A estratégia do PT de desmoralizar a Justiça para dar ares de verdade à tese de que Lula é um perseguido político, encarcerado injustamente, está produzindo seus efeitos deletérios à democracia brasileira. O ataque de militantes petistas ao prédio do Supremo Tribunal Federal, com atos de vandalismo, é um absurdo que não foi devidamente repudiado fora dos organismos institucionais da Justiça. Não houve um pré-candidato ou líder partidário que se posicionasse veementemente contra a arruaça promovida por neo-aloprados petistas, incentivados pelas declarações e ações das lideranças políticas de esquerda.
Ataques que já haviam acontecido contra a residência da presidente do Supremo, ministra Carmem Lucia, em Belo Horizonte, nos mesmos moldes de jogar tinta vermelha, o que mostra que é uma atitude recorrente de alguma facção ligada ao PT.
PLANTONISTA – A estrambótica tentativa de usar um plantão judicial para libertar Lula, desmontada pela ação pronta de autoridades que prezam pela proteção do sistema judicial brasileiro, inviabilizou o golpe, mas estimulou outras atitudes do mesmo teor.
Foi assim com o plantão no STF do ministro Dias Toffoli, tido como o momento ideal para a libertação de Lula, por suas ligações passadas com o PT e o próprio ex-presidente. Vários pedidos de habeas corpus foram apresentados logo no primeiro dia, como se fosse obrigatório Toffoli ajudar Lula, com quem trabalhou e por quem foi indicado para o STF. Não poderia haver manobra mais rasteira e ingênua politicamente.
Também o pré-candidato do PDT Ciro Gomes, agora dedicado a tentar pela enésima vez o apoio do PT e de partidos de esquerda como o PSB, deu uma entrevista anunciando que a única maneira de Lula sair da prisão é ele ganhar a eleição e colocar o Ministério Público e o Judiciário “dentro de suas caixinhas”.
NOS DEVIDOS LUGARES – Nada mais claro, inclusive porque Ciro complementou que colocaria todos em seus devidos lugares. Diante da repercussão negativa, necessariamente de repúdio às ameaças que um candidato a presidente da República faz ao sistema judicial do país que pretende comandar, Ciro esclareceu que fora mal interpretado por má-fé, mas repetiu o que dissera antes com outras palavras.
Defendeu o Legislativo e o Executivo, dando a entender que estavam sendo constrangidos pelo Judiciário. Já se referira com um palavrão a uma procuradora que abriu uma investigação contra ele, demonstrando que lida mal com a Justiça quando a decisão é contrária a ele ou a seu grupo político.
Esse ambiente de confrontação com a Justiça, incentivado por Lula e seus defensores, só faz enfraquecer as instituições democráticas do país, o que não é aceitável como maneira de luta política.
LEVANTE POPULAR – O ex-secretário de governo de Lula, Gilberto Carvalho, chegou a dizer que apenas um levante popular poderia salvar Lula. Um claro incentivo à revolta popular contra a Justiça, inócua por não ser correspondida por aqueles que deveriam se levantar.
Os advogados do ex-presidente têm todo o direito de usar e abusar dos recursos que a lei lhes permite, mas eles vão além, tentando desmoralizar o Juiz Sérgio Moro, chegando ao cúmulo de apontá-lo como suspeito, ou, através dos políticos mais destrambelhados, acusando-o de ser um agente da CIA. Também o TRF-4 entra na mira dos advogados de Lula.
LANCES PATÉTICOS – A campanha que tenta fazer de Lula um preso político tem lances que chegam a ser patéticos, como a presidente do partido, senadora Gleisi Hoffman, denunciar a suposta situação a Cuba, onde verdadeiros presos políticos penam nas cadeias sem que o PT proteste. Assim como não protesta contra os protoditadores da Venezuela e da Nicarágua.
O desespero dos petistas pode chegar a um nível perigoso depois de 15 de agosto, quando ele deverá ser registrado como o candidato oficial à presidência da República. A partir dessa data, a luta jurídica terá apenas um objetivo: levar o nome de Lula à urna eletrônica e fazê-lo poder disputar a eleição sub judice. Nada indica que o intento será alcançado. Mas é previsível que a agressividade de seus militantes subirá de tom.
27 de julho de 2018
Merval Pereira
O Globo
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