"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

AS MÚLTIPLAS SUCESSÕES DE EDUARDO

São pelo menos três vagas abertas com a morte de Eduardo Campos: a sucessão do candidato presidenciável, do governador de Pernambuco e do presidente do PSB. Vejamos as duas principais.

Paradoxalmente com Marina Silva, abriram-se mais chances de chegar ao segundo turno que Eduardo perseguia. Para decifrar o cenário possível, há que combinar a legislação eleitoral com estratégias políticas.

A lei dá preferência ao PSB para escolher novo candidato. O PSB vai exercer o direito. Mas quem o faz é a maioria absoluta dos órgãos executivos dos partidos da coligação: PSB, PHS, PRP, PPS, PPL e PSL. Provavelmente eles optarão por Marina Silva porque ela tem votos e possibilidades.

Vislumbra-se o segundo turno porque basta somar os cerca de 9% de votos que Eduardo já tinha nestas eleições com os cerca de 12% dos votos que Marina teve nas eleições passadas e os votos que serão conquistados pela emoção nacional. Some-se a isso, ainda, o fato de que Marina deve barrar, com mais facilidade do que Eduardo, o avanço que Dilma tem feito no voto dos evangélicos.

A escolha do novo candidato a vice é feita também por maioria absoluta dos partidos da coligação. Pode vir do PSB ou de qualquer outro. Basta ser filiado. Se for candidato - como Romário, do Rio, ou Rodrigo Rollemberg, de Brasília -, terá que renunciar à candidatura, é óbvio.

Se Marina pretender ampliar sua base em São Paulo, o vice pode vir a ser Márcio França, Walter Feldman ou Luiza Erundina, nomes do mesmo PSB. Se for para o Nordeste, o nome natural seria Roberto Freire, do PPS. Simbolicamente de Pernambuco. Daria inclusive à nova chapa conotação mais à esquerda, de mais nítida oposição à Dilma e ao PT. Outro pernambucano é o ex-deputado Maurício Rands, que só não saiu candidato a governador pela coligação liderada pelo PSB porque não é do núcleo eduardista.

A nova chapa presidenciável tem mais possibilidades de se caracterizar como alternativa ao PT e ao PSDB. Não terá a cautela de disputar o centro dos eleitores, como tentaram Aécio Neves e Eduardo Campos, quase se indistinguindo um do outro.

Já na sucessão de Eduardo em Pernambuco, o cenário é difícil. Armando Monteiro, do PTB, passou os quatro anos de senador indo a todos os municípios. Está em campanha há muito tempo. Político focado, tem hoje mais de 40% de intenções de voto. Mas as pesquisas mostram que mais da metade desses 40% são eleitores que acreditam que Armando é o candidato de Eduardo. Não é. É Paulo Câmara, do PSB, e Raul Henry, de vice, do PMDB.

Eduardo iria usar a propaganda na televisão para desfazer o equívoco. E repetir o que fez na eleição de prefeito - transferir a excelente avaliação como governador para a esperança de bom governo com Paulo Câmara. O desafio agora é: quem vai convencer o eleitor que o candidato de Eduardo era realmente Paulo Câmara, não Armando Monteiro?

Mas a morte de Eduardo é muito mais do que mera e complexa questão de sucessões. Morre com ele um dos possíveis futuros do Brasil. Somos menos. Ficamos menos. Fogem do futuro alguns valores necessários. Talvez o maior de todos seja o da valorização da família como unidade básica da sociedade, com seus problemas, magias, alegrias e tristezas. (Muito além de eventuais indicações de parentes para cargos públicos.)

Do avô Miguel Arraes de ontem ao filho Miguel de hoje, a vida de Eduardo sempre passou pela família. Renata, sua mulher, de personalidade presente, é do melhor de Pernambuco. Participava com evidente solidariedade de objetivos, sonhos, percalços e destinos do marido. Companheira. Política sim, sem nunca ter sido política nem pretendido ser.

A valorização da família, da família hétero e com filhos, tradicional, independentemente dos novos formatos de família, seria com certeza, querendo ou não, uma das principais mensagens ao Brasil. Mensagem palpável pelo exemplo. Casal como permanentes companheiros recíprocos e, ao mesmo tempo, pais a construir um país melhor para seus filhos e os nossos.
Joaquim Falcão, Correio Braziliense

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