SÃO PAULO - De manhã você está cheio de energia e planos grandiosos e à tarde já não existe mais. O trágico acidente que tirou a vida de Eduardo Campos e mais seis escancara um fato sobre o qual evitamos pensar: estamos irremediavelmente sujeitos aos caprichos do acaso.
Ainda não dá para saber o que provocou o desastre, mas, se seguiu o padrão usual, resultou de uma combinação de vários elementos, que podem incluir desde um parafuso defeituoso até uma decisão infeliz do piloto, tudo temperado pelo mau tempo. Isoladamente, nenhum desses fatores derrubaria o avião. Para que isso ocorresse, cada um deles teve de desdobrar-se numa ordem precisa e fatal. Oito nós a menos na velocidade do vento poderiam ter mudado tudo.
Como razões evolutivas nos predispuseram a procurar ordem em tudo --até onde ela não existe--, nossa espécie desenvolveu uma verdadeira fobia ao acaso, que se materializa na forma de ciência, pseudociências e religiões. O quinhão de acaso que cada uma delas está disposta a tolerar em suas explicações define sua maturidade. Do meteorologista que se resignou com os sistemas caóticos que caracterizam sua especialidade ao crente que em tudo vê marcas do desígnio divino, a diferença é mais de grau do que de natureza.
O fato de não haver como escapar à tirania do aleatório não implica que não possamos tentar domesticar o acaso. Ele, afinal, costuma aparecer em encadeamentos complexos dos quais dominamos um ou mais elementos. É impossível eliminar a possibilidade de acidentes aéreos, mas podemos tomar medidas para tornar aviões mais seguros ou, no limite, nem entrar numa aeronave.
Sucessos são apenas probabilísticos e meramente circunstanciais. A aviação mais segura não evitou que Campos morresse num desastre nem impede que o sujeito que fica longe de aviões tenha sua trajetória interrompida por outro tipo de acidente.
Basicamente, "shit happens".
Ainda não dá para saber o que provocou o desastre, mas, se seguiu o padrão usual, resultou de uma combinação de vários elementos, que podem incluir desde um parafuso defeituoso até uma decisão infeliz do piloto, tudo temperado pelo mau tempo. Isoladamente, nenhum desses fatores derrubaria o avião. Para que isso ocorresse, cada um deles teve de desdobrar-se numa ordem precisa e fatal. Oito nós a menos na velocidade do vento poderiam ter mudado tudo.
Como razões evolutivas nos predispuseram a procurar ordem em tudo --até onde ela não existe--, nossa espécie desenvolveu uma verdadeira fobia ao acaso, que se materializa na forma de ciência, pseudociências e religiões. O quinhão de acaso que cada uma delas está disposta a tolerar em suas explicações define sua maturidade. Do meteorologista que se resignou com os sistemas caóticos que caracterizam sua especialidade ao crente que em tudo vê marcas do desígnio divino, a diferença é mais de grau do que de natureza.
O fato de não haver como escapar à tirania do aleatório não implica que não possamos tentar domesticar o acaso. Ele, afinal, costuma aparecer em encadeamentos complexos dos quais dominamos um ou mais elementos. É impossível eliminar a possibilidade de acidentes aéreos, mas podemos tomar medidas para tornar aviões mais seguros ou, no limite, nem entrar numa aeronave.
Sucessos são apenas probabilísticos e meramente circunstanciais. A aviação mais segura não evitou que Campos morresse num desastre nem impede que o sujeito que fica longe de aviões tenha sua trajetória interrompida por outro tipo de acidente.
Basicamente, "shit happens".
21 de agosto de 2014
Hélio Schwartsman, Folha de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário