O risco é grande —e ignorado. A confluência de redes criminosas capazes de “verdadeiro genocídio”, como constata a polícia paulista, e da expansão do extremismo político é uma possibilidade historicamente confirmada. O relatório policial refere-se à ação de uma só rede, mas são várias, crescentes todas, algumas presentes em muitos estados, detentoras do comando de fato do sistema penitenciário, e juntas configurando já uma força que altera a fisionomia do país.
A descoberta de “milhares de fotografias” de assassinatos, cometidos nas lutas de quadrilheiros, demonstra o quanto a atividade policial está distante da realidade, não necessariamente por incompetência.
DIFICULDADES – Outro relatório atesta, por via indireta, as dificuldades “da lei e da ordem”: chefe da intervenção na “segurança” do Rio, o general Braga Neto recorre a motivos como “falta de apoio da população” e “protestos e manifestações”, entre outros equivalentes, para explicar o que a população vê como insucesso da presença militar.
Um dos motivos foge, porém, ao padrão dos demais: “Não há liberdade de ação para as ações da intervenção federal, questionada desde sua decretação”. A única liberdade em falta, já que nenhum questionamento passou disso mesmo, é a de recurso arbitrário à violência, à banalização da morte como repressão.
Se esta é a liberdade reclamada, a intervenção seria mesmo dispensável. A PM daria conta da missão, sendo mais experiente em tiroteios do que os recrutas do Exército.
A FORÇA DO MAL – Talvez seja cedo para julgar a intervenção. Se consumiu os seus primeiros seis meses sobretudo em levantamentos e planos, certifica da mesma maneira a força que o outro lado tem. E que está inabalada desde a primeira fase das Unidades de Polícia Pacificadora, arruinadas pelo próprio governo em que se criaram com êxito.
Tudo indica que a pergunta a ser feita é esta: ainda é possível reverter os motivos de insegurança e o temor que modificam os costumes e as pessoas? Revertê-los, bem entendido, por métodos de gente, e não como propõe a imbecilidade.
Caso não haja a reversão, em algum tempo as redes criminosas estarão cometendo ações de motivação política, por necessidade do seu poder. Para proteger-se ou para expandir-se como quer todo poder. Os sinais dessa propensão histórica já estão aí.
DEFESAS – A proteção oferecida à pesquisadora e professora Debora Diniz, ameaçada de morte em Brasília, é medida pessoal. Não basta.
São necessárias também, por interesse da sociedade, medidas para identificar a autoria das ameaças, contrárias à defesa que a pesquisadora faz, e repetirá em audiência no Supremo, da descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação.
27 de julho de 2018
Janio de FreitasFolha
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