Reeleita para o cargo de presidente da República, Dilma Rousseff (PT) revoltou aposentados que assistiram sua entrevista no Jornal da Band, direto do Palácio do Alvorada. Perguntada pelo jornalista Ricardo Boechat sobre a possibilidade de olhar com maior atenção a situação dos aposentados, que reclamam das perdas em seus vencimentos, Dilma simplesmente fugiu da questão e deu a entender, infelizmente, que nada vai mudar.
O âncora relatou que na rádio Band News FM, onde ele também tem um programa, vários aposentados “desesperados” mandaram mensagens pedindo que a mandatária fosse questionada sobre medidas que pudessem reverter a perda do valor em suas aposentadorias, causada pela defasagem frente ao salário mínimo e pelo fator previdenciário.
“Muitos ouvintes escreveram: ‘Boechat, consegue uma boa notícia para os aposentados da presidente, hoje à noite’. A senhora tem essa boa notícia para eles?”, questionou o jornalista.
Ao responder, a presidente nada trouxe de bom aos beneficiários do INSS. “Eu tenho uma imensa responsabilidade com a Previdência, tanto com aqueles que estão aposentados e lutam por uma melhoria em suas aposentadorias, como pelos que vão se aposentar”, disse Dilma, que, de forma enviesada, queria sugerir que dar ganhos reais aos inativos seria uma irresponsabilidade.
O raciocínio da presidente se revela uma verdadeira “pérola”, já que recuperar as perdas dos aposentados e beneficiar milhares de homens e mulheres que dedicaram suas vidas inteira ao trabalho é uma temeridade, enquanto tirar dinheiro do caixa da Previdência em benefício dos empresários, como acontece com a política de desoneração da folha de pagamento criada em seu governo, é louvável. Quanta contradição!
Pensamento torto
A presidente ainda procurou fazer um autoelogio ao governo quando proclamou que “69% de todos os aposentados tiveram ganho real, acima da inflação”. Eis mais um pensamento apresentado de maneira torta. Dilma se refere aos aposentados que recebem apenas o piso previdenciário, que, por lei, não pode ser inferior a um salário mínimo.
O que a petista não diz é que, ano a ano, os aposentados e pensionistas que ganham acima do piso estão tendo os seus benefícios achatados, empurrados para apenas um salário mínimo, com reajustes que mal cobrem a inflação.
Para se ter uma dimensão da gravidade do problema, desde a implantação do Real, em 1994, a desvalorização dos benefícios de quem recebe acima do piso previdenciário chega a 81,5% em relação ao salário mínimo. A permanecerem as coisas como estão hoje, em poucos anos, a quase totalidade dos aposentados estarão recebendo apenas um salário mínimo.
“O governo mostra claramente que não tem a intenção de acabar com o achatamento das aposentadorias e, da mesma forma, colocar fim ao nefasto fator previdenciário, que sequer foi citado na resposta. A entrevista da presidente Dilma é revoltante”, condenou Josias de Oliveira Mello, diretor da Admap (Associação Democrática dos Aposentados e Pensionistas) do Vale do Paraíba e da Cobap (Confederação Brasileira dos Aposentados, Pensionistas e Idosos).
“A propaganda eleitoral anunciava ‘governo novo, ideias novas’. Mas, passadas as eleições, vemos que era mais uma peça de marketing. O pensamento, infelizmente, continua o mesmo: aos banqueiros e empresários, tudo; aos aposentados e trabalhadores em geral, nada. Só nos resta promover grandes mobilizações pressionando o governo a atender nossa pauta. Precisamos sair às ruas e mostrar nossa revolta”, acrescentou Josias.
(matéria enviada por Guilherme Almeida)
13 de novembro de 2014
Deu em Voz do Aposentado
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