"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 17 de março de 2018

ANTIGAS TRAMOIAS

Há alguns dias disse, com outras palavras, que o nível da política por aqui, se deteriorou muito nas últimas três décadas. É verdade. Porém, se retrocedermos no tempo, verificaremos que bem antes, desde a chamada nova República (ou era Vargas), já não se primava pela boa política e esta não se exercia com lealdade, isenção e patriotismo. Contudo, é bom dizer que, no passado, nada se parecia com o descalabro ao qual chegamos nos dias atuais.

Diferentemente de algumas sociedades, neste País tudo sempre se resolveu na política sem muito confronto ou derramamento de sangue, o que é bom, mas na base de muita barganha e negociata, o que é no mínimo vergonhoso. Vou lembrar de dois fatos, um ocorrido nas primeiras décadas do século anterior e outro bem recente, que se deu com o impeachment da ex-presidente Dilma.

A frente da Revolução de 1930, Getúlio Vargas partiu de trem para o Rio de Janeiro, então capital federal. Na cidade e em todo Brasil não se falava de outra coisa pela imprensa e pelo rádio: haveria uma batalha sangrenta em Itararé que fica na divisa de São Paulo com o Paraná. Esta batalha ocorreria entre as tropas fiéis ao Presidente Washington Luís e as da Aliança Liberal que, sob o comando de Vargas, vinham do Rio Grande do Sul em direção ao Rio de Janeiro para tomar o poder.

Ocorre que, ao invés da acontecer a tal batalha "mais sangrenta da América do Sul", que se apregoava nos quatro cantos do País, um enorme acordo foi celebrado. Vargas tomaria afinal o poder, o presidente deposto seria poupado por uma junta militar que provisoriamente ficaria no Palácio do Catete, o governo do Rio de Janeiro partilhado seria como butim e não aconteceria nenhum conflito. O fato ou a farsa foi muito ridicularizado na época.

Naquele tempo, escrevia nos jornais da capital um fantástico jornalista, escritor e precursor do humorismo político brasileiro, de grande inteligência e fina ironia, cuja independência jamais foi igualada - e muito menos agora - por esses vendidos deformadores de opinião que hoje se exibem pela grande imprensa. Chamava-se Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, também conhecido por Apporellye ou pelo falso título de nobreza de “Barão de Itararé”, que ele próprio se atribuiu, escarnecendo da elite palerma e imbecil da época.

O Barão de Itararé comentaria o acontecimento mais tarde, da seguinte maneira: “Fizeram acordos. O Bergamini pulou em cima da prefeitura do Rio, outro companheiro que nem revolucionário era ficou com os Correios e Telégrafos, outros patriotas menores foram exercer o seu patriotismo a tantos por mês em cargos de mando e desmando… e eu fiquei chupando o dedo. Foi então que resolvi conceder a mim mesmo uma carta de nobreza. Se eu fosse esperar que alguém me reconhecesse o mérito, não arranjava nada. Então passei a Barão de Itararé, em homenagem à batalha que não houve”. A política nesta “Terra Brasillis” é desse jeito, digo eu.

Em tempos de agora, no caso do afastamento da Dilma, dizia-se que Lula e o exército do bandoleiro Stédile provocariam um derramamento de sangue “nunca antes visto na história deste País” e isto porque as ruas exigiram a saída das quadrilhas de Lula e Dilma do governo central. Ocorre que esta odiosa classe política, num golpe de mão, se apropriou do movimento popular e colocou no Planalto Temer e sua quadrilha. O tal confronto iminente nem briga de tapas na rua virou, resolvendo-se tudo num vergonhoso “acordão”, celebrado entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, pelo qual a guerrilheira Dilma e todos os calhordas dos três poderes da República permaneceram muito bem protegidos e aquinhoados, enfiando-se a conta no bolso do povo.

Quanto mais vivo e me recordo, mais cansado fico da política e dos políticos neste País. Já estive decepcionado e triste com essa gente sem qualificação. Já me vi indignado e revoltado com tudo que nos fizeram, e há muito tempo que fazem, mas agora estou exausto, enfadado de tal forma que só penso em libertar a Nação Brasileira daquela classe medonha.

Fico imaginando como seria o Brasil sem os políticos, sem as suas nefastas associações partidárias - todas desprovidas de ideias para se tomar partido e com igual propósito de se locupletar - sem suas nocivas influências nas hostes governamentais, sem suas bandidas investidas contra os cofres públicos e sem suas alianças com o negocismo usurpador.

Vou atalhando logo os patifes e os covardes desprovidos de qualquer sentimento para com a Pátria, que me chegam com a surrada objeção no sentido de que prego a execração da política porque sou um desafeto da democracia. Não sei se este argumento é mais tolo do que ridículo ou mais solerte do que falso ou tudo junto provindo de uma idiotice só. Minha aversão à desprezível classe política que aí está nasce justamente de meu arraigado senso democrático e da consciência de que ou destruímos estes vilões do bom regime ou jamais seremos uma Nação livre e verdadeiramente democrática.

Também não acredito naqueles que, se dizendo democráticos e defensores do estado de direito vigente, toleram que ambos sejam depravados para que nada arranhe suas confortáveis situações, mesmo que isso importe na indigência e na falta de condições mínimas de vida digna para a imensa maioria do povo.

Penso que esses falsos democráticos, são antes de tudo, pouco dotados de massa cinzenta ou que padecem de enorme obtusidade córnea, porque não conseguem enxergar que, mais cedo ou mais tarde, também pagarão alto preço por sua apatia e pusilanimidade. A deformação de qualquer regime de governo, seja qual for sua ideologia ou tendência, culmina com poucos – muito poucos - desfrutando e explorando todos, que cada vez têm menos e pagam mais e mais.

Lamento que o Brasil não possa, nos tempos atuais, ser brindado pela graça e pelo bom espírito do Barão de Itararé. Posso imaginar o que ele diria em relação a um carcomido cacique político mumificado por quase nove décadas de bandalheiras; a respeito de um líder esquizofrênico das Alagoas cansado de roubar dos cofres públicos; referentemente a um ladino poser que se arvora de sábio em tramoias e “trairagens” nacionais. Fico pensando como ele ridicularizaria o “Ogro de Garahuns” e sua criatura debiloide ou quanto deixaria exposta a desfaçatez de um “presidente surgido dos porões do Jaburu” ou a do mandante do “homem da mala”.

Tirante a rede mundial de computadores e esta tribuna em especial, a grande imprensa certamente não daria qualquer espaço para o Barão de Itararé que combateria, com muito humor e grande estilo, essa gente torpe que nos envergonha, e muito menos agora que está enlouquecida com a possibilidade de surgir um líder ou uma corrente de patriotas que, para começo de conversa, vá reduzir seus privilégios considerando o Brasil em primeiro lugar. Pobre País que há muito é vítima de antigas tramoias.


17 de março de 2018
Jose Mauricio de Barcellos ex Consultor Jurídico da CPRM-MME é advogado

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