Sinuca política – Exigindo a renúncia do presidente Viktor Yanukovytch, manifestantes ocuparam a prefeitura da capital da Ucrânia, Kiev, no domingo (1). Segundo os meios de comunicação contrários ao governo, os protestos reuniram cerca de 700 mil pessoas. Desde a manhã, grupos de jovens vagavam pelas ruas portando cassetetes.
Após as investidas da polícia, na madrugada da véspera da manifestação, os estudantes em protesto se armaram por precaução, a fim de se defender, caso necessário. Manifestações na metrópole contra o governo vêm ocorrendo desde a última sexta-feira (29). Na conferência de cúpula da Parceria Oriental em Vilnius, Lituânia, encerrada no mesmo dia, Yanukovytch havia sustado a concretização do acordo de associação entre seu país e a União Europeia (UE).
Sob pressão de Moscou, Yanukovytch anteriormente anunciara que não pretendia assinar o acordo de livre comércio já negociado com a UE. A Rússia quer que a Ucrânia ingresse para a união aduaneira que criou, da qual também fazem parte o Cazaquistão e Belarus. O Kremlin não vê com bons olhos uma abertura das fronteiras ucranianas para os produtos europeus.
“O potencial de agressão existe dos dois lados”, afirma o cientista político alemão Andreas Umland, que leciona na Universidade de Kiev, diante da qual, no domingo (1), milhares exigiam a renúncia de Viktor Yanukovytch, apesar da proibição de reuniões imposta pela polícia.
Sobretudo por parte dos manifestantes, o tom violento vem se acirrando desde que se noticiou que uma mulher, ferida durante a ação policial do sábado (3), haveria morrido no hospital.
Ainda assim, é difícil justificar a violência dos agentes da lei. Às 4h, quando os policiais começaram a agir, poucos manifestantes estavam nas ruas de Kiev. Supostamente a operação veio em reação à conduta dos estudantes – versão inverossímil.
Segundo Umland, a intenção da polícia era, inicialmente, testar até onde pode ir. “A operação foi um balão de testes”, comenta. Segundo conhecedores do país, na Ucrânia a violência policial é pouco usual – e este é mais um motivo para que a população se erga contra Yanukovytch.
A decisão de fazer fracassar o acordo poderá custar ao chefe de Estado o seu cargo, crê Andreas Umland. “Se continuar assim, vai haver uma mudança de poder”, e nesse caso a oposição poderá formar um governo interino.
Após a brutal ação de forças do governo, os três principais partidos oposicionistas – o Batkivchyna, o Udar e o Svoboda – uniram-se no Grupo de Ação da Resistência Nacional.
Em entrevista à rádio Deutsche Welle, Kyryl Savin, diretor da Fundação Heinrich Böll em Kiev, explicou as relações de poder entre as facções. “O verdadeiro líder oposicionista é Arseniy Yatsenyuk, do Batkivchyna, embora nas pesquisas de opinião ele se encontre atrás do Udar.”
O presidente deste partido, o pugilista Vitali Klitschko, não é suficientemente presente. “Não faz muito tempo, ele teve que viajar de Kiev, devido a um compromisso importante em Hamburgo.” Apesar disso, Umland acredita que Klitschko possa vir a ser presidente, ao mesmo tempo em que vê na atual aliança partidária um fortalecimento da oposição. “Afinal de contas, desde 2012 eles trabalham juntos.”
Dentro do governo, o presidente Viktor Yanukovytch perde cada vez mais terreno. Depois de o presidente ucraniano alegar que não tem qualquer responsabilidade sobre o ataque da polícia contra os manifestantes, muitos deputados abandonaram o seu Partido das Regiões, obviamente por não acreditarem em Yanukovytch.
Entre os dissidentes, consta que também estaria o chefe do gabinete presidencial, porém “as notícias se atropelam, no momento não se sabe de nada com exatidão”, disse Umland à DW, descrevendo as circunstâncias caóticas na Ucrânia. “O governo parece estar entrando em pânico.”
Seguro está que o comissário-chefe de polícia de Kiev renunciou, após ter assumido a responsabilidade pela operação brutal contra os estudantes, mas “o presidente só o está colocando na frente para desviar a atenção de si”, afirma o cientista político.
No entanto, há indícios de que é tarde demais para tal manobra. A alegação de Yanukovytch de que nada teria a ver com a ação policial tem causado perplexidade. “Na Ucrânia, não há um aparato policial autônomo, como na América do Sul”, diz Umland, em cuja opinião a iniciativa teria mesmo partido do chefe de Estado.
A União Europeia também exige satisfações. “Nós condenamos severamente o procedimento da polícia em Kiev, ao empregar violência contra manifestantes pacíficos”, declarou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, em relação à violência policial contra os protestos do último sábado.
Os jovens ucranianos prosseguem com seus protestos. Umland não exclui a possibilidade de novos atos de violência, e apela à UE para que intervenha. “Ela precisa fazer entender à Rússia que a pressão que esta exerce sobre a Ucrânia não é admissível.” O docente da Universidade de Kiev antecipa que a paz só retornará às ruas da capital quando a Ucrânia tiver assinado o acordo com a UE.
O restabelecimento da normalidade é tão mais importante pelo fato de a Ucrânia ocupar, no momento, a presidência da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Está programada para os dias 5 e 6 de dezembro, em Kiev, a conferência de ministros da organização. “Por isso, exigimos que a Ucrânia honre os compromissos internacionais de respeitar a liberdade de opinião e de reunião”, reforçou Ashton.
Reuters
(Com DW e agências internacionais)
02 de dezembro de 2013
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