A preocupação dos principais agentes econômicos é que o governo se encontra muito vagaroso em adotar as inevitáveis providências macroeconômicas que impõe o segundo mandato da presidente Dilma. Sua certeza de vitória era tão grande que sua equipe econômica já deveria ter preparado um conjunto de medidas e atitudes a serem implementadas logo de início, uma vez que o seu segundo governo de fato começou a partir de 27 de outubro p.p., após proclamada a sua reeleição.
É praticamente unânime a premência de um choque de credibilidade com o objetivo de resgatar a confiança perdida pelos empresários brasileiros e estrangeiros e também pelos investidores, em função do modelo de crescimento adotado em nossa economia, com forte estímulo ao consumo, apoiado pelo BNDES, Caixa Econômica e Banco do Brasil, encontrar-se completamente esgotado.
Ficou comprovado o grande equívoco dos resultados apresentados pelo PIB (Produto Interno Bruto) em 2014, que deverá ser bem próximo a zero, aliado à desordem nas contas públicas quando do cruzamento delas com as instituições governamentais de fomento para adoção da “contabilidade criativa”, com o objetivo irresponsável de mascará-las. Aliás, essa inadiável intervenção na busca da confiabilidade perdida passa, consequentemente, por uma total transparência das contas públicas.
Grande perda de tempo acontece na falta de indicação dos profissionais que integrarão este novo governo. Os futuros ministros gostariam de convidar os assessores de sua confiança e isso acarreta outra perda de tempo para a composição das equipes. Dentre os inúmeros absurdos identificados é que ainda não foi definido, ao menos, o futuro titular da Fazenda que comandará a nossa política econômica. Segundo o noticiário econômico, na melhor das hipóteses, só conheceremos o nome do escolhido após o retorno da presidente do encontro do Fórum do G-20. Vai depender do nome escolhido o comportamento da taxa cambial, dos juros e também a correta implantação das medidas.
Diante da falta de ações existentes, até parece que as contas do País estão tranquilas. Iniciando pelo déficit primário de R$ 15 bilhões, que tem que ser enviado com o pedido de alteração na LDO (Lei de diretrizes Orçamentárias) de 2014 e 2015 respectivamente; saldo comercial no vermelho de US$ 1,8 bilhão e declínio no fluxo do comércio; dívida bruta em torno de R$ 3,13 trilhões, ultrapassando 60% do PIB (Produto Interno Bruto); déficit de conta corrente superior a US$ 62 bilhões, não cobrem o IED (Investimento Interno Direto) de R$ 46 bilhões.
São pequenos grandes exemplos da lamentável deterioração em que se encontram as nossas contas públicas. Sem destacar o vergonhoso “pibinho”, praticamente estagnado ao longo deste ano, ou até mesmo a inflação crescente pelo terceiro mês consecutivo, ultrapassando o teto superior da meta prevista (6,5%), com indícios de situar-se acima desse patamar no próximo ano, por pressões adjacentes deste exercício.
Responsavelmente, Dilma e sua equipe já deveriam estar debruçadas nesses números e outros também de relevância, para elaborar ações que favoreçam uma correção de rumo, que deverá ser liderada pelo próximo ministro da Fazenda. O ex-ministro Guido Mantida, demitido publicamente durante a campanha eleitoral, deveria ter sido afastado naquele instante, assim como alguns dos seus colaboradores que provavelmente não estarão participando do seu segundo governo.
É necessário advertir que são imprescindíveis outras providências a serem adotadas para dar legitimidade a uma expressão empregada na campanha petista “novo governo, novas ideias”.É fundamental que se faça a reforma fiscal com inserções profundas e não com cortes superficiais realizados no passado. É essencial que se faça a reforma tributária, sem elevação da sua carga e com objetivo de simplificá-la, ainda que seja de forma fatiada.
É Indispensável que se faça a reforma trabalhista, para restabelecer parcialmente a produtividade de nossas organizações, alimentando-as de maior competitividade, inclusive no ambiente internacional do qual estamos praticamente excluídos de participar. Para mim, o grande desafio passa pela reforma política, mas não nos moldes desejados pela presidente em seu primeiro pronunciamento pós-eleição.
Quantas providências ainda são necessárias, contudo perdemos todos esses dias apreciando a inércia intransigente de Dilma após a conquista do seu segundo mandato. O País precisa urgentemente parar de perder tempo, pois, do contrário, seremos penalizados, com a possibilidade concreta da perda do grau de investimento, situação que complicará ainda mais a nossa fragilidade conjuntural.
Diante desse delicado cenário, os mercados de risco apresentam significativa volatilidade, e com a perda sensível na capitalização do mercado, os investidores inevitavelmente se distanciam. A persistência em políticas que frustraram a primeira gestão da economista são indícios de que o governo ainda procura um rumo a percorrer.
Pode-se até questionar a presidente se ela está convicta de que existem problemas à espera de solução. Nos últimos meses, persistiu o discurso de que não existe nada de especialmente errado na economia, e ela não admite a necessidade de amplas mudanças, apenas em algumas questões pontuais e de forma gradual, a ponto de falar num dever de casa a cumprir.
Com isso tudo, lembro-me de que, dias atrás, após o termino das eleições, lia um artigo assinado pelo reconhecido economista brasileiro Alexandre Schwartman (ex-diretor do Banco Central), no qual preconizou com muita sensibilidade que o próximo governo será igual a este que está se encerrando,quando o associa a uma célebre definição de Albert Einstein sobre a “insanidade” que é “fazer o mesmo experimento e esperar resultados diferentes”.
Pelo visto, provavelmente, estamos caminhando para conviver por mais quatro anos com esse doloroso cenário de insanidade.
13 de novembro de 2014
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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