Encenado pelos partidos da base parlamentar do governo, espetáculo mais grotesco não poderia ser programado para este mês de janeiro além da caça aos cargos de segundo escalão dos ministérios.
Diante da escalação do primeiro time da equipe, o descontentamento do PMDB, PT, PP, PSD, PDT, PTB e penduricalhos acirrou em todos a ambição de alargarem outros espaços de poder, não tendo recebido os ministérios que esperavam. Utilizam a ameaça de sempre: caso não consigam o maior número possível de dirigentes das múltiplas empresas e dos departamentos encarregados de fazer funcionar a máquina governamental, irão retirar o apoio parlamentar prometido ao palácio do Planalto.
Aliás, é no segundo escalão que se localizam as melhores e mais polpudas oportunidades de abastecer os caixas dos partidos e as contas bancárias de seus líderes. Diretorias de toda espécie assemelham-se a frutas maduras prestes a ser colhidas, daí o conflito entre os partidos. Julgam-se no direito de ocupar espaços tidos como herança, assim como de avançar em territórios ocupados por seus concorrentes.
A confusão é geral, mas o pior nessa caça ao tesouro é a postura da presidente Dilma. Ela e seu núcleo palaciano mais próximo consideram a disputa normal. Suas dificuldades são apenas para contentar a todos. Como aconteceu na definição do ministério, existem feudos e capitanias hereditárias a atender, bem como novas ambições a contemplar. A administração pública fica exposta num amplo balcão de negócios onde oferta e procura celebram acordos abjetos, sem a mínima atenção à eficiência da máquina administrativa e ao melhor funcionamento do poder público.
Tudo se faz sob o signo da chantagem. Determinado banco, departamento ou empresa estatal vai para esse ou aquele partido na medida em que a nomeação assegure mais votos na Câmara ou no Senado. Senão… Senão retiram o apoio a projetos de interesse do governo, quando fevereiro chegar…
UMA NO CRAVO, OUTRA NA FERRADURA
Nos tempos em que não havia sido criada a indústria automobilística, quando todo mundo andava a cavalo, de carruagem, charrete ou diligência, a sabedoria popular comparou os políticos que não se definiam a ferreiros, daqueles acostumados a dividir suas marteladas entre o cravo e a ferradura.
Setores ligados ao PT e ao governo fizeram chegar à imprensa informes sobre a presença de Eduardo Cunha na ainda não confirmada lista dos envolvidos no escândalo da Petrobras.
Logo veio a oposição, espalhando a versão de que mais de um ministro do governo Dilma integraria a relação que o procurador geral da República ainda está devendo.
A tréplica não demorou. Os jornais divulgam que o recém-eleito senador e ex-governador de Minas, Antônio Anastasia, também faz parte do grupo prestes a ser denunciado junto ao Supremo Tribunal Federal. Para evitar esse festival de suposições e de baixarias, só mesmo se Rodrigo Janot terminasse sua tarefa de denunciar quem merece ser denunciado e de livrar o pescoço de quem não merece ser degolado.
09 de janeiro de 2015
Carlos Chagas
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