior para o poder Executivo do que o conceito acentuado no levantamento que a FSP publicou há cerca de duas semanas.
Falta um aspecto que assinala a imaturidade de José Eduardo Cardozo: será que ele imaginou que ninguém iria saber, em plena tempestade, da realização da audiência? Não dá para entender o titular da Justiça. Fatos como esse vazam eternamente. As informações voam. E não se restringem à forma. Vão além: abrangem até as intenções de tais encontros.
21 de fevereiro de 2015
Pedro do Coutto
Nenhum comentário:
Postar um comentário