Argentina vai às urnas no domingo em eleição decisiva para Cristina de Kirchner
O argentino Gastón Peña já sabe em quem vai votar no próximo domingo (27). Ele apoia a coalizão governista “Frente para la Victoria”, já que, sem ela, não teria emprego. A empresa têxtil em que trabalha entrou em falência há alguns anos, mas, com a ajuda do governo, Gastón e seus colegas adquiriram o controle da fábrica, que atualmente funciona como cooperativa.Isso ocorreu durante a presidência do antecessor de Cristina Fernández de Kirchner, seu falecido marido, Néstor Kirchner. Desde então, Gastón tem bem claro qual partido ele apoia. “Voto nela porque ela se preocupa com a justiça social e nos devolveu a dignidade. E também por sua política para o mercado de trabalho”, explica.
Pôsteres com a imagem da presidente estão espalhados por toda a fábrica. Cristina não concorre a nada, pois as eleições são para o Parlamento, mas ela é o rosto da política mencionada por Gastón. E ninguém sabe mobilizar as massas tão bem quanto Kirchner. Nenhum outro político do lado governista tem o carisma e o talento dela para performances públicas.
Para o partido, foi doloroso o afastamento da presidente no auge da campanha. Cristina de Kirchner teve de se afastar do cargo a duas semanas da eleição para submeter-se a uma cirurgia inesperada para retirar coágulo cerebral, consequência de ferimentos sofridos em queda na Casa Rosada.
Isso tornou ainda mais complicada a tarefa do pouco conhecido Martín Insaurralde, o principal candidato dos governistas na Província de Buenos Aires. Ele tem a missão de vencer a eleição na sua província e, em 2015, herdar a presidência da República.
Mas as pesquisas eleitorais dizem que a vitória de Insaurralde não está garantida. “O que as pessoas querem é um modelo econômico e social mais justo do que o atual, sem o excessivo intervencionismo do Estado”, explica o analista político Carlos Fara. “Além disso, querem uma política econômica que valorize a produtividade e a renda.”
Em particular, o que preocupa a população é a inflação, que segundo dados do governo, estaria em 10% ao ano. Entretanto, especialistas estimam que o índice real deve estar entre 20% e 30%.
Muitos argentinos acusam Kirchner de seguir um estilo de governo cada vez mais autoritário. Uma das críticas se volta contra a reforma do judiciário. Na opinião de muitos, ela permitiria à presidente nomear juízes favoráveis às suas políticas. Além disso, não arrefecem os boatos de contas bancárias no exterior e enriquecimento ilícito dos Kirchner.
Os argentinos já deram provas de seu descontentamento nas eleições primárias de agosto, quando a Frente para la Victoria obteve cerca de 26%. Foi o melhor resultado entre todos os concorrentes, mas dois anos antes, Kirchner havia conseguido se eleger com 54% dos votos.
Apesar dos protestos nos país terem diminuído de intensidade, a indignação persiste entre a população. Fara vê uma “cultura da fadiga” entre a classe média, ou seja, as pessoas estão cada vez menos motivadas para lutar por mudanças ou protestar contra as injustiças.
Quem aposta nesse descontentamento é o principal candidato da oposição, Sergio Massa, que já foi chefe de gabinete da presidente. Hoje ele é o bem-sucedido prefeito da pequena cidade de Tigre, a noroeste de Buenos Aires. Há um ano, Massa fundou um novo partido, o Frente Renovador. As pesquisas já indicam sua ascensão, e é muito provável que seu objetivo maior seja a candidatura à presidência em 2015.
Por isso é fundamental para ambos os candidatos obter um bom resultado no domingo, já que a largada para as próximas eleições presidenciais em 2015 será nesta eleição, diz Fara. “Nela será decidida a posição de largada para a disputa pela Casa Rosada, e se define qual o rumo que as pessoas desejam para a Argentina.”
Algumas tendências já se consolidam. Cerca de 40% dos argentinos já sabem que, daqui a dois anos, não vão querer nem um governo kirchnerista nem um peronista. O partido de Kirchner segue a tradição do líder Juan Domingo Perón, o emblemático presidente da Argentina da metade do século 20.
Fara vê uma forte tendência antiperonista entre setores da classe média. Para estes, o legado de Perón não faz mais sentido. Mas trabalhadores como Gastón Peña seguem fiéis ao peronismo, e o fato de os Kirchner terem se apresentado como herdeiros de Perón explica o sucesso deles. “O governo dos Kirchner foi, sem dúvida, uma década de ganhos. Só tivemos algo parecido nos tempos de Perón”, argumenta Peña, justificando seu voto.
(DW)
25 de outubro de 2013
ucho.info
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