Vale ficar no período em que os companheiros chegaram ao poder, ainda que o estigma venha de longe. José Dirceu acabou na cadeia, Dilma Rousseff, no papel de feitor da senzala, seguiu por isso no rumo da presidência da República. Erenice Guerra foi para as profundezas. Antônio Palocci, para o rol dos proscritos. Gleise Hoffmann mergulhou no vazio antes mesmo de sair.
Fala-se na maldição da Casa Civil, que a partir de ontem Aloizio Mercadante começa a enfrentar. A coincidência não está nos malfeitos que cada um praticou , mas no fato de nenhum deles haver escapado da exposição ampla de seus vícios e de seus infortúnios.
Descartando-se a hipótese da existência de fantasmas esvoaçando pelos corredores do principal ministério do governo, sobra a alternativa de que foram, todos, vigiados e monitorados por seus próprios auxiliares. As denúncias de seus deslizes grandes e pequenos não brotaram do nada. Foram diligente e pacientemente recolhidos e depois divulgados por gente escolhida para fazer o contrário, ou seja, preservá-los. Claro que tinham inimigos de fora, mas a tragédia a envolvê-los não seria encenada sem a participação dos atores de dentro.
Imaginando-se no centro dos controles do poder, os ex-chefes da Casa Civil descuidaram-se da própria retaguarda. Deixaram-se envolver pela força aparente de que imaginavam dispor, julgando-se tão ou mais influentes do que o próprio chefe.
Ou todas as questões não passavam, primeiro, pela Casa Civil? Para o gabinete deles fluíam ministros, políticos, empresários, bicões e até malandros, inflando o ego de cada um e fazendo-os situar-se acima do bem e do mal. Ao seu redor, uma corte subserviente evoluía, tudo assistindo, interpretando e anotando para, não raro, deixar escapar para a mídia.
Tinham, esses assessores sem nome, inveja de José Dirceu quando ele se posicionava como candidato mais do que certo à sucessão do Lula. Ou serviam a outros pretendentes. Não perdiam uma só cobrança ou um só destampatório dado por Dilma em colegas de ministério, tudo registrando para apresentá-la como irascível, ditadora e obviamente candidata ao poder maior, como acabou sendo e dando certo por força da força do Lula. Erenice enganou-se, pretendendo construir estruturas capazes de levá-la a repetir o modelo da antecessora, ainda por cima envolvendo favores pouco claros a familiares e amigos do peito. Antônio Palocci quis repetir Dirceu até no relacionamento com os barões da economia, caindo nas primeiras tentativas. Alertada, Gleise omitiu-se, mas tanto a ponto de ser levada pela corrente do esquecimento.
Mercadante tem experiência no trato com o poder. Dificilmente entrará em armadilhas onde outros sucumbiram. Mas precisa estar alerta. Melhor faria reduzindo drasticamente os furos na peneira e trazendo gente de sua confiança. Sem esquecer que acima do seu há um trono maior, cuja ocupante estará o tempo todo de olho.
05 de fevereiro de 2014
Carlos Chagas
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