"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

PT E PMDB DEVEM MARCHAR SEPARADOS EM 11 ESTADOS ONDE ESTÃO 68% DO ELEITORADO

Partidos podem ser adversários em São Paulo, Rio, Minas, Bahia e Rio Grande do Sul. Peemedebistas querem realizar pré-convenção para avaliar se mantêm reeleição de Dilma
O mapa das alianças entre o PT e o PMDB Foto: O Globo / Criação
O mapa das alianças entre o PT e o PMDBO GLOBO / CRIAÇÃO
 
 
Aliados nacionais, PT e PMDB devem caminhar separados nas disputas regionais em estados onde estão 68% do eleitorado brasileiro - donos de quase 96 milhões de votos. Esse cenário pode estar presente em 11 unidades da Federação, entre elas os maiores colégios eleitorais do país: Rio, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul. A divisão não significa rejeição à reeleição da presidente Dilma Rousseff, embora existam problemas em alguns diretórios do PMDB que ameaçam votar contra a coligação nacional com o PT.
 
Os dois aliados tendem a se juntar em outras nove unidades da Federação, entre elas o Distrito Federal, onde o governador Agnelo Queiroz (PT) e seu vice, Tadeu Filipelli (PMDB), tentarão a reeleição. Nos casos em que as duas siglas devem estar unidas, a maior parte das alianças tem os peemedebistas como cabeça de chapa, como no Rio Grande do Norte e em Alagoas. Com o cenário atual, PT e PMDB só apareceriam unidos local e nacionalmente para 16% do eleitorado.
 
As duas legendas informaram ao GLOBO quais pré-candidatos tinham a intenção de lançar ou apoiar para governador em 2014, o que permitiu o cruzamento de informações.
 
- Cada partido trabalha para lançar candidatos no maior número possível de estados, assim foi nas eleições municipais, e a coisa vai afunilando. Ainda há estados em que é possível fechamento. Só não é possível mesmo em São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul - afirmou o presidente do PMDB, Valdir Raupp.
 
Indefinição no Maranhão e no Ceará
 
Em sete estados, a situação está completamente indefinida. No Maranhão, por exemplo, os petistas estão divididos entre o apoio ao presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), e ao candidato da governadora Roseana Sarney (PMDB), Luiz Fernando Silva, atual secretário estadual de Infraestrutura. No Ceará, o PT só estará com o PMDB se o governador Cid Gomes (PROS) também apoiar o senador peemedebista Eunício Oliveira ao governo. Cid deixou o PSB do governador e pré-candidato à Presidência Eduardo Campos para trabalhar pela reeleição de Dilma.
 
Insatisfeitos com o rumo das negociações com o PT em seus estados, seis importantes diretórios do PMDB do vice-presidente Michel Temer começaram a se movimentar para forçar a realização de uma pré-convenção do partido em março do ano que vem. No evento, seriam colocadas claramente as condicionantes para o partido apoiar a reeleição de Dilma.
 
- Não tem tensão nenhuma, pelo menos comigo, não. Todos os partidos fazem convenção, pré-convenção - minimizou o presidente do PT, Rui Falcão, ao chegar a debate dos candidatos à presidência do partido em Brasília.
 
O aumento da pressão por uma pré-convenção que defina os rumos do PMDB não é gratuito. Os principais diretórios da legenda enfrentam hoje problemas locais que podem se refletir na aliança nacional com o PT. Dois estados já anunciaram publicamente que não apoiarão a reeleição da presidente, justamente os maiores do Nordeste: Bahia e Pernambuco. Os diretórios do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul também estão hoje majoritariamente contra a aliança nacional com o PT, em função de disputas regionais.
 
Na Bahia, a busca de Geddel Vieira Lima (PMDB) por apoio de outros partidos, incluindo PSDB e DEM, inviabiliza o apoio a Dilma. Já no Rio Grande do Sul, PT e PMDB historicamente sempre caminharam separados. Tarso Genro (PT) busca a reeleição, e o PMDB tem como pré-candidatos o ex-governador Germano Rigotto e o ex-prefeito de Caxias do Sul Ivo Sartori.
 
- É normal que haja esses conflitos de interesses, e temos que saber manejar isso - afirmou um dos vice-presidentes do PT, Alberto Cantalice.
 
Há, no entanto, pelo menos quatro estados em que os diretórios do PMDB têm como meta apoiar a presidente Dilma, mas exigem que o PT faça concessões: Rio, Ceará, Maranhão e Paraíba. E, por terem muitos delegados na convenção do partido, eles têm a capacidade de levar a aliança ao naufrágio. Outros três estados que também detêm enorme força na convenção do partido - Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina - encontram-se hoje divididos.
 
Temer atua como bombeiro
 
Em Minas, segundo maior colégio eleitoral e estado do pré-candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB), os petistas já trabalham pelo nome do ministro Fernando Pimentel, enquanto os peemedebistas apresentaram o nome do senador Clésio Andrade para a disputa. O ministro da Agricultura, Antônio Andrade, é apontado como um dos que fazem parte da turma que defende o apoio a Pimentel e a união com o PT.
 
- O Clésio e o Pimentel estão conversando. Pode ser que os partidos tenham candidatos separados, mas apoiando a chapa nacional - afirmou Raupp.
Ontem, com a revelação da estratégia de convocação de uma pré-convenção, Temer recebeu desde cedo diversas ligações a favor e contra a medida. O vice-presidente, naturalmente, defende que a decisão do partido não seja antecipada, até por elevar a possibilidade de rompimento com a candidatura de Dilma. E prega que as negociações com o PT continuem sendo feitas estado por estado. O temor é que a colocação de todos os cenários simultaneamente leve à radicalização do processo.
 
- Este é um período em que as partes estão ensaiando suas jogadas. Quem disser que vai ser assim ou assado é pretensioso - disse o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS).
 
Temer ao menos conseguiu ganhar tempo. Como acabou sendo abortado o jantar de anteontem que reuniria a cúpula do partido e no qual seria formalizada a proposta da pré-convenção, a tendência é que o assunto só volte a ser debatido no fim do ano.
 
Os peemedebistas que trabalham pela aliança nacional com o PT não acreditam que os descontentes serão capazes de barrar o apoio do partido a Dilma, mas reconhecem que, em alguns estados, os pré-candidatos do partido não farão campanha para a presidente.
 
A rebelião do PMDB nos estados se alastrou a partir de um epicentro: o Rio. No estado, o mais importante governado pelos peemedebistas, os dois aliados vivem às turras por conta da briga pelo governo do estado em 2014, entre o senador Lindbergh Farias (PT) e o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).
 
25 de outubro de 2013
JULIANA CASTRO E PAULO CELSO PEREIRA - O Globo

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