Ramona Matos Rodríguez, de 51 anos, disse ter deixado no sábado passado a cidade paraense de Pacajá, onde outros seis estrangeiros atenderiam pelo Mais Médicos, e viajou para Brasília.
A médica declarou ter decidido abandonar o programa ao descobrir que o salário pago aos profissionais de outras nacionalidades era de R$ 10 mil, valor que não teria sido informado pelas autoridades cubanas.
Ontem, segundo relato de Ramona, ela decidiu contatar a liderança do Democratas na Câmara depois de falar por telefone com uma amiga em Pacajá. Esta pessoa lhe teria dito que agentes da Polícia Federal estiveram na cidade em busca de Ramona e que o telefone da cubana estava grampeado.
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), que chegou a levar a médica cubana ao plenário da Casa para denunciar o que chamou de “uso de trabalho escravo” pelo programa, disse que Ramona vai ficar instalada no gabinete da liderança do partido enquanto o governo não deliberar sobre o pedido de asilo. Ele também colocou o espaço da liderança “à disposição” de outros médicos cubanos que queiram se asilar.
NO PLENÁRIO
Caiado entrou no plenário surpreendendo a todos com a história e deputados do PT chegaram a acionar o Ministério da Saúde para pedir mais informações. O próprio Ministério da Saúde foi pego de surpresa e enviou assessores ao Legislativo. Mas, até as 23h de ontem, a pasta não havia se manifestado.
Natural de Havana, Ramona Matos Rodríguez disse exercer a Medicina há 27 anos, ter especialização em medicina geral integral e já ter participado de uma missão de médicos cubanos na Bolívia. Ela levou à Câmara na noite de ontem uma cópia do contrato para a sua atuação no Brasil.
No documento, firmado entre Ramona e “La sociedad mercantil cubana Comercializadora de Servicios Médicos Cubanos” e com duração de três anos, a médica aceitou ganhar o equivalente a US$ 400 mensais, depositados no Brasil; outros US$ 600 seriam retidos em uma conta em Cuba. A médica cubana também alegou que recebia mais R$ 750 da prefeitura de Pacajá como auxílio alimentação e que a hospedagem era mantida pela administração municipal.
NÃO SABIA DO SALÁRIO
Ramona relatou ter chegado ao Brasil em outubro e ter participado, em Brasília, de um curso de capacitação do programa em suas primeiras semanas no País. Conheceu profissionais do Mais Médicos originários de locais como Argentina e Colômbia, momento em que tomou conhecimento do salário de R$ 10 mil pago pelo programa.
“Em Cuba não se falou nada sobre isso. Me senti muito mal”, relatou a médica em coletiva de imprensa na sala do DEM. Ela conta ter uma filha em Cuba e afirma temer possíveis represálias do regime castrista.
05 de fevereiro de 2014
Ricardo Della Coletta e Daiene Cardoso
Estadão
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